O tonus

As festas aqui são conhecidas como tonus e ontem ocorreu a primeira. O tema era Chic'N Choc, ou seja, os participantes deviam ir trajados de forma chique, mas com um acessório choc. No meu caso o chique era o conjunto calça, sapato, gravata e camisa e o choc era um gorro, mas por algum motivo as pessoas achavam que minha gravata verde e azul era o tal acessório. A festa ocorreu numa boate a uns 7 km da escola e era possível comprar o ingresso junto com a passagem de ônibus. No entanto, quando eu comprei o meu só havia lugar no ônibus de 01:00, que era muito cedo para uma festa que começaria às 23:00. Resolvi que o melhor seria esperar até o bonde voltar a passar.

Antes da festa houve uma soirée aqui na residência. Algo meio como uma preparação para a festa. O ponche era liberado e eu francamente detestei, de forma que não bebi muita coisa. Às 23:00 fomos para a parada de bonde. Lotamos o transporte com aproximadamente 200 pessoas, das quais a maior parte estava completamente bêbada e cantando toda sorte pornografias impublicáveis. O engraçado é que pela manhã, durante a rentrée a diretora de comunicação da escola falou severamente que nós, estudantes da École Centrale de Nantes deveríamos nos portar civilizadamente e como cidadãos exemplares. As pessoas se entreolharam com aquela cara de "como vamos encher a cara"? Um vetereno nos contou que era simples, era só fingir que éramos alunos de outra escola. Dessa forma, quando a turba de centraliens entrou no bonde imediatamente começou a cantar "Audencia, allez! Allez! Allez"! Audencia é a escola de comércio e administração que fica do outro lado da rua.

Muitas paradas, algums problemas com a polícia e diversos cidadões pacatos incomodados depois, chegamos. A boate era extremamente longe da parada e fizemos uma caminhada bastante considerável. O espaço era muito mais ou menos, mas confesso que me senti mais à vontade do que em uma boate brasileira. Por quê? Porque é impossível ficar com vergonha, porque sempre tem alguma pessoa fazendo algo muito sem noção do seu lado.

Já haviam me dito que os brasileiros fazem a festa aqui porque enquanto as francesas dançam, os franceses tiram a roupa e ficam brincando entre eles. Achei que era brincadeira. Não é. Os caras ficam se agarrando, sem beijos, mas se agarrando. Pegam na bunda uns dos outros, usam lingeries por cima da roupa. Há também os que tiram a roupa e ficam só de lingerie. Teve inclusive dois que tentaram me encoxar, mas não adianta dizer que é por causa do meu cabelo grande, pois eu tava de calça e gravata! Vi poucos franceses tentarem alguma coisa com as mulheres e a festa foi um prato cheio para os brasileiros, sobretudo os cariocas, pois esses não perderam tempo. Por outro lado, acho que as mulheres aqui da escola não vão querer mais nada com os brasileiros, pois nossa reputação forjada ontem pareceu não agradar.

Saí da boate às 3:00. Ainda tentei entrar no ônibus sem convite, mas não consegui. Para estrangeiros e mulheres era mais fácil, mas não garantido. Mas para mulheres estrangeiras era praticamente certo. Resolvi voltar a pé, com alguns brasileiros após fracassarmos. Cheguei na escola após duas horas e quinze minutos de uma longa caminhada num friozinho de 10 graus sem casaco ou moletom. O pessoal não tava muito contente, mas eu com meu lado Poliana pensava que isso jamais seria possível no Brasil por causa da violência.

Há ainda um pequeno fato que merece ser contado para encerrar essa postagem com um viés de humor. Enquanto eu e alguns outros voltamos a pé e outros (um francês e um alemão) voltaram correndo, um paulista decendente de japonês utilizou um artifício esperto: pegou um tíquete de bonde, uma nota de 5 euros, fez cara de criança abandonada, chegou no ônibus e disse macarronicamente "I not speak french". Resultado final: ficaram com pena e levaram ele. O mundo realmente é dos espertos.

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