tag:blogger.com,1999:blog-5481946841814852722024-03-05T07:57:32.280+01:00Nantes tarde do que nunca!!!<b>Se você chegou aqui por conhecimento ou pelos caminhos tortuosos dos <br> nós
e arestas da rede, pouco importa. Aqui conto um pequeno trecho <br> da minha jornada sobre este mundo e espero que isso apazigue o <br> espírito de uns e informe a outros sobre os percalços e alegrias <br> desta caminhada.</b>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.comBlogger71125tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-23133812686601377062012-06-01T22:04:00.000+02:002012-06-01T22:04:34.957+02:003coisasO "Nantes tarde do que nunca" serviu a muitos propósitos.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Quanto ao objetivo inicial, que era ser um informativo prático àqueles que fariam ou desejavam fazer um intercâmbio na França, sinto que ele foi muito bem sucedido. Digo isso motivado pelos comentários que ouvi pessoalmente de todos aqueles que tive a oportunidade de encontrar na França e que, em maior ou maior grau, me deram a gratificante recompensa de saber que minha iniciativa havia sido útil.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O objetivo secundário era manter informados meus familiares e amigos e saciar suas dúvidas sobre minha vida de intercambista. Nesse ponto me considero igualmente bem sucedido, pois essas foram as publicações mais comentadas e que geraram maior fluxo de acessos no blog.</div>
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<br /></div>
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Mas o "Nantes tarde do que nunca" foi antes (ou Nantes) de tudo o embrião do meu pendor literário, que ao longo de dois anos vivendo uma experiência intensa e redigindo minhas impressões a respeito amadureceu e tomou forma e vida própria. Escrever tornou-se um hábito, um prazer e uma necessidade, três características que normalmente atribuímos (ou gostaríamos de atribuir) às nossas ocupações profissionais.</div>
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<br /></div>
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Os longos textos descrevendo minhas viagens e aventuras aqui evoluíram para narrativas curtas, de estilo cru e foco na subjetividade. Muitos dos textos que eu imaginava não se enquadravam no conceito do blog e isso me desmotivava a publicá-los aqui. Quantos textos eu abortei antes que pudessem ser escritos por causa disso...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dessa forma eu decidi criar um blog pessoal, sem nenhum propósito prático como este aqui tem. Ele serve para dar vazão aos meus textos. Isso não é o fim do "Nantes tarde do que nunca". Ele continuará aqui como repositório de boas histórias e dicas práticas e, quem sabe, escreverei aqui sempre que algo relacionado ao intercâmbio me vier à cabeça. É recompensador saber que, mesmo três anos após ter sido criado, ele ainda é acessado 500 vezes por mês!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aproveito o ensejo para divulgar o 3coisas, o meu novo blog e desejar uma ótima leitura aos que se aventurarem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3coisasblog.wordpress.com/" target="_blank"><img border="0" height="91" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp9CZkfeMsu8vfiB_jookIm_HuLM3QhfG9db4ip149QKIqZjELecKRb3BlL0R2wmXo-JRXnK6KxOyGKsfggQsoBJI_UnkQeeJkUD-cYi0ONtbU-_PVG8O_Qe6pNIvRaU-ZzkasGzsem9Yj/s320/3coisas_header.jpg" width="320" /></a></div>
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<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-41896499586135545382011-10-23T16:55:00.002+02:002011-10-23T16:55:43.114+02:00A burocracia de retorno<div style="text-align: justify;">
Uma vez eu escrevi sobre a burocracia de partida, todo o protocolo a ser seguido quando chegamos no nosso destino na França. Este é um texto prático e análogo ao primeiro, mas trata das burocracias de volta ao Brasil. Como todos já estão familiarizados com a burocracia brasileira - ou assim eu imagino - então trata-se muito mais de um pequeno lembrete do que de um guia de fato. Entretanto, vale a pena lembrar-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<b>Justificação de ausência em eleição</b></div>
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<br /></div>
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Fundamental para todos o que querem fazer concurso público, pois uma ausência não justificada nas eleições possui caráter eliminatório nas inscrições de qualquer concurso. O procedimento é extremamente simples. A justificativa deve ser feita até 60 dias após as eleições, todavia para residentes no exterior esse prazo passa a contar a partir da data de regresso, então fiquem de olho vivo para não perderem o prazo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo que você tenha perdido a data limite, ainda assim é possível regularizar a situação sem problemas pagando uma multa. O valor é bem baixo. Mais informações no site do <a href="http://www.tre-sp.gov.br/duvidas/votacao.htm">TRE-SP</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<b>Exercício de apresentação da reserva</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após o alistamento e a apresentação ao serviço militar, os reservistas são obrigados a realizar o exercício de apresentação da reserva durante cinco anos. Ele consiste em apresentar-se anualmente do dia 9 ao dia 16 de dezembro na sua Organização Militar (OM) para carimbar o certificado de reservista.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isso também é extremamente importante para aqueles que pretendem prestar concursos públicos, já que a quitação das obrigações militares é pré-requisito para todos os homens que desejam realizar concursos. Segundo o site <a href="http://www.exercito.gov.br/web/ingresso/servico-militar-obrigatorio">FAQ do Exército (questão 17)</a>, reservistas no exterior devem se apresentar na mesma data em uma Repartição Consular do país de residência. Eu não me apresentei em nenhum consulado e ainda não regularizei minha situação, pois ainda me faltam dois carimbos, mas acredito que ela possa ser regularizada mediante pagamento de multa.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<b>Renovação de carteira de motorista</b></div>
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<br /></div>
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Esse é provavelmente o caso de muitos intercambistas. Ao completar 18 ou 19 anos, durante o primeiro ano de faculdade ou último ano de colégio/cursinho muitos fizeram os exames para a carteira de habilitação, cuja validade é de cinco anos. Esse período expira mais ou menos na data do nosso retorno. Minha carteira estava vencida há 10 dias quando cheguei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O procedimento de renovação é bem simples e está descrito no site do <a href="http://portal.detran.ce.gov.br/index.php/renovacao-da-cnh#link3">DETRAN-CE</a>. O procedimento para outros estados deve ser análogo, acredito eu. Os documentos necessários são:</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<ul>
<li>Fotocópia do RG</li>
<li>Fotocópia do CPF</li>
<li>Fotocópia de um comprovante de residência datando de menos de 90 dias (lembrem-se desse prazo!)</li>
<li>Comprovante de pagamento da taxa. Esse valor para mim foi de R$102,08 e pode ser pago em qualquer agência do Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Casas lotéricas.</li>
</ul>
<br />
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Reabertura de conta bancária</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Alguns devem ter fechado suas contas bancárias brasileiras durante os dois anos de intercâmbio para evitar o pagamento de taxas ou por qualquer outra razão. Eu mantive minha conta aberta, pois era por ela que eu recebia minha bolsa do Banco do Nordeste. Ainda que ela não tivesse essa serventia, eu a teria mantido aberta do mesmo jeito para ganhar mais tempo como cliente do banco e, portanto, mais benefícios. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para aqueles que fecharam suas contas, lembrem-se de abrir uma nova conta. Se por ventura vocês desejam abrir no mesmo banco que antes, procurem informa-se se é possível resgatar os privilégios que vocês possuíam no momento do fechamento da conta antiga, ou quem sabe, resgatar a própria conta. O tempo de cliente é o principal indicador de confiança que os bancos têm das pessoas físicas. É ele que define os valores de cheque especial, limite de cartão de crédito e juros de empréstimos.</div>
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<b><br /></b></div>
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<b><br /></b></div>
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<b>Declaração de imposto de renda</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos de nós fomos declarados como dependentes de nossos pais para a Receita Federal. Essa regalia aplica-se em casos bem específicos. Nós nos enquadramos predominantemente no caso de estudantes universitários com menos de 24 anos, o que justifica a dependência. No meu caso, e no de alguns outros poucos intercambistas, retornei ao Brasil com mais de 24 anos e terei que declarar meus impostos no ano que vem por minha conta. Aqui vai uma breve lista dos casos de dependência e que eu encontrei neste site:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>1-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Companheiro (a)
com quem o contribuinte tenha filho ou viva há mais de 5 anos, ou cônjuge;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>2-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Filho (a) ou
enteado (a) até 21 anos de idade, ou, em qualquer idade, quando incapacitado
física ou mentalmente para o trabalho;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span class="Apple-style-span" style="background-color: #b6d7a8;"><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>3-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--></span><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: #b6d7a8;">Filho (a) ou
enteado(a) universitário ou cursando escola técina de segundo grau, até 24 anos
;</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>4-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Irmão (ã), neto
(a) ou bisneto(a), sem arrimo dos pais, de quem o contribuinte detenha a guarda
judicial, até 21 anos, ou em qualquer idade, quando incapacitado física ou
mentalmente para o trabalho;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>5-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Irmão (ã), neto
(a) ou bisneto (a), sem arrimo dos pais, com idade de 21 anos até 24 anos, se
ainda estiver cursando estabelecimento de ensino superior ou escola técnica de
segundo grau, desde que o contribuinte tenha detido sua guarda judicial até os
21 anos;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>6-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Pais, avós e
bisavós que, em 2007, tenham recebido rendimentos , tributáveis ou não, até R$ 14.992,32;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>7-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Menor pobre até 21
anos que o contribuinte crie e eduque e de quem detenha a guarda judicial;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: .25in; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list .25in; text-indent: -.25in;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span>8-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT-BR" style="font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Pessoa
absolutamente incapaz, da qual o contribuinte seja tutor ou curador.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />
Para todos os efeitos isso é algo que só vai influenciar o ano seguinte ao ano de retorno e não é uma preocupação imediata, mas não custa nada lembrar-<br />Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-42356067526361873012011-10-22T18:57:00.000+02:002011-10-22T19:33:00.385+02:00O processo de readaptação<div style="text-align: justify;">
Este texto abre um novo marcador do blog, o <i>guia de veterano</i>. Ele provavelmente conterá poucos textos (talvez apenas este), mas deve ser útil para aqueles que voltaram de programas de intercâmbio. Não que eu vá dar a solução dos seus problemas - seu eu desse, eu cobraria por isso, ora! - mas talvez ajude o leitor com dor de cotovelo dos seus tempos dourados na Zoropa a entender o que está passando na sua cabecinha ainda atordoada pela diferença de fuso horário.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A depressão pós-intercâmbio existe...</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
... mas não é nenhum bicho papão e uma hora, cedo ou tarde, acaba. Talvez por isso eu tenha demorado tanto para escrever este texto, que eu já planejava desde antes de partir da França, pois eu queria publicar minhas impressões apenas depois que eu tivesse mais segurança de que eu já havia superado esse processo. Acho que é chegado o momento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É verdade que a volta pro Brasil é desconcertante e pode ter N razões diferentes, então vou tratar aqui apenas do que valeu pra mim. Eu acreditava que chegaria aqui desacostumado com os hábitos, com a rotina, com as pessoas, que eu seria um estranho no ninho e viveria uma constante sensação de não mais pertencer a essa realidade, além de soltar expressões em francês a torto e a direito. Equivoquei-me. A impressão geral é de que eu nunca saí daqui. Tudo me parece banal, do ônibus ao supermercado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O desconforto então não foi causado por uma readaptação aos costumes brasileiros, mas à perda de algumas coisas que me eram muito caras. A principal foi o conceito de <i>casa</i>. Eu já reparara antes, quando voltei ao Brasil durante as férias, que eu chamava meu apartamento em Nantes de <i>casa</i> com muito mais facilidade do que este apartamento onde eu vivi durante vinte anos. Eu senti de imediato o incômodo de não poder organizar a casa da forma como eu gosto, não pode trazer visitas ou fazer refeições para os amigos, cosias que tinham se tornado tão naturais para mim em Nantes. Acho que esse foi o aspecto mais perturbador e o que me levou a cogitar durante um bom tempo a arrumar um emprego para me mudar para outro lugar sozinho ou com um amigo. A ideia continua, mas não com a urgência que havia antes e sim com a intenção de resgatar o que houve de bom da experiência de morar sozinho e com amigos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro fator de tensão muito grande foi o fato de eu ter voltado cedo - fui o primeiro brasileiro da minha turma a voltar por conta de decisões e imposições desatinadas do coordenador do programa na minha universidade. Meus amigos estão todos na França ainda, fazendo um estágio mais longo, aproveitando esse último semestre na Europa enquanto eu fui obrigado a voltar pro Brasil e recuperar cinco semanas de aula. A primeira atividade que eu fiz na universidade foi uma prova da disciplina mais difícil do semestre. A terceira foi outra prova. Não bastasse todo o alvoroço típico da vida maso-acadêmica de um estudante de engenharia - potencializada por cinco semanas de aulas perdidas - eu ainda estou às voltas com toda a burocracia para a validação das disciplinas que eu fiz na França e que me permitirá diplomar-me antes de completar uma década de universidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A influência do clima</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu me queixava muito do clima na Europa. Da escuridão invernal, do céu sempiternamente cinza, do frio... Costumava dizer que isso era um dos principais motivos para a minha depressão e desmotivação, que - vejam só - eram sempre mais intensas no outono e no inverno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu não estava errado. Nos primeiros dias eu vivi um período de disposição intensa, acordava-me naturalmente às 6h00 e ia com toda a disposição do mundo para a universidade. Tentei ver isso com imparcialidade, julgando talvez ser um <i>jet lag</i> positivo. Agora posso afirmar sem dúvida alguma que o clima do Ceará - ensolarado e mais quente que o inferno em dia de pane de ar-condicionado - é fundamental para o meu corpo. Mesmo, apesar da volta da preguiça e dos três toques seguidos no botão <i>Soneca</i> do despertador, eu vejo que meu rendimento médio é muito superior ao que eu apresentava na França.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
<b>A aceitação da tatuagem</b><br />
<b><br /></b><br />
Vamos falar de um assunto polêmico, a tatuagem. Isso agora é assunto de readaptação dos outros a mim. Eu achava que meus pais iam ficar horrorizados, mas aparentemente tudo se passou bem. Meu pai, que eu acharia que estaria me esperando no aeroporto com um facão pra arrancar-me o braço, ficou olhando o desenho, fez um comentário aqui e ali e só. Minha mãe soltou um "é linda, mas grande demais". Ok, <i>better than expected</i>.<br />
<br />
Na universidade tudo se passou bem. Via de regra aceitação positiva e entusiasmada dos meus colegas. Os dois professores que eu mais respeito no meu curso, meu orientador e a antiga orientadora dele, não ligaram e minha imagem para eles não foi prejudicada. Um outro professor fez alguns comentários jocosos mas num clima amistoso. Um quarto professor não fala nada, mas não consegue esconder os olhares enviesados de choque.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mudanças são inevitáveis</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A despeito do que eu disse antes, que a sensação é de que eu nunca deixei o Ceará, é evidente que mudanças acontecem. Lógico que tais mudanças são menos perceptíveis para os que voltaram, mas elas são visíveis ao menor olhar daqueles que ficaram. A maior parte é anedota pura: elas não têm importância, mas vale a pena falar delas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira diz respeito ao consumo de água. Na França quando você quer água basta colocar um copo debaixo da torneira e mandar ver. Eu tinha o hábito de tomar água após escovar os dentes, lavar as mãos ou durante o banho, de tal forma que beber um copo com água virou um hábito obsoleto. Como a água era da torneira eu só poderia tomar quente ou natural. Eu surpreendi minha mãe nos primeiros dias ao pegar o copo e beber água saída direto do filtro, sem refrigeração alguma.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A segunda também surpreendeu um pouco meus pais na cozinha. O meu paladar se tornou menos tolerante a açúcar e eu tenho uma vaga ideia da razão. Quando eu acordava atrasado para o estágio eu costumava tomar café da manhã no caminho, num McDonald's na estação de La Defense. Manobrar dois croissants, um copo de café e ainda colocar e dissolver açúcar era uma tarefa complicada, de tal modo que eu aboli o ato de adoçar o café para ganhar tempo e diminuir o risco de queimaduras enquanto corria com meu café da manhã nas mãos. Ao fim de duas semanas eu simplesmente não conseguia mais suportar café com açúcar e essa mudança no paladar se propagou para outros alimentos e bebidas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda sobre paladar... Meu pai costumava me recriminar por eu não gostar de vinho. Esse sermão era praxe todo fim de ano, quando ele me obrigava a tomar pelo menos um gole de vinho e/ou espumante durante as celebrações. Lembro-me que tive a impressão de que para ele o fato de eu ir para a França, onde provavelmente eu aprenderia a apreciar vinhos, era mais importante do que o diploma ou todo o resto. Existe uma discussão célebre que tive com meu pai há muitos anos atrás quando ele me ofereceu um cálice de vinho madeira seco (R$22,90 o litro) que tinha sido presenteado por uma amiga portuguesa e eu disse que preferia vinho Padre Cícero (R$9,00 por cinco litros). Eu de fato voltei com o paladar mais apurado para vinhos e já tive o prazer de tomar um tinto chileno excelente. E tive o "prazer" de tomar um vinho sangue-de-boi novamente e me perguntar como é que eu conseguia gostar daquele troço! Não me julguem pedante por este parágrafo, por favor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha família diz que eu voltei mais cuca-fresca, menos estressado, mais maduro. Isso é bom, talvez seja verdade. Talvez eu realmente tenha alcançado um estado de maior serenidade, de levar a vida com um pouco mais de humor e isso me faz um bem danado. Meus colegas não perdem a oportunidade de que eu voltei gay, segundo uns, ou mais gay, segundo outros. Essa é a desvantagem de ir para a França, a associação é imediata, portanto prefiram intercâmbios na Alemanha e vocês serão considerados mais machos ao voltar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-37177847365223720202011-09-26T03:28:00.002+02:002011-09-26T03:28:54.448+02:00O significado da tatuagem<div style="text-align: justify;">
Eu atrasei deliberadamente a publicação deste texto, mas nunca me passou pela pela cabeça deixar de escrevê-lo. Eu cheguei mesmo a prometer um texto sobre minha tatuagem no post da <a href="http://modolonantes.blogspot.com/2011/03/ressuscitamento-do-blog.html">ressurreição do blog</a>. Entretanto, eu deixei para escrever sobre isso agora que todos já a viram, já comentaram, já aprovaram entusiasdamente ou já desaprovaram categoricamente. Em suma, publico agora porque não vai mais causar bafafá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por que uma tatuagem?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sou nenhum fã especial da arte corporal. Não mais do que qualquer outra arte. E nem menos também. Sempre admirei e desde 2005 sempre quis ter uma, mas nunca encarei isso como um modo de vida, a despeito de (e com respeito a) todos os que vêem dessa forma. Entretanto, acho que uma tatuagem deve transcender a questão estética. É patético marcar o corpo permanentemente com algo que você apenas julga bonito. A nossa noção de belo evolui com o tempo e o que outrora parecia belo não é mais. Por isso queria algo que tivesse significado e um significado forte, não um simples blá blá pra justificar.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu estava decidido a voltar da França com uma tatuagem, mas não compartilhei isso com ninguém. Eu finalmente alcançara a maturidade que eu julgava necessária para fazer uma (e a coragem também). Agora só faltava o desenho. Inicialmente eu queria algo que representasse meu intercâmbio e todo o valor que ele pode ter na vida de um jovem de vinte e poucos anos. Ou algo que representasse o local onde eu morei durante esse tempo.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<b>A primeira idéia</b></div>
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<b> </b></div>
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Sou fã da estética celta, dos nós, das cruzes e sobretudos dos <i>trisqueles </i>e <i>triquetas</i>. Coincidentemente eu fui enviado para uma cidade com uma herança céltica ainda forte. Nantes, como já disse várias vezes antes, está inserida culturalmente, embora não mais geograficamente, na região da Bretanha, o berço de uma das seis nações célticas. Portanto, pareceu-me bem natural tatuar um símbolo celta. Pensei no <i>trisquele</i>, pois acho o seu significado muito rico e também o acho um símbolo muito bonito. Pensei em tatuá-lo no centro das costas.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPtxmPKG1eKGXIrjM0iawVRNTcna2sO9QBunSNDLe5_rljFV0DfUM7pB_blU_xZ2-CK534BN8oA_q0Iv0qrbW2_DlB-TTxAuTu5aRyZuTgk8T8stEdxd39bRU-A671Vi1mTik_AqQ_AcG9/s1600/Green+Triskele.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPtxmPKG1eKGXIrjM0iawVRNTcna2sO9QBunSNDLe5_rljFV0DfUM7pB_blU_xZ2-CK534BN8oA_q0Iv0qrbW2_DlB-TTxAuTu5aRyZuTgk8T8stEdxd39bRU-A671Vi1mTik_AqQ_AcG9/s1600/Green+Triskele.png" /> </a></div>
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<i>O trisquele</i></div>
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<br /></div>
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Apesar de tudo isso, não acho que o significado do símbolo fosse forte o suficiente para eu gravá-lo no meu corpo. Eu senti que eu deveria continuar procurando outro motivo para desenhar.</div>
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<i></i></div>
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<i></i></div>
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<b>Os faróis</b></div>
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<br /></div>
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Quando eu era pequeno, pequeno o suficiente para eu não ter nem idéia de quando isso aconteceu, eu vim uma foto que mexeu um bocado comigo. Ela estava à venda numa loja de decoração com temática naútica que existia num <i>shopping</i> bem conhecido aqui de Fortaleza. Aqui está ela:</div>
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<br /></div>
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<b> </b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_qcthWTyhoxvMgMQdQbm5C53oHvcBekQ9pbTMUBdaTEvs3wQGIqXg8S4ykjvn_5Zs4DhVyufKJVH6IGuwF_BT7wlLQ4-ePxN5cHF1K35zjFHMp1f2S9yrDbo2FX3IIo37pchmWQPf-GR/s1600/00010.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx_qcthWTyhoxvMgMQdQbm5C53oHvcBekQ9pbTMUBdaTEvs3wQGIqXg8S4ykjvn_5Zs4DhVyufKJVH6IGuwF_BT7wlLQ4-ePxN5cHF1K35zjFHMp1f2S9yrDbo2FX3IIo37pchmWQPf-GR/s320/00010.jpg" width="320" /></a></div>
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<b> </b></div>
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<b> </b>Se ponham no lugar de um moleque de seis anos ou menos e tentem imaginar com que olhos eu vi isso. Uma onda gigantesca contornando a base de um farol e prestes a engolir o guardião que desavisadamente posta-se do lado oposto. Se você me permite um curto de momento de divagação agora (um mais longo virá, prepare-se) as informações que eu tirei dessa foto devem ter sido:</div>
<ul>
<li>Os homens são frágeis e não são nada se comparados com as forças da natureza.</li>
<li>Faróis são algo resistente pra caramba!</li>
</ul>
<br />
<div style="text-align: justify;">
E eu devo ter esquecido isso logo em seguida, pois mais nada na minha infância me dá pistas a respeito da minha relação com faróis. Muitos anos passaram e eu ingressei na Escola Naval. Lembro-me bem que tivemos no fim do ano aulas sobre sinais e balizas e que um dos assuntos foram os faróis. Descobri então que cada farol é único, que dois faróis não compartilham o mesmo padrão de luzes, o mesmo sinal de rádio, a mesma geometria da torre e nem a mesma pintura. Cada um tem sua "impressão digital". Um dos nossos livros era a lista de faróis da costa brasileira, que eu lia com atenção durante as aulas de Navegação. Em algumas vezes em que fui à bibilioteca, além dos livros de aviação e os livros de fotografia de grandes veleiros, eu me peguei olhando fotos de faróis.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das lembranças mais nítidas que eu tenho desse ano foi o regresso do meu embarque na fragata F45 União. Tínhamos ido ao porto de Vitória no Espírito Santo e estávamos então nos preparando para entrar na Baía de Guanabara. Era um fim de tarde de outubro (isso não tem nada a ver com música do CPM 22) e o sol havia se posto há pouco tempo. Passávamos então ao lado do farol da Ilha Rasa, uma torre quadrada, branca e de arquitetura ibérica. E essa imagem nunca saiu da minha cabeça. Foi aí que eu descobri essa paixão pelos faróis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já como civil eu continuei cultivando essa paixão. Olhava fotos na internet e numa dessas ocasiões achei a bendita foto da minha infância. Ela foi tirada por um fotógrafo francês chamado Jean Guichard. Ele é bretão e as fotos mais conhecidas dele são - advinhem - de faróis bretões. É claro que tudo isso eu ignorava completamente e só fui descobrir na época em que eu me candidatava para o Duplo Diploma e já via Nantes como um objetivo, e não uma possibilidade. E foi nessa época que eu descobri a herança cultural bretã da cidade.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<b>O significado, finalmente</b></div>
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<b> </b></div>
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Por mais estranho que pareça os faróis nunca me vieram à cabeça quando eu pensava na tatuagem. Eu já possuía um livro de faróis da costa Atlântica da Europa na estante, uma foto do <a href="http://www.jean-guichard.com/index.php?main_page=popup_image&pID=82">Ar-men</a> pendurada há mais de um ano sobre a minha cama e fotos de faróis que me serviam de papel de parede no computador. Ironicamente a relação entre os faróis e a tatuagem me fugia continuamente. Foi de repente que eu me lembrei de tudo isso e percebi que além de ser algo de que eu gostava profundamente, era também algo rico de significado.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Eu aprecio bastante a estética da tatuagem japonesa, embora não seja lá muito atraído pelos significados da maior parte delas. Eu procurei um tatuador de Nantes cujo trabalho em tatuagens orientais me agradasse e lhe pedi um "farol em estilo japonês". Discutimos a tatuagem e quais elementos colocaríamos junto com o farol. E o resultado - após duas sessões de quatro horas realizadas em março e abril, um bocado de dor e muitos euros a menos - foi o seguinte:</div>
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<br /></div>
<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDHQLmD4Itgqd39ZSMDmid8ABEyRWHK_lx9z89pxmuSS84MGesdcrtTJT3yV5e3q8LnclNrAkvuCIqTUQu4k7ITlGg3GiQnO10TrEPEq_QePTh9c7y_e93AX8Bi64R8CYdKKQW0AZ_XLOd/s1600/Tatoo2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDHQLmD4Itgqd39ZSMDmid8ABEyRWHK_lx9z89pxmuSS84MGesdcrtTJT3yV5e3q8LnclNrAkvuCIqTUQu4k7ITlGg3GiQnO10TrEPEq_QePTh9c7y_e93AX8Bi64R8CYdKKQW0AZ_XLOd/s320/Tatoo2.jpg" width="212" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Tem um pouco de photoshop para aumentar o contraste e melhorar a compreensão do desenho</i> </div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Eu convido vocês a lerem novamente o texto sobre a <a href="http://modolonantes.blogspot.com/2011/03/ressuscitamento-do-blog.html">ressurreição do blog</a>. Existe uma parte dele - entitulada <i>Três coisas a lembrar </i>- em que eu falo sobre minha visão pessoal do mundo. Os elementos da tatuagem têm uma relação direta com cada um desses pontos. Elas também são dispostas de uma maneira lógica: o elemento mais visível sob a manga da camiseta corresponde ao ponto mais genérico, enquanto que o mais escondido (e mais pessoal) representa a idéia mais profunda.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<ul>
<li><b>A mensagem na garrafa - Ter uma vida plena de histórias para contar:</b> Nossas histórias são as mensagens que colocamos nas garrafas e atiramos ao mar.</li>
<li><b>O barco - A vida é feita de encontros:</b> Mas os encontros só acontecem se nos lançarmos ao mundo, representado pelo mar, e acharmos outras terras e pessoas (barcos).</li>
<li><b>O farol - Alegria e felicidade não são a mesma coisa:</b> A estabilidade do farol vai ao encontro das idéias de que a felicidade corresponde a um estado de equilíbrio, e não alegria.</li>
</ul>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Esse é o significado do panorama geral, dos elementos escolhidos e da maneira em que eles se relacionam. Entretanto, eu gostaria de divagar um pouquinho mais sobre o papel do farol nessa história toda.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Faróis são construções robustas, que aguentam provações fortes. Eles permanecem de pé apesar da fúria dos elementos ao redor e ainda assim são capazes de lançar uma luz sobre os problemas e sugerir um caminho a seguir. Essa é a imagem que muita gente faz de mim sabe-se lá por qual razão. Ela talvez tenha sido verdadeira (ou quase) por um bom tempo, mas durante os últimos anos eu fui bem menos "farol" do que eu gostaria de ter sido.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Essa é uma qualidade que eu gostaria de resgatar. Mais do que isso, é uma qualidade que eu gostaria de perenizar e não perder mais. Se as pessoas que me conhecem esperam segurança, confiança, tranquilidade e solidez de mim e eu gosto de oferecer isso, por que não gravar um lembrete para que sempre que eu me afaste desse caminho eu tenha como retornar?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Já ouvi várias pessoas dizendo que não é aconselhável tatuar-se em um lugar que seja visível no espelho para não enjoar do desenho. Porém, eu decidi mudar o local da tatuagem das costas para o braço. Eu sei que um dia eu me cansarei do desenho, que ele desbotará e tudo o mais, mas eu quero todo dia me lembrar de todo esse significado e manter essa atitude que me é tão cara.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Além disso, o braço direito é o braço que eu estendo para apertar a mão de uma pessoa e é também o membro com que eu toco o ombro de uma pessoa quando dou os "dois beijinhos". Ao fazer isso eu me obrigo a lembrar que junto com o braço estou oferecendo à pessoa um símbolo de segurança e tranquilidade e me obrigo a agir assim. No trabalho ou na vida pessoal, com o desenho coberto pela manga da camisa ou exposto ao sol, como profissional ou como amigo ou como amante, cada vez que eu estendo o meu braço eu ofereço junto segurança e tranquilidade. Todos os dias então, a cada aperto de mão ou beijo, eu tenho um sem fim de oportunidades de me lembrar do que eu sou, do que espero deste mundo e do que eu espero que eu seja e lembro-me de agir conforme a esse pensamento.</div>
Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-15621856031838338712011-09-12T21:12:00.003+02:002011-09-12T21:12:36.198+02:00O último blues<div style="text-align: justify;">
O blues é um estilo musical oriundo de ritmos dos grupos americanos de origem americana do sul dos Estados Unidos, sobretudo a Louisiana, uma antiga colônia francesa na América. O termo <i>blues</i> é bastante significativo e eu coloco aqui em seguida a definição que eu encontrei na wikipedia:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<i>The term "the blues" refers to the "blue devils", meaning melancholy and sadness</i></div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Melancolia e tristeza. O significado de certa forma combina com os assuntos predominantes do <i>blues</i>: o álcool, as mulheres e o próprio ato de compor e tocar o <i>blues</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou fã incondicional do estilo, do minimalismo que é capaz de transformar uma escala de cinco notas em algo tão rico de expressão e sentimento. Não nego que desde que comecei a tocar guitarra um dos meus maiores prazer é devanear, improvisar sobre uma harmonia <i>blues </i>por minutos a fio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando cheguei em Nantes na tarde de 26 de agosto de 2009, se eu me lembro bem, eu encontrei a cidade fervilhando com um festival de música e desportos náuticos. Nos inúmeros palcos espalhados às margens do rio artistas destilavam o melhor do <i>jazz </i>da região e de alhures. Eu rapidamente elegi meu palco preferido: o palco <i>blues</i>. Passei dois ou três dias orbitando ao redor daquele palco, um copo de cerveja barata na mão, nas pontas dos pés sobre os trilhos do bonde. Acho difícil imaginar um começo melhor para o meu intercâmbio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquilo me impressionou de tal maneira que eu decidi que estaria presente na edição seguinte e, como não poderia deixar de ser, assistiria aos shows do mesmo palco. Modifiquei as datas da minha viagem para poder comparecer ao festival. Mais uma vez saí de lá com uma boa dose de boas lembranças, a maior parte delas ao lado de pessoas queridas. Lembranças com gosto de cerveja e gosto de algodão doce e nutella. Lembranças quentes como as chuvas de verão que molharam a cidade durante o festival mas não me fizeram arredar pé dali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por mim eu assistiria mais uma vez o festival antes de deixar a França. Julguei que, tal qual as duas edições anteriores, ele se desenrolaria no último fim de semana de agosto. Mas nesse período fui ver o Roger, um dos grandes amigos que fiz ao longo desses dois anos, em Toulouse. Foi com certa tristeza que eu pensei no festival e como eu perdera a possibilidade de estar lá uma terceira vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No meu último fim de semana na França eu fui a Nantes para encontrar uma parte dos amigos que fiz por lá: meus irmãos adotivos, meus bixos, alguns dos meus colegas de turma brasileiros e franceses. Encontrei também os bixos dos meus bixos, uma quinzena de jovens tão deslumbrados e eufóricos quanto eu quando estava no lugar deles. Estes eu não convivi por mais do que três dias, mas deixaram um misto de saudade e, por que não, <i>blues</i> justo por saber que o tempo de convivência não passaria disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao chegar em Nantes eu tive uma ótima surpresa. Diferente do que eu pensava o festival neste ano aconteceu no primeiro fim de semana de setembro. Ali estava minha chance de assistir à minha terceira edição do festival e eu agarrei-a. Foi delicioso relembrar...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<ul>
<li>As primeiras palavras em francês, desajeitadas e tímidas, trocadas com os ambulantes.</li>
<li>A degustação dos quitutes senegaleses cujos ingredientes e métodos de fabricação (felizmente) só fui conhecer muito depois. Muitos deles eu ainda desconheço, para ser sincero.</li>
<li>A surpresa que tudo e qualquer coisa me causava, do horário do pôr-do-sol às placas de trânsito.</li>
<li>Os cheiros e sabores.</li>
<li>A música.</li>
</ul>
<div style="text-align: justify;">
Tal como um ciclo, meu intercâmbio terminou como começou. Isso não significa que o início e o fim foram iguais. Um acorde que inicia e termina a mesma música deixa duas impressões bem distintas em quem o ouve.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse foi meu último <i>blues </i>na França. Talvez não o derradeiro, pois nunca se sabe. A música não parou, existem outras coisas serem contadas. Este blog começou antes mesmo de eu viajar para a França, contando alguns dos meus perrengues com o financiamento. Acho natural que ele tenha continuação depois que eu volte, afinal o processo de radaptação faz parte da experiência e me sinto no dever de contá-lo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estamos saindo da fase do "Nantes tarde do que nunca" para a do "Ceará que eu vou me acostumar?". Não, o blog não vai mudar de nome! Mas nesta nova fase os questionamentos e os relatos vão ser ligeiramente diferentes.</div>
Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-65313160004088905962011-09-05T09:01:00.000+02:002011-09-05T09:01:18.942+02:00Competências para viver na França<div style="text-align: justify;">
Aqui vai um pequeno sumario das habilidades e competências que eu acho fudnamentais para viver na França como estudante pé rapado e boêmio:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1) Abrir uma garrafa de vinho com um sapato</div>
<div style="text-align: justify;">
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZuGfjtBffiE</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />Técnica testada, validada e aprovada no churrasco de sabado. Resultados muito bons.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2) Abrir uma garrafa de cerveja com QUALQUER coisa que estiver à sua mao</div>
<div style="text-align: justify;">
http://www.youtube.com/watch?v=UZNduJ4epl8&feature=related</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
3) Saiba cozinhar o minimo necessario. Se você é da turma que ano sabe sequer fritar um ovo, que tal começar aprenendo a fazer macarrao?</div>
<div style="text-align: justify;">
http://lifehacker.com/5805897/how-to-cook-pasta-correctly</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
4) Entenda onde você esta e com quem você se relaciona, principalmente se essas pessoas sao frenceses!</div>
<div style="text-align: justify;">
http://understandfrance.org/</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nao é facil, mas a gente tenta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-54915446855166642692011-08-21T18:08:00.002+02:002011-08-21T19:09:24.488+02:00Temporada das despedidas<div style="text-align: justify;">Nesta semana eu completarei dois anos vivendo aqui. E esta data anuncia também meus dez últimos dias deste lado do Atlântico. É muito complicado não viver com o contador regressivo ligado e uma infinidade de frases no condicional passado como "se eu tivesse..." ou "se houvesse..." se formam e desfilam na minha cabeça.
<br />
<br />No último mês estive em várias despedidas de outros estudantes, a maior parte deles colegas de amigos meus e com quem eu jamais cheguei a ter muita proximidade. Confesso que achava a reação, o pranto e a efusividade exagerados e achava que quando chegasse minha vez seria diferente. Foi então que ja mais de uma semana atrás eu passei meus últimos dias com a Ju. O baque foi significantemente maior. Difícil me separar de alguém com quem eu forjei uma amizade tão grande, que floresceu no calor infernal do verão parisiense e que se fortificou com as dores do inverno. Vi-me acompanhando-a ao trem que a levaria ao aeroporto e no último instante eu ajudei-a a pôr as malas no trem, mas fiquei na plataforma. Eu sabia que se eu fosse até o terminal de embarque com ela eu choraria. Fugi covardemente do pranto, queria nos proteger de ver um ao outro chorando e gravar isso como última lembrança nossa em Paris, justo nós que explodíamos em riso tão facilmente.
<br />
<br />Mas há três dias atrás não teve mais como fugir. Fui a um bar encontrar a Luana, uma amiga da Ju que ao longo deste verão tornou-se ela também uma amiga incrível. Com um sorrisão aberto e um bom humor a toda prova, ela entrou meteoricamente no grupo de pessoas que fizeram este intercâmbio valer a pena. Ela viajaria no dia seguinte a turismo e chegará em Paris no dia em que chego em Fortaleza. Era, portanto, nossa última oportunidade de nos vermos. A <span style="font-style: italic;">soirée </span>começou e se desnrolou como habitualmente, mas a razão de estarmos ali falou mais alto no fim. Passamos uns trinta minutos nos avraçando e chorando um no ombro do outro. Nos despedíamos e voltávamos a nos abraçar logo em seguida para mais pranto e juras de amizade eterna.
<br />
<br />Se existe algo que este intercâmbio me ensinou é que eu não sou feiro de pedra. Acreditem, eu pensava antes que eu era... Pensaca que era um cara resistente, vivido, fleumático. Não, não sou. Se levarmos em conta apenas esta temporada de despedidas eu devo ser mais um boneco do papel do que o soldadinho de chumbo que eu pensava ser. Como sempre, eu tento racionalizar, tentar entender a origem das minhas angústias. Ao longo destes dois anos eu fiz muitos amigos, sobretudo vindos da USP e da Unicamp. Eu cheguei "sozinho", o único cearense e estudante da UFC na minha turma de Duplo Diploma. Acho que minha dor é saver que voltarei igualmente "sozinho" e serei separado por no mínimo 2700 km de Brasil dos meus bons amigos daqui. Eu não terei o consolo de poder atravessar um corredor ou simplesmente trocar de sala de aula para encontrar alguém e reviver numa conversa as memórias compartilhadas do intercâmbio. Meus coelgas da UFC que fizeram parte da minha trajetória aui já se formaram e neste momento correm atrás de começar suas carreiras.
<br />
<br />Escrevo estas linhas sobre um banco da estação de trem do aeroporto Charles de Gaulle, onde espero para ver meus pais adotivos uma última vez. Eles partem a turismo para a China em poucas horas e esta é minha última oportunidade de vê-los. Espero poder dizer que eles foram para mim uma família de fato e o quanto isso representou. Estqs linhas são escritas com os olhos ainda inchados das lágrimas de ontem à noite, quando encontrei talvez pela última vez alguns colegas de Nantes que me acompanharam durante esses dois anos: Adrian, Igor, Luisa, Rodrigo, Vladimir. Estavam lá também colegas de outras cidades que também deixarão saudades: o Fredão e o Jóia. Sinto-me encabulado por ter chorado tanto ontem no bar e publicamente, transformando a comemoração do aniversário do Adrian em dramalhão mexicano. Tal qual a despedida da Luana, fui expulso do bar pelo segurança. Afinal, é mais fácil acreditar que eu não passo de um bêbado chorão do que aceitar que eu choro por uma tristeza genuína...
<br />
<br />Encontrei muita gnete especial aqui. Digo agora àqueles que me viram chorar, algo tão raro, que se eu me permiti chorar diante deles é porque eles fazem parte desse elenco de pessoas especiais.
<br />
<br />O trem dos meus "pais" chega em 10 minutos. Dobro a folha de papel ao maço que acabo de preencher completamente com este texto e guardo na mochila. Preparo-me pra outra despedida. Agradeço intimamente por ser feito de papel, e não de pedra. A pedra é perene, mas difícil de gravar, enquanto que o papel é a matéria mais adequada para a escrita e o registro da memória. No final das contas já não consigo dizer se sou eu que traço as linhas em uma folha ou se sou eu o papel onde a vida traça suas próprias linhas.
<br />
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<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-3520547616550666482011-08-06T10:52:00.004+02:002011-08-06T21:01:33.464+02:00Os post-its de La Défense<div style="text-align: justify;">Antes de começar a ler o texto, eu lhe convido a assistir esses vídeos.<br /><br />http://www.youtube.com/watch?v=qybUFnY7Y8w<br />http://www.youtube.com/watch?v=vjqIJW_Qr3c&feature=related<br /><br />O que eles têm em comum? É fácil descobrir ao primeiro olhar: são reações em cadeia. Esse tipo de fenômeno nos fascina e isso é inegável. Quantas vezes nós não ficamos boquiabertos ao ver a queda de uma única peça de dominó desencadear um espetáculo de proporções gigantescas? Ou mesmo a beleza e a espontaneidade de uma ahola num estádio de futebol. Não esqueçamos também que a fissão nuclear é uma reaçao em cadeia também. Todas elas começam de uma maneira simples: uma peça de domino que cai, um torcedor que se levanta, um neutron que se ejeta de um núcleo.<br /><br /><br />A França passa por um verão modorrento. O mês de julho foi marcado por temperaturas e chuvas outonais e o céu esteve permanentemente ocultado por um manto cinza. Os dois primeiros dias de agosto forma promissores, quentes e claros, mas o clima logo degringolou e cá estamos mais uma vez amargando um outono prematuro. Apesar de tudo, ainda é o verão e as pessoas saem de férias. As escolas estao fechadas e os escritórios estão com ar de cidade fantasma.<br /><br />De certa forma esse clima triste combina com La Défense: segundo maior distrito empresarial da Europa, um bloco de concreto em formato de pêra, atravessado por um sem-fim de túneis e vias expressas e onde espigões de vidro e aço sobem vertiginosamente a alturas impossíveis. Poucos lugares no mundo representam com tamanha perfeição as contradições da vida moderna. Um local onde o destino de bilhões e bilhões de euros oriundos da iniciativa pública e privada são decididos... Um local onde todos os dias meio milhão de pessoas se cruzam como em um formigueiro ... A maior parte delas chega confinadas como sardinhas em trens subterrâneos, isoladas do mundo graças aos fones de ouvido ou com a cara enfiada em um livro. Tantas pessoas, tantos encontros possíveis, tantos dáalogos em potencial e no entanto a quantidade de sorrisos e bons-dias trocados em tal ambiente beira o desprezivel. O exemplo típico de um local inóspito, inumano e frio.<br /><br />E há pouco mais de duas semanas, em uma das inúmeras torres do bairro, alguém fez algo diferente. Provavelmente um funcionario entediado, num escritório meio abandonado, liberado da pressão cotidiana graças às férias do seu patrão. Ele foi até sua janela e usando post-its, os bilhetes adesivos tão comuns no meio corporativo, ele criou um desenho no vidro. Do outro lado da rua, alguém na mesma situação e que provavelmente nunca viu o autor do desenho (ou cruzou com ele anonimamente num metrô) respondeu com outro desenho. Nas outras baias de escrióorio dos dois prédios outras pessoas viram essas manifestações e se lançaram elas mesmas no que agora esta sendo chamada de "A batalha dos Post-its de La Défense". E em tão pouco tempo os desenhos se multiplicaram, se complexificaram e ja ocupam toda a fachada dos dois prédios iniciais. A maior parte deles representa personagens de video-game ou desenhos animados, uma consequência nada surpreendente de um universo predominantemente masculino. Outros são mensagens amistosas para os vizinhos. Um outro expôs sua surpresa diante o absurdo da situação através de um imenso ponto de interrogação.<br /><br /><br />Não gosto do termo "batalha", pois lembra algo bélico. Existe beleza e poesia nisso. No meio de um ambiente taoáarido e frio, as pessoas começam a se comunicar assim, de uma forma tao singela, com pedaços de papel, averbalmente. Ignoram o rosto dos seus correspondentes, mas sao cúmplices ao compartilharem algo que provavelmente representa as boas lembranças de suas infâncias. Não, definitivamente isso não é uma batalha. É um diálogo. Uma conversa que a cada dia que passa vai ganhando cada vez mais interlocutores. Um burburinho que ja deixou os dois pequenos prédios nos limites do bairro e onde tudo começou para subir uma centena de metros, tal um passarinho, e contaminar as janelas de um arranha-céu de um gigante do setor energético francês. Um murmurio que percorreu os corredores da mesma torre e que atingiu as janelas do outro lado, janelas que estão voltadas diretamentes para a Esplanada de La Défense, o coração do bairro. Quem sabe em duas semanas esse vírus benéfico atravessará a esplanada e contaminará o resto do bairro. E um pedestre que perambula com o passo ligeiro se deterá para olhar esses lampejos de humor decalcados em vidro. E ficará um tempo nessa posição, estático e com um sorriso apontado pro céu, um verdadeiro obstáculo à circulaãao apressada e distraída dos demais. E estes se perguntarao o que pode existir de tao interessante la em cima e seguirao o seu olhar. Um encontro, um comentário, um sorriso, uma pequena descarga elétrica no sistema nervoso desta cidade. Um momento efêmero que desperta o olhar e nos faz ver que ainda existe vida e sentimento que podem brotar na urbe.<br /><br />Chove em La Defense, os casacos denunciam temperaturas outonais e o céu continua cinza como outrora, mas uma infinidade de fragmentos quentes e radiantes do verão se espalham por todas as partes de Paris nos sorrisos e nos corações daqueles que se deixaram contaminar. E eles entrarão nos trens apertados inconscientemente procurarao nos rostos dos demais passageiros alguém que compartilhe um desses fragmentos estivais.<br /><br />Chove em Paris.<br /><br /><br /><br /><br />P.S.:Se você está curioso para ver as fotos, acesse a <a href="http://courbevoie.blogencommun.fr/2011-08-bataille-de-post-it-a-la-defense/">notícia no Blog de Courbevoie</a>, a cidade onde tudo começou.<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-28392576949371355672011-07-05T19:57:00.003+02:002011-07-05T22:31:28.036+02:00Pentecostes en Vic-Fezensac<div style="text-align: justify;">Acredito que podemos dizer que no ano passado eu não era um verdadeiro fanfarrão. Ainda pouco habituado aos (maus) costumes da Fanfrale eu sentia prazer em tocar, mas não em ficar com os outros fanfarrões. Fosse pelos hábitos nojentos deles ou pela grosseria e violência gratuitas, eu evitava passar muito tempo com eles e inclusive deixei de viajar para tocar com a Fanfarra em alguns contratos e eventos. O principal evento que eu perdi ano passado foi o feriado de Pentecostes no vilarejo de Vic-Fezensac.<br /><br />O tempo foi passando e eu fui deixando de lado um pouco dessa seriedade exagerada que eu tenho. As coisas nojentas eram ao mesmo tempo uma maneira de afugentar os menos motivados e selecionar apenas os membros dedicados. Também era uma forma de manter uma aura de insanidade ao grupo, algo que mesmo tempo assusta e diverte. Os insultos nada mais são do que um ritual de passagem, àqueles que abstraem e levam a coisa na brincadeira é garantida a simpatia. Demorei um ano pra compreender que eu não precisava fazer tudo como eles faziam, que eu podia ser eu mesmo e que eu poderia aceitar as tradições do grupo e ser aceito ao mesmo tempo. Foi então que eu me decidi a aproveitar ao máximo as oportunidades de tocar e viajar com a Fanfrale no segundo ano.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">A Fanfrale depois do fim das aulas</span><br /><br />Como vocês sabem eu estou em Paris. Na École ficaram apenas os alunos do primeiro ano enquanto os do segundo e terceiro ano estão em estágio ou intercâmbio. Uma semana antes do feriado de Pentecostes os fanfarrões EI1 alugaram uma caminhonete e vieram a Paris, foi a oportunidade de reunir os fanfarrões estagiando na cidade e tocar na cidade. Tocamos na frente da Ópera e nos divertimos bastante, apesar da avareza dos parisienses nos dar uma gratificação minguada.<br /><br />Todos estavam muito agitados com a proximidade da Feria (festividade típica do norte da Espanha e sul da França) de Vic. Ou, como nós chamávamos simplesmente, Vic. Vic é um dos eventos-mor pra Fanfrale, rivalizando com o fim de semana do antigos, que chega a reunir mais de 50 fanfarrões de 10 gerações diferentes. No Pentecostes os fanfarrões de todas as gerações e de todas as partes da França, e até da Europa, se reúnem nesse vilarejo de quase 4000 habitantes, na região do Gers, de onde veio o célebre mosqueteiro D'Artagnan.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Fanfarrões, uni-vos!</span><br /><br />O que há de tão especial em Vic para que 120000 pessoas, quantidade 30 vezes superior à população normal, ocupem suas ruas durante quatro dias? A Feria de Vic é um das mais célebres ferias da França, com suas tradicionais touradas e festividades. Mas Vic é também o palco da competição nacional de fanfarras, que se se digladiam nas ruas da cidade diante de um público extasiado.<br /><br />A cada ano dezenas de fanfarras, estudantis ou não, vêm de toda a França para competir. Neste ano contamos inclusive com a participação de uma fanfarra belga. A competição sempre tem um tema e os grupos devem adaptar as fantasias e, se possível, as músicas ao tema. Neste ano o tema foi Gers, o nome da região. O tema pode ser usado livremente. Alguns exemplos:<br /><ul><li>A Bande à Joe, fanfarra da École Centrale de Paris, se fantasiou de mosqueteiros. Era uma fantasia previsível, mas felizmente eles foram os únicos a usarem.<br /></li><li>A fanfarra ganhadora, da qual não me lembro nem nome nem e origem, se fantasiou com perucas black power e roupas dos anos 70. A razão? Eles incarnaram os GERSons Five, uma alusão aos Jackson Five. O repertório deles seguiu os hits dance e funk da década de 70.</li><li>Nós aproveitamos a proximidade sonora de Gers com GRS (Ginástica Rítmica Desportiva) em francês e nos fantasiamos de ginastas. Blusinhas de alça, curtas e apertas, e collants de cores berrantes deram o ar da graça juntamente com fitas coloridas.<br /></li></ul>O concurso<span style="font-weight: bold;"> </span>leva em conta a qualidade musical do grupo, a criatividade da fantasia e a empatia com o público. Embora toquemos durante todos os dias, da hora em que acordamos à hora em que dormimos (ou entramos em coma alcóolico, o que vier primeiro), a avaliação é feita durante uma tarde, em que as fanfarra se revezam para se apresentar nos bares da cidade. Desta etapa são selecionados alguns grupos finalistas que tocarão durante a noite nos palcos montados na praça e receberão os prêmios no dia seguinte.<br /><br />Todas a fanfarras são alojadas no ginásio da cidade, a poucos passos do centro da cidade. A prefeitura fornece colchões e se ocupa igualmente de alimentar esse batalhão todo durante dois dias.<br /><br />Parti de Paris com mais três colegas de Nantes na tarde da sexta 10 de junho. Oito horas de estrada até Vic.<br /><br /><span style="font-weight: bold;"><br />A magia do sul</span><br /><br />Se existe uma festa no Brasil que se compare à febrilidade de Vic eu não tenho nenhuma dúvida de afirmar que é o Carnaval. Tudo está lá: o mesmo clima, a mesma bagunça, a mesma quantidade de álcool... O que muda é que não há axé nem samba animando a massa, mas as fanfarras. Quase todos os participantes da festa se vestem à moda do sul, do País Basco: roupa branca e lenço vermelho amarrado no pescoço.<br /><br />Acredito que seja muito mais divertido participar de uma feria assim como fanfarrão. Por onde você passa sempre tem alguém que vem brincar com você e dizer <span style="font-style: italic;">"fais pam-pam-pam dans ta trompette"</span>,<span style="font-style: italic;"> </span>que significa "faz pam-pam-pam no teu trompete". Por sinal isso é algo muito divertido: qualquer instrumento de sopro pro povo é trompete e qualquer instrumento de percussão é bumbo. Invariavelmente nós tocamos um pequeno tema de tourada e somos recompensados com bebida, às vezes um litro inteiro de cerveja. E se você recusa a bebida não é raro que os foliões a versem diretamente e à força pela sua garganta abaixo. Vestido como eu estava, com um collant super apertado e com uma tatuagem extremamente chamativa no braço e visível a quem quisesse, eu terminei sendo interpelado dessa maneira diversas vezes. Isso me obrigou a medir a quantidade diária de álcool consumida não mais em litros, mas em galões.<br /><br />Impossível narrar todo o fim de semana. Minhas histórias e sobretudo as histórias dos outros fanfarrões da escola tornariam este texto ainda mais fastidioso. Me limitarei então às mais engraçadas ou mais marcantes.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">A noite de sexta</span><br /><br />Chegamos por volta de 00:30 e éramos os últimos da nossa fanfarra a chegar. Nossos colegas tocavam no centro da cidade há algumas horas. Nos fantasiamos e partimos pra lá. Tocávamos numa espécie de marquise de uma casa antiga. Tinha muita gente por lá. Como chegamos muito tarde não aconteceu muita coisa. Digno de nota foi o fato de uma menina chegar em mim, falar "tatuagem bonita" e escrever o nome e o telefone dela no meu braço com pincel permanente.<br /><br />Quando voltávamos pro ginásio, por volta das 3h da manhã, eu passei através de uma nuvem de spray de pimenta lançado não muito tempo antes para controlar uma briga. Posso garantir que não é uma sensação agradável.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">O sábado</span><br /><br />Pela manhã acordei muito bem, visto que para mim a noite anterior fora bem curta. Dormir num ginásio de fanfarrões não é fácil, contudo. Cada um que chegava de madrugada inventava de tocar dentro do ginásio e das 3:00 às 10:00 da manhã eu posso garantir que sempre havia um grupo tocando no centro do prédio, embora os integrantes mudassem constantemente.<br /><br />Primeira constatação da manhã: o número de telefone e o nome marcados na pele não eram exclusividade minha. Eles estavam mais ou menos espalhados pela pele e roupas de uns cinco fanfarrões.<br /><br />Durante a tarde participamos do desfile e das apresentações nos bares. O percurso terminou na frente de uma banquinha que estava oferecendo cerveja grátis para todo mundo. Parada obrigatória para a Fanfrale, evidentemente.<br /><br />As lembranças da noite são mais fluidas e difusas, pois à cerveja ingerida ao longo de todo o dia somou-se o vinho servido no refeitório. Algumas das coisas eu só soube através de colegas no dia seguinte e vou adiantando agora. Lembro-me que tocamos num bar, o <span style="font-style: italic;">Maison Bleue</span>. Tocávamos sobre um palco e havia uma multidão por lá. Eu estava no centro do palco e na primeira fila e até onde eu me lembro tudo correu bem por lá, mas no dia seguitne eu ouvi os comentários dos meus colegas sobre uma confusão no bar. Como eu lembrava apenas do <span style="font-style: italic;">Maison Bleue</span> eu perguntei em qual bar tinha sido a confusão e fiquei surpreso de saber que fora lá que aconteceu. Um cara tentou subir no palco e um dos fanfarrões; um sujeito tímido, franzino e nem um pouco afeito à violência; o impediu. Na segunda tentativa o nosso colega deu um chute no peito do sujeito. Os amigos do cara tentaram subir no palco e aí a confusão começou. Boa parte dos integrantes da nossa fanfarra são ex-jogadores de rugby da equipe da escola e eu lembro-vos que o rugby não é nem um pouco delicado. Ninguém saiu ferido.<br /><br />Eu fiquei realmente surpreso de não me lembrar disso, mas súbito me lembrei que durante uma parte significativa da apresentação eu estava ocupado<span style="font-weight: bold; color: rgb(255, 0, 0);">***</span>. Dever ter sido engraçado pros expectadores verem um terço da fanfarra caída de bêbada fora do palco, um terço tocando, um terço caindo na porrada e eu no centro feliz da vida e aproveitando a apresentação.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">O domingo</span><br /><br />"P*** que pariu! Cadê meu saxofone? Tá aqui... Ufa!"<br /><br />"P*** que pariu! Cadê meu celular? Merda. Perdi."<br /><br />Assim começou meu domingo. Com dor na cabeça e um buraco negro mnemônico. Não conseguia achar meu celular, mas estava admirado de ter trazido o saxofone são e salvo. Tirei ele do estojo pra montar e partir pro café da manhã e mais impropérios me saltaram da boca:<br /><br />"Droga! Tem um cigarro preso nas teclas"<br /><br />"P*** que pariu!!!! Por que é que tem uma camisinha cobrindo o bico do meu saxofone???"<br /><br />Parti depois de tomar as medidas higiênicas cabíveis, não sem antes procurar uma nota de cem euros no interior do instrumento, sabe-se lá...<br /><br />Não fôramos selecionados pra fase final da competição, o que nos dispensava de qualquer obrigação no domingo. Dessa forma, nosso grupo custou um pouco a se concentrar e se organizar em algo digno de ser chamado de fanfarra. Tocamos pela tarde. Assistimos um pouco da apresentação das demais fanfarras e levamos o dia preguiçosamente.<br /><br />O tempo não ajudou muito e uma chuva se abateu sobre a cidade. Corremos para o ginásio para guardar os instrumentos e na correria me perdi do pessoal. Fui para o centro sozinho e sem sax. Não bebia, pois seria eu quem dirigiria na primeira parte da manhã no dia seguinte. Saindo do ginásio encontrei um cara e três mulheres e fiz amizade com eles. Eles vinham basicamente todos de Toulouse e arredores e uma das mulheres se casaria dentro de um mês. Eles me levaram com eles até o bar onde estava o noivo e eu terminei ficando um bom tempo por lá, conversando e passando uma noite tranquila. Assim terminou meu domingo e meu batismo de fogo em Vic.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Ferias e mais ferias</span><br /><br />Arrumei minhas coisas para ir embora e, surpresa, encontrei meu celular num bolso aleatório da mochila. Como eu disse antes, eu tinha que levar o carro de volta durante metade do caminho na segunda feira. Eu conduzi o carro e três cadáveres sob a chuva durante três horas e meia, algo em torno de 350 km, não sem antes passar por um controle de alcoolemia numa blitz na saída da cidade: zero. O cadáver dono do carro assumiu o resto do caminho quando ele estava devidamente ressuscitado.<br /><br />Cheguei em casa e larguei as coisas. Estava pronto pra dormir. O telefone deu os dois bips característicos de mensagem. A maluca que escrevera o telefone em mim me respondeu a mensagem que eu enviara no sábado de manhã. Batemos papo por um tempo e através dela eu descobri que existem inúmeras ferias do tipo durante todo o verão, uma mais promissora que a outra e quase todo fim de semana.<br /><br />Cheguei no trabalho e súbito me lembrei que um dos meus colegas mais jovens vinha de Toulouse. Perguntei a ele se ele conhecia Vic e pelo sorriso que ele deu eu antecipei a resposta: não só ele conhecia como acabara de voltar de lá. Nós discutimos e espontaneamente ele me convidou pra Feria de Bayonne no fim de julho.<br /><br />Que venha a próxima feria.<br />Que venha o próximo fim de semana febril.<br />E salve Vic.<br /><br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-37734958995694775252011-06-07T20:11:00.005+02:002011-06-07T21:45:36.150+02:00Nosso parceiro BobEle era sem dúvida um cara ordinário. Outros como ele podiam ser encontrados aos montes e em vários países do mundo. Para piorar ainda mais esa cultura de manada, todos tinham o mesmo nome: <a href="http://www.ikea.com/fr/fr/catalog/products/50148358">Duderö</a>. Mais uma luminária da Ikea, rede sueca artigos de mobiliário e decoração nos mesmos moldes que a Tok&Stok no Brasil.<br /><div style="text-align: justify;"><br />Foi então que ele cruzou com dois brasileiros e um russo e o seu destino mudou. Seu dono estava de mudança para a Bulgária, onde ele poderia continuar ganhando a vida apostando em competições esportivas sem a alta tributação que há na França, e estava se desfazendo de todos os móveis. Dois móveis para a cozinha, uma escrivaninha pro Vladimir, cortinas... estávamos levando boa parte do que restava quando ele apontou pra luminária e perguntou se gostaríamos de levar. Olhei para aquele treco e me perguntei "por que não". Gostei do design e naquela época eu tinha ambições de fazer do meu quarto um lugar com uma iluminação bem aconchegante, quase uma toca.<br /><br />Tenho que confessar que a luminária fazia boa figura no meu quarto e de fato criou o clima aconchegante que eu queria. Mas isso não era mais do que ela já havia feito até então. Era verão e ainda estávamos na euforia do apartamento novo. Não me lembro bem como a coisa toda aconteceu, mas em uma ocasião eu entrei no meu quarto, olhei pra luminária, peguei meus óculos espelhados-estilo-Ray-Ban-China e pus nela. Completei o figurino com uma camisa, um cordão de contas e um chapéu e chamei o Thiago. Era no mínimo inusitado, rimos, colocamo-la na varanda e tiramos algumas fotos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxlMZ7HmjBq6ZkcbL4aSTI9GlsC0ZrXFH6fEkReVCIo6jcV1TqCfthkngkaUJSRwGUxzEeGhyA8afehJepNMFRbfQzWbQba6jZlX1qPzNoTb7xiljwlom9kXMeVSOP1_x5-36c1Joxz9h/s1600/IMG_0780.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxlMZ7HmjBq6ZkcbL4aSTI9GlsC0ZrXFH6fEkReVCIo6jcV1TqCfthkngkaUJSRwGUxzEeGhyA8afehJepNMFRbfQzWbQba6jZlX1qPzNoTb7xiljwlom9kXMeVSOP1_x5-36c1Joxz9h/s320/IMG_0780.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5615545971314211858" border="0" /></a><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">O início de tudo</span></span><br /></div><br />Tão logo tiramos as fotografias eu a despi e ela voltou a ser a luminária que era antes. O estranho é que a partir de então eu não conseguia mais olhar pra ela no meu quarto sem lembrar o sujeito que fotografamos na varanda. Foi então que eu tive a revelação. Ali dentro jazia muito mais do que papel e metal, ali havia uma alma sedenta de novas sensações e de uma saída para a vida ordinária que levara até então. Dali em diante aquilo deixou de ser uma luminária e virou o quinto morador da casa. Agora só faltava batizar. A procura de um nome digno de uma fisionomia tão expressiva não tardou: Bob, o mascote da nossa república.<br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold; font-style: italic;"></span></span><br /></div>O Bob foi ganhando o seu espaço aos poucos. No início ele ficava sempre no meu quarto. Em seguida, com o início das atividades de integração do começo do ano letivo, ele foi incubido de um papel mais nobre. Nosso apartamento era um pouco complicado de achar para quem não conhecia o lugar devido a uma confusão nos números da rua. Para guiar nosso convidados ao lugar certo durante as soirées eu colocava o Bob aceso na varanda para chamar a atenção deles (e inevitavelmente dos vizinhos também).<br /><br /><div style="text-align: center;"><br /> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxF_d7GPCl7fg8PKzCXRYY9AQSncVwkk5aPdGKPMWusKx5Mqd4kLfkA-7R_uOA2WaSTluxyKdJmPMAeiRAMR5g5SY8qvTQtYPc_k5dpgPvj_RusI2jtyDYXfTgAEM_orLtiIj5dicBtgry/s1600/bob+polard.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxF_d7GPCl7fg8PKzCXRYY9AQSncVwkk5aPdGKPMWusKx5Mqd4kLfkA-7R_uOA2WaSTluxyKdJmPMAeiRAMR5g5SY8qvTQtYPc_k5dpgPvj_RusI2jtyDYXfTgAEM_orLtiIj5dicBtgry/s320/bob+polard.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5615545981799429394" border="0" /></a><span style="font-style: italic;font-size:85%;" ><span style="font-weight: bold;">Bob estudando com a gente para a prova de Motores<br /><br /></span></span> </div>Não tardou para que ele virasse o mascote da nossa república (<span style="font-style: italic;">coloc</span> em francês). Esta, inicialmente batizada de <span style="font-style: italic;">BHS Coloc</span> em referência a Brasil, Hungria e União Soviética, foi rapidamente rebatizada como <span style="font-style: italic;">Worldwide coloc</span> pelo fato de sermos a única <span style="font-style: italic;">coloc</span> da escola integralmente composta de estrangeiros e com quatro nacionalidades diferentes (húngara, russa, cearense e carioca - é geopoliticamente equivocado, mas culturalmente justificável, então não me corrijam!). Não foi preciso muito para que ela fosse rebatizada definitivamente como <span style="font-style: italic;">Coloc à Bob</span>, a República do Bob.<br /><br /><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigooBAi-fqu82Stw_Dw_jVwhOshCYd4QrEJNMojnq7j0dcKvOTDA4ssK_Nq8wIPQOK0MWpg9yq1I8XF9i_vJ5RLMGk47oaP-WY9SczboFxN4-iWMuYvegQoOi1eOOTjSnF9zRWhqp_NViN/s1600/IMG_0874.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigooBAi-fqu82Stw_Dw_jVwhOshCYd4QrEJNMojnq7j0dcKvOTDA4ssK_Nq8wIPQOK0MWpg9yq1I8XF9i_vJ5RLMGk47oaP-WY9SczboFxN4-iWMuYvegQoOi1eOOTjSnF9zRWhqp_NViN/s320/IMG_0874.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5615545979276580146" border="0" /></a><span style="font-style: italic;font-size:85%;" ><span style="font-weight: bold;">Bob em versão KGB</span></span><br /></div><br />Foi assim que o Bob nos acompanhou ao longo de um ano. Ele e sua silhueta bojuda, indício inegável de que compartilhamos o gosto pelos prazeres do lúpulo e da cevada. Ele foi o toque de irreverência da nossa casa. Talvez isso explique o surpreendente apego que eu senti a ele e do qual eu só me dei conta quando chegou o momento de me mudar para Paris. Sei que soa ridículo, algo como uma criança apegada ao seu ursinho de pelúcia ou ao amiguinho imaginário, mas esse boneco capenga, sem rosto nem membros, acompanhou tantos momentos bacanas da nossa república que eu me senti mal em abandoná-lo. Isso vai completamente contra o desapego budista que eu tento aprender, mas eu não pude resistir.<br /><br /><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn_YonaYiha7cTbzpHkqoxvfe5IU6yGJp86TnAFfOOfRK6x_xpLAVWU6F0G_n8kRGw9wV7q1yRfoEIlF17OYjMO_i-v8gZfLLnklI1CfzUMlGHcydYgYb3Ltai4XbWICmR2wK957InFuVj/s1600/DSCF3188.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn_YonaYiha7cTbzpHkqoxvfe5IU6yGJp86TnAFfOOfRK6x_xpLAVWU6F0G_n8kRGw9wV7q1yRfoEIlF17OYjMO_i-v8gZfLLnklI1CfzUMlGHcydYgYb3Ltai4XbWICmR2wK957InFuVj/s320/DSCF3188.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5615545992048768034" border="0" /></a><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">Bob in Paris<br /></span></span></span></div><br />O resultado: o Bob está aqui dividindo o apartamento comigo em Paris.<br />O plano: levar o Bob pra passear e tirar fotos, algo como o<a href="http://www.cenasdecinema.com/2008/12/os-10-momentos-mais-estranhos.html"> anão de jardim de "O fabuloso destino de Amélie Poulain"</a>. Por que não?<br /><br />Se você quer conhecer melhor o Bob, adicione ele no Facebook! Clique <a href="http://www.facebook.com/profile.php?id=100002408037895">aqui</a>.<br /><br /><br /><br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-17127722481496041192011-05-29T18:02:00.002+02:002011-05-29T18:35:22.233+02:00Chegando em Paris... e saindo de Nantes.<div style="text-align: justify;">Vou transcrever aqui um texto que saiu no Le Monde nesta semana e que trata do local onde eu fiquei durante meu primeiro estágio em Paris e onde ficarei a partir de quarta feira até o fim do meu segundo estágio.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">A Cité Internationale cultiva sua diversidade<br /><br /></span>(...) Fruto do<span style="font-weight: bold;"> </span>sonhoe e da espereança, é nada mais do que a Cité U, como Utopia. Ela nasceu no contexto pacifista do entre-guerras, respondendo ao ideal de André Honnorat, Ministro da Educação que desejava criar uma pequena cidade estudantil que agrupasse as futuras elites intelectuais do mundo a fim de facilitar o intercâmbio e o diálogo. Já que a Primeira Guerra Mundial ceifara a vida de um terço dos estudantes franceses, ele queria restitui a Paris o seu papel de capital intelectual.<br /><br />De 1925 a 1969, 37 pavilhões de uma capacidade de 47 a 390 alojamentos foram construídos por iniciativa de um país, uma escola ou de um filantropo nos 34 hectares do campus. O primeiro foi construído graças à iniciativa de um rico industrial, Émile Deutsch de La Meurthe, que ofereceu dez milhões de francos. A Casa do Canadá foi a primeira residência estrangeira (1926) e a Casa da Argentina (1928) a primeira não francófona. A Casa da Alemanha (1956) foi o primeiro prédio oficial desse país construído na França depois da Segunda Guerra Mundial e o primeiro sinal da reconciliação entre os dois países a ser gravado numa pedra.<br /><br />Todas essas casas constituem um panorama genuíno da arquitetura do século XX, algumas são até tombadas. Arquitetos renomados, como Le Corbusier com o Pavilhão da Suíça, contribuíram para fazer da Cité U um grande lugar de criação contemporânea, enquanto outro evocam a arquitetura de seus respectivos países como o Pavilhão do Japão ou o Colégio dos Ingleses. Grandes artistas como Sonia Delaurnay participaram da decoração de alguns deles. Várias instalações coletivas completam o conjunto, tal qual o teatro, e algumas são acessíveis ao público exterior.<br /><br />Com uma capacidade de 5300 alojamentos, a Cité dispões de um dos maiores parques imobiliários da região parisiense destinado aos estudantes. Ela acolhe todos os anos 10000 estudantes, pesquisadores e artistas de mais de 140 nacionalidades. Oitenta e seis anos após a construção de seu primeiro pavilhão, a Cité U(topia) continua fiel aos grandes princípios humanistas de André Honnorat, o que a faz um lugar único no mundo do aprendizado do respeito às diferenças e à vida em comunidade. Aqui a diversidade se expressa e se vive no cotidiano sob o signo da tolerância.<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-78952005776147860222011-05-23T18:54:00.003+02:002011-05-24T22:18:44.730+02:00Saindo de Nantes... e chegando em Paris<div style="text-align: justify;">Texto feito nas pressas e com o pouco de energia que me sobra a cada noite após voltar do estágio.<br /><br />Ando numa situação provisória bastante precária, dividindo um sótão até o fim do mês com o Thiago e a Patrícia, colegas meus de Nantes. O espaço é éxiguo, os choques da minha cabeça com o teto baixo são frequentes e a internet é pouco estável. Além disso, ando às voltas com os problemas gerados pela entrega das chaves do apartamento antigo: venda dos móveis e eletrodomésticos, limpeza da casa, etc. Infelizmente tenho que voltar praticamente a cada fim de semana, assim como o Thiago e o Vladimir, para colocar um pouco de ordem nas coisas, visto que a Katinka, que foi a única a ter ficado em Nantes, tem se mostrado de uma inaptidão completa para resolver um problema por menor que ele seja.<br /><br />Finalmente deixei Nantes, a cidade que foi meu lar durante mais de um ano e meio. Minhas opiniões a respeito são bem divididas. Se por um lado Nantes é uma cidade agradabilíssima para morar, com um sistema de transporte impecável, uma limpeza irreprimível e uma qualidade e custo de vida de fazer inveja ao resto da França, foi uma cidade que me ofereceu poucos momentos intensos de alegria. Talvez o clima nublado que predomina em quase metade do ano tenha sido uma das fontes mais importantes de desânimo, considerando os dois péssimos invernos que eu oasse...<br /><br />A população de Nantes é bem jovem pros padrões europeus, a cidade é cheia de escolas e universidades. A população universitária é muito ativa. Mas é predominantemente francesa. Isso sempre me deu a impressão de que a integração era mais difícil. Não a integração na escola, isso nunca foi problema para mim, mas a aproximação de desconhecidos, a criação de laços com pessoas fora do seu círculo habitual de convivências.<br /><br />Essa dificuldade é sem dúvida o maior contraste que eu vivi quando vim a Paris fazer meu primeiro estágio. Acredito que o fato de morar na Cité Universitaire, um campus imenso, cheio de residências universitárias, contando com mais de 2000 residentes predominantemente estrangeiros, tenha sido fundamental para criar a impressão de cidade cosmopolita que eu carrego até hoje. Em Paris, em pouco menos de dois meses, eu criei um círculo de amizades extra-cotidianas que eu nunca consegui superar em Nantes.<br /><br />Isso só se reforçou agora que eu estou de volta a Paris. Neste domingo eu fui encontrar dois amigos que faziam um piquenique aos pés da Torre Eiffel. Eles estavam num grupo de umas vinte pessoas, das quais eu não conhecia mais do que cinco. Me integrei brevemente com alguns poucos que estavma por lá. Outras pessoas chegaram. Meus amigos foram embora. Me integrei com os amigos das pessoas que eu conheci ao chegar. Em pouco menos de duas horas eu estava num restaurante comendo, bebendo e batendo um papo super legal e descontraído com pessoas que eu nunca vira antes. Saí dali com a promessa de reencontros futuros. Essa naturalidade em se aproximar das pessoas sempre foi o que mais me fez falta em Nantes.<br /><br />Entretanto, por mais que eu tenha me queixado tanto disso eu sinto falta da minha cidade. Dos poucos, e bons, amigos que eu fiz e que agora terei dificuldade em reencontrar. Das histórias que eu vivi, boas e más. Da minha bicicleta mágica que me trazia de volta ao fim de cada noite de boemia a despeito do meu equilíbrio e da minha memória. Do nosso apartamento que conseguimos com tanto esforço e cujos cômodos vazios preenchemos de móveis e memórias, vivendo de uma forma sem luxo, mas confortável e autônoma.<br /><br />Há pouco mais de um mês atrás eu recebi dois excelentes amigos meus de Paris: a Juliana e o Rodrigo. Eles passaram um fim de semana comigo em Nantes.Eles foram a quinta e última visita que eu recebi em Nantes em 20 meses. Eu lhes mostrei a cidade. Cada pedacinho que eu conhecia, cada fato histórico que eu tinha lido com tanto esmero na Wikipedia, cada curiosidade. Dava vida a toda a descrição, aos lugares por onde eu passara e que tinham deixado algum tipo de recordação. Talvez tenha sido o clima belo da primavera ou a proximidade da partida, mas muito provavelmente o que eu dizia não era mais do que a verdade pura e simples: Nantes é bela e sedutora ao seu modo. Não a sedução lânguida e cinematograficamente arrebatadora de Paris, mas uma atração sóbria e sólida, que se instala sem que percebamos, um amor que nasce da convivência e não da paixão. Meus comentários surpreenderam a Ju, tão acostumada com as minhas queixas sobre a capital do Oeste, mas eu posso garantir que o mais surpreendido de todos foi eu mesmo.<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-12324781792620226082011-05-02T23:45:00.003+02:002011-05-03T02:06:40.288+02:00Ski 2011Todos os anos a École organiza uma semana de ski no início da primavera. Ano passado eu cheguei a pagar o passeio, escolhi o ski entre as duas opções possíveis (a outra era o snowboard) e a poucos meses do evento eu cancelei para poder voltar pro Brasil pela primeira vez e recolocar meu eixo emocional no lugar. Não me arrependo de ter feito isso, pois eu realmente precisava, mas os comentários dos meus amigos sobre a semana me deixaram com uma pontinha de inveja. Quase todos tinham feito snowboard ("ski é coisa de viado", diziam eles) e eu me decidi a não perder a edição 2011.<br /><div style="text-align: justify;"><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Ski 2011</span><br /><br />Pois bem, cá estamos nós em 2011. Paguei um bom meio milhar de euros pela semana de ski. Tudo pago: alojamento, aluguel do material, hospedagem e alimentação. Diferença fundamental: desta vez eu escolhi snowboard. Algo me dizia que eu ia me ferrar mais do que se tivesse escolhido ski, mas por que não tentar?<br /><br />O local escolhido foi a estação de Val Thorens, próxima de Chambéry nos Alpes franceses, a estação de ski mais alta da Europa, situada a 2300 metros de altitude. Val Thorens se situa no Vale de Belleville, que comporta mais duas estações. Dois vales adjacentes com suas respectivias estações compartilham suas pistas com as estações do Vale de Belleville, o que faz do complexo o maior domínio esquiável da Europa.<br /><br />Em Nantes as temperaturas já passavam dos 20ºC na época da saída e o frio e a neve já pareciam coisas de outro mundo. Difícil imaginar que poderia haver neve para esquiarmos e isso era uma preocupação real. Depois de quinze horas dentro do ônibus, com direito a todas as idiotices que as pessoas fazem para manter todos acordados, chegamos em Val Thorens. As estações mais baixas já não apresentavam nenhum traço de neve, mas Val Thorens ainda parecia uma casa de bonecas no meio de um véu branco. Bendita idéia de escolherem a estação mais alta da Europa ou do contrário não teríamos neve.<br /><br />Preenchemos três ônibus, um total de 150 centraliens. Desse tanto, éramos onze brasileiros: seis EI2 e cinco EI1. Fiquei num quarto de cinco pessoas, com mais dois colegas brasileiros e dois franceses do primeiro ano que não conhecíamos até então. Chegamos lá no sábado dia 23/04 e nos instalamos. Em seguida recebemos as pranchas e as botas, que poderíamos usar a partir do dia seguinte.<br /><br />O hotel não era ruim, mas algo não me cheirava muito bem. A quantidade de cartazes agressivos era assombrosa:<br /><blockquote><br />"É proibido andar com sapatos de ski nas dependências do hotel. Caso você faça isso será penalizado com uma multa de 20 euros"<br /><br />"Qualquer atraso no check-out resultará em uma multa de 25 euros"<br /><br />"O barulho depois de 22h00 é proibido. A primeira ocorrência será penalizada com uma multa de 50 euros. A segunda resultará em expulsão"<br /><br />"Se você desejar fazer o check-ou entre 12h00 e 13h00 deverá pagar uma taxa adicional de 20 euros"</blockquote><br />Confessemos que não são mensagens lá muito calorosas. A impressão que eu tive é que o pessoal do hotel só queria ganhar dinheiro à toda custa. Isso também provocou uma impressão de antipatia intensa e a sensação de que algo não sairia bem. Eu não me enganei, mas deixo isso mais pro fim da história.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Quem tem cóccix tem medo</span><br /><br />Dos brasileiros que estavam por lá alguns já tinham experiência do ski do ano passado. O Thiago, o Roger e a Patrícia, todos do segundo anos, haviam feito snowboard. O Leo, do primeiro ano, já tinha feito snowboard no Canadá por dez dias e mais três dias de ski no começo deste ano. Os demais eram marinheiros de primeira viagem. Eu, o Fernando, o Fábio e a Ju no snowboard e a Fabrízia, o Diego e o Igor no ski.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyOVG0ttECi7abcoMPwciiIje21HXwjIm0Z-g5lkprMJmNCJbgtodS575IxcOc0vfkEC7naiOaMwYLdjFkFjhNjavSbgXOyvJnwaT0jNhl_ttq99HX12mGQ9zXw6srjv_t6d4hpfAsNpwE/s1600/ski.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 246px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyOVG0ttECi7abcoMPwciiIje21HXwjIm0Z-g5lkprMJmNCJbgtodS575IxcOc0vfkEC7naiOaMwYLdjFkFjhNjavSbgXOyvJnwaT0jNhl_ttq99HX12mGQ9zXw6srjv_t6d4hpfAsNpwE/s320/ski.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5602268588955588386" border="0" /></a><br /><br />Fomos para uma área de treinamento, basicamente a desembocadura das pistas mais próximas à estação.Era uma descida suave, reta e larga. Dezenas de pessoas passavam ali a cada segundo, inclusive criancinhas. Pensei que talvez não fosse tãããããão difícil assim fazer snowboard e que o equilíbrio que eu adquiri fazendo <span style="font-style: italic;">slackline</span> me ajudaria e então me arrisquei a descer sozinho sem nenhuma assistência prévia dos meus amigos mais experientes. Não é que funcionou?<br /><br />Mentira, foi um desastre. Eu não possuía domínio nem sobre a minha velocidade nem sobre a minha direção, ou seja, uma deriva total, um perigo ambulante. Para evitar uma trombada com alguém eu me atirava no chão e deixava o atrito se encarregar da frenagem. Fiz duas passagens como essa até baixar a cabeça e aceitar que eu tinha que pedir ajuda a alguém.<br /><br />O Roger então me explicou o princípio. Antes de andar eu tinha que aprender a freiar, ou melhor, a descer a rampa com a prancha perpendicular ao sentido da descida, cravando a lâmina metálica da parte de trás da prancha na neve. Acreditem, isso é muito mais difícil do que parece. Uma distribuição equivocada do peso corporal e você toma para trás. Um deslize qualquer que faça a lâmina na frente da prancha cravar na neve e você capota desastrosamente para a frente.<br /><br />Próximo passo: a folha. Imaginem a trajetória de uma folha caindo de uma árvore: ela oscila de um lado ao outro, mantendo a mesma superfície voltada para baixo. Pois bem, essa é uma das maneiras de conduzir o snowboard. A pessoa desce um tantinho para a esquerda, com o corpo voltado para a descida e depois desce para o outro lado sem jamais dar as costas para a direção que está descendo. Ora o pé esquerdo está na frente, ora o pé direito e o corpo sempre virado para a frente. Isso é extremamente amador, mas não há alternativa para os iniciantes.<br /><br />A maneira "correta" de descer é o S. Como o próprio nome sugere, ela consiste em traçar uma trajetória em forma de S. Assim como na folha descemos um pouco um lado por vez, mas a diferença é que a pessoa mantém o seu pé forte sempre na frente. Isso significa que em alguns momentos freiamos com a parte de trás da prancha com o corpo voltado para a descida e em outras com a parte da frente com as costas voltadas para a descida. O principal problema durante o aprendizado dessa técnica é o momento da transição de um lado para o outro, é muito fácil cravar as costas do snow na neve e atterisar feito uma jaca com as costas e a nuca no chão. Caro leitor, cara leitora, a neve é bonitinha, é branquinha e parece fofinha, mas trombar com ela numa queda não tem nada de fofo.<br /><br />As pistas de ski são graduadas por cor. As pistas verdes são as mais fáceis, seguidas pelas pistas azuis. Em seguida vêm as pistas vermelhas, que apresentam alguma dificuldade por causa de uma inclinação elevada ou uma quantidade grande de obstáculos (desníveis, buracos, etc...). Por fim, no topo da escala de dificuldade vêm as pistas pretas.<br /><br />Basicamente eu começava o dia numa pista verde chamada Espace Juniors em cuja entrada estava uma placa com os dizeres "pista reservada para crianças menores de 12 anos e seus acompanhantes". É triste, eu sei, mas é o que meu nível permitia naquele momento. É extremamente desconcertante ver uma criança de chupeta na boca (estou falando sério!) descendo uma pista azul de ski enquanto você está no chão cheio de neve na cara depois de uma queda...<br /><br />Depois de aquecer nas pistas verdes eu era capaz de descer as azuis. Lentamente e em folha, claro. Com alguma dose de coragem e boa vontade eu conseguia fazer o S em alguns trechos mais planos e menos velozes. Consegui até descer uma pista vermelha no quarto dia. No quinto e penúltimo dia, infelizmente, ao tentar fazer o S numa pisa azul eu caí com o cóccix diretamente no chão.<br /><br />O cóccix, meus amigos, juntamente com as amígdalas e o apêndice faz parte daquela categoria de órgãos que deixaram de ter função e são apenas vestígios do que foram um dia. Eles têm, entretanto, uma particularidade: posto que eles não servem pra nada de útil, eles ainda são partes do nosso corpo e como tal estão sujeitas ao dano e a dor. O cóccix, esse nosso rabo vestigial, não mais do que 10 cm de osso composto por vértebras fundidas num único elemento é um caso exemplar disso. Situado no fim da coluna vertebral, na região sacra (alguém pode me explicar porque raios o alto da bunda é sagrado?!), ele é provavelmente a parte que vai sentir mais fortemente o impacto de um tombo de bunda no chão. E comigo não foi diferente.<br /><br />A dor, meus amigos, é inimiga da confiança. E a falta de confiança leva a uma técnica imperfeita, limitada pelo medo. Eu caí numa pista extremamente longe da estação e não era capaz sequer de fazer a folha tamanho era o medo de sentar mais uma vez a bunda no chão e sentir uma dor escruciante. Resultado: desci a maldita pista freiando e levei três horas para voltar ao hotel.<br /><br />Entretanto, no último dia de ski lá estava eu de novo. A despeito da dor na bunda eu recuperei a confiança e já conseguia me virar bem. Foi a primeira vez que eu consegui descer uma pista azul integralmente fazendo o S e foi a oportunidade perfeita para me filmar fazendo isso e passar a ilusão de que eu não era uma negação completa no snowboard. Uma queda de bunda no meio da tarde me fez dar-me por satisfeito e encerrar o dia antes que eu quebrasse o rabo.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Dando adeus aos mercenários do hotel</span><br /><br />A noite do último dia foi regada a cerveja numa pequena soirée entre brasileiros. Nós terminávamos todos os dais tão esgotados que nem passava pelas nossas cabeças participar dos eventos organizados pelo staff. A fadiga era tão intensa que nada além das nossas camas passava pelas nossas cabeças. Como não esquiaríamos no dia seguinte finalmente pudemos nos regalar um pouquinho. Entretanto, ainda faltava arrumar os quartos para o check-out.<br /><br />Nós arrumamos as coisas por cima antes de dormir e deixamos para o dia seguinte apenas a limpeza do chão. Nosso check-out estava marcado para as 9:30. Nosso quarto era um dos únicos que não tinha carpete. O materail de limpeza disponível se limitava a um aspirador de baixa potência, uma vassourinha de mão e um balde com um esfregão. Limpamos o melhor que podíamos, mas visto que não tínhamos um produto adequado para lavarmos o chão nos limitamos a aspirar.<br /><br />A recepcionista chegou no nosso quarto às 9:25, entrou rapidamente, olhou e foi embora sem dizer uma palavra. Às 9:37 ela voltou para a vistoria e a primeira coisa que disse foi que o chão estava nojento e que teríamos que limpar. Por que não disse isso quando passou lá cinco minutos antes? Retrucamos dizendo que não tínhamos o produto adequado para isso e ela respondeu cinicamente que o produto estava à venda por 6 euros na recepção. Ela disse também que já tínhamos 7 minutos de atraso e que se ainda fôssemos limpar o chão levaria mais 10 minutos no mínimo e que, portanto, ela ia nos multar em 25 euros pelo atraso. A discussão começou...<br /><br /><blockquote>Igor: Isso é abusivo!<br />Recepcionista(mulher): Vocês conheciam o regulamento e deveriam ter respeitado.<br />Igor: Vocês fazem isso para ganhar dinheiro!<br />Recepcionista (homem): É assim que nós somos.</blockquote><br /><br />Éramos o último apartamento do andar a ser vistoriado. Os outros já haviam deixado o andar e muitos foram deixando os sacos de lixo no corredor. O recepcionista viu aquilo e reclamou. Minha vez de responder.<br /><br /><blockquote>Angelo: Esse lixo não é nosso. Você não pode nos culpar por ele.<br />Recepcionista: Vocês são um grupo, eu não me importo se foram vocês ou os colegas de vocês. Esse lixo tem que sair daí.<br />Angelo: É absurdo nos mandar retirar esse lixo.<br />Recepcionista: Você tá vendo mais alguém no andar? Só sobrou vocês. Vocês vão ter que tirar.</blockquote><br /><br />Terminamos tendo que limpar o chão, o que fizemos apenas com água e evacuar todos os sacos de lixo do andar, sabendo que nenhum deles era nossa responsabilidade.<br /><br />Felizmente, ou não, não fomos o único grupo prejudicado. Outros passaram por situações ainda piores. O staff ski então puxou a responsabilidade para si e pagou as multas de todos os grupos penalizados por atraso.<br /><br />Por curiosidade procuramos o tal hotel no Trip Advisor quando voltamos para Nantes para saber as opiniões a respeito. O conceito era péssimo, desaconselhado por 77% dos treze usuários que haviam comentado.<br /><br />Acredito que tenha sido esse o único ponto negativo de toda a semana de ski, pois o cóccix se recupera mas o azedume causado pela equipe do hotel fica um bom tempo....<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Considerações finais</span><br /><br />Eu entreguei o snowboard com um lado sensivelmente mais desgastado que o outro (o lado de trás) por causa do uso intensivo em folha e de algumas passagens não voluntárias sobre pedra ou gelo.<br /><br />As luvas que eu usei foram diretamente para o lixo no fim da semana. No fim do primeiro dia cada uma delas tinham um furo de aproximadamente 1 cm de diâmetro na camada mais externa no centro da palma, frutos de várias quedas e tentativas desesperadas de freiar com as mãos. Os furos foram crescendo em superfície (mais ou menos um centímetro por dia) e profundidade (no fim da semana os furos atravessaram todas as camadas).<br /><br />Aparentemente eu voltei mais magro do ski. Pelo menos eu não me senti tão desconfortável com o meu corpo ao me olhar no espelho, não tanto quanto antes da semana na montanha.<br /><br />O cóccix vai bem, obrigado. No dia da lesão eu não conseguia me sentar. Pegar os teleféricos era um suplício, visto que os assentos eram duros e o balançado provocava um impacto bem desagradável. Pela noite tive que dormir de bruços. No dia seguinte já estava consideravelmente melhor, até que caí de novo. Apesar da queda ter sido suave, foi o suficiente para resgatar a memória da dor e me fazer parar. Maldito seja o cóccix.<br /><br />O nome do hotel é Odalys Siveralp. Xinguem muito no twitter. Para maiores informações e declarações apaixonadas de ex-hóspedes clique <a href="http://www.tripadvisor.co.uk/ShowUserReviews-g196716-d290298-r21013439-Silveralp-Val_Thorens_Savoie_Rhone_Alpes.html">aqui</a>.<br /><br /><br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-68566953321703232332011-04-04T10:02:00.003+02:002011-04-04T11:18:53.864+02:00Promessas para Paris 2011<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">Post escrito com teclado francês. Perdoem-me pela ausência de alguns acentos. Tudo sera corrigido um dia, ou nao.</span><br /><br />Sabe aquelas promessas de fim de ano que você nunca cumpre? Pois é, este post é mais ou menos isso. O grande problema dessas promessas é que nos a fazemos para nos mesmos e ai a auto-indulgência é bem grande.<br /><br />Tenho uma série de planos para quando estiver em Paris... Sao meus ultimos meses na França, embora eu quisesse fazer um estagio mais longo. Entretanto, a politica da UFC em relaçao aos estudantes em intercâmbio esta se tornando cada vez mais intransigente (para nao dizer burra) e eu terei que fazer um estagio com a duraçao minima possivel. Portanto, quero utilizar bem esse tempo, bem como a chegada da primavera e do verao, para colocar algumas necessidades e desejos em dia.<br /><br />Para nao cair na espiral da auto-indulgência e esquecer meus planos antes do fim da primeira semana eu decidi publica-los. Fica mais dificil escapar de uma promessa quando outras pessoas estao cientes dela. Considere isso como um mecanismo que eue stou experimentando para ser mais disciplinado. Aqui vao as promessas.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">1. Eu vou cuidar da forma fisica</span><br /><br />Eu detesto correr. Detesto com todas as minhas forças. Acho um exercicio chato, desinteressante. Ainda mais que é preciso correr mais de 20 minutos (em geral uns 40 minutos) para que o exercicio seja efetivo. Passar quase uma hora da minha vida correndo é um suplicio enorme.<br /><br />Entretanto, eu tinha uma boa condiçao fisica quando deixei a Marinha. Nada formidavel, mas aquele foi o auge da minha forma. Deixando de lado os obvios beneficios estéticos e as consequêncis sobre o meu ego, aquilo me fazia um bem danado. Em seis anos eu perdi, com bastante eficiência diga-se, todo o condicionamento que eu consegui em um ano de sacrificio revigorando o corpo no exercicio além de acumular um buchinho de <span style="font-style: italic;">chopp</span> e alguns pneuzinhos. Por que nao aproveitar o tempo bom e os parques parisienses para retornar à boa forma?<br /><br /><u>Metas:</u><br /><ul><li>Correr no minimo três vezes por semana em sessoes de no minimo 40 minutos</li><li>Recuperar a marca de 2400 m em menos de 12 minutos</li><li>Recuperar a marca de 8 barras em posiçao supinada</li><li>Alcançar a marca de 5 barras em posiçao pronada<br /></li><li>Alcançar a marca de 40 flexoes de braço consecutivas</li></ul><span style="font-weight: bold;"><br /><br />2. Eu vou viajar</span><br /><br />Viajar sempre foi muito desestimulante quando a origem da viagem era Nantes. Apesar de ser a quarta metropole francesa, Nantes sofre uma deficiência terrivel de voos <span style="font-style: italic;">low cost</span> pro exterior, uma necessidade basica de todo estudante estrangeiro avido de viagens. Para sair do pais é necessario antes desembolsar no minimo 50 euros (preço da passagem de ida e volta em trem de Nantes a Paris) para chegar em um aeroporto bem servido de voos de baixo custo. Isso sempre foi um fator desencorajador para fazer viagens para lugares mais afastados. Além disso, para uma viagem dessas valer a pena era necessario que fosse longa, o que me desagrada. Eu começo a me sentir desconfortavel apos 4 ou 5 dias de viagem e acho que isso é o mimite para mim.<br /><br />Enquanto estiver em Paris estarei mais proximo de um bom aeroporto e sera muito mais facil fazer pequenas viagens durante o fim de semana. Pretendo visitar alguns lugares que, para mim, nao podem deixar de ser visitados antes de voltar ao Brasil.<br /><br /><u>Metas:</u><br /><ul><li>Passar um fim de semana em Amsterdam</li><li>Passar um fim de semana em Barcelona<br /></li><li>Passar um fim de semana em Berlim</li><li>Passar um fim de semana na Escocia</li><li>Passar um fim de semana emLisboa</li><li>Passar um fim de semana em Roma</li></ul><br /><span style="font-weight: bold;">3. Eu vou ser menos estressado</span><br /><br />Sempre tem uma promessa impossivel e nao podia faltar uma na minha lista. Eu sou um cara estressado. Ponto. E frequentemente bem ranzinza também. Me falta um pouco desse espirito surf-zen-budista de Jah que sem duvida me impediria de morrer de infarto aos 45 anos. Boa hora para começar a me educar nesse sentido. As metas aqui sao mais dificeis de determinar, pois sao extremamente subjetivas. Elas implicam em mudanças de comportamento edevem ter um impacto direto sobre a minha qualidade de vida e bem-estar pessoal, o que as torna bem peculiares.<br /><br /><u>Metas:</u><br /><ul><li>Manter uma relaçao amistosa com meus vizinhos de residência. Procurar me integrar com eles.</li><li>Conhecer novas pessoas, pois a maior parte dos meus conhecidos em Paris foi embora.</li><li>Sair mais. Ir mais vezes a boates.</li><li>Aprender a dançar alguma coisa. Nota: sei que vou me arrepender desta meta.</li><li>Dedicar ao menos 2h por semana ao slackline ou ao malabarismo.</li><li>Dedicar ao menos 2h por semana ao saxofone.</li><li>Retomar o estudo de auto-hipnose e voltar a aplicar para combater a insônia.</li><li>Iniciar o estudo de budismo e zen. Aplicar os conceitos aprendidos se possivel.</li><li>Deixar sempre uma cervejinha na geladeira, pois ninguém é de ferro.<br /></li></ul><br />Agora ta na rede e eu nao tenho mais como fugir. Quando estiver em Paris vou me lembrar de que eu compartilhei essas "obrigaçoes" com vocês e me sentirei moralmente obrigado a segui-las.<br /><span style="font-style: italic;"></span></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-7786642594452317232011-04-01T19:18:00.007+02:002011-04-08T13:23:40.466+02:00Stage Ingénieur<div style="text-align: justify;">Se você lembra da maneira como eu consegui meu estágio do primeiro ano e acha que foi inusitada (se não lembra, relembre <a href="http://modolonantes.blogspot.com/search/label/sem%20no%C3%A7%C3%A3o">aqui</a>), sente-se na sua cadeira, pegue algo para comer e prepare-se para ler o que vem por aí.<br /><br />Uma história cheia de reviravoltas, despedidas, encontros casuais, futebol, álcool, tatuagens, romance e mais álcool.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Um verão em Paris</span><br /><br />Como não podia deixar de ser, minhas histórias começam com um (longo) preâmbulo e esta aqui não é diferente. Em julho do ano passado eu me mudei para Paris para fazer o meu estágio operário. Seriam dois meses na capital francesa, explorando a boa vontade e hospitalidade do Rômulo, que topou dividir o quarto de 9 m² dele comigo por esse tempo todo. Acho que a nossa sina é dividir espaços exíguos, pois uma vez tivemos que dividir por quatro dias uma barraca de supostos dois lugares durante o Encontro Nacional do Programa de Educação Tutorial (ENAPET).<br /><br />Cheguei em Paris numa sexta feira, já perto da meia-noite. Numa recepção super efusiva, o Rômulo, o Nathan e o Luíque, meus colegas da UFC, conseguiram rasgar minha bermuda no fundo ao me lançarem repetidas vezes para cima. Estava lá também o Carlos Breno, mais conhecido como CB, um camarada de Colégio Militar que eu não via há séculos. Eu disse que a vida é feita de encontros, mas às vezes alguns desencontros valem a pena de serem contados. Eu e o CB viemos para a França na mesma época, mas ignorávamos os rumos um do outro. Por acaso ele era colega do Rômulo e do Nathan em Paris. Quase seis meses depois de instalado em Nantes eu descubro com o Rômulo que o CB estava lá. Tivemos vários desencontros, pois ele estava sempre viajando nas épocas em que eu podia ir pra Paris, mas finalmente nos encontramos naquela sexta feira. Detalhe: ele partiria em definitivo para o Brasil no dia seguinte.<br /><br />No gramado da Cité Universitaire, a galera reunida em torno do violão e da garrafa de vinho resgatando reminiscências, contando causos, aproveitando os últimos momentos em que aquele grupo de bom humor abençoado estaria completo pela última vez. O resultado foi bastante previsível: enquanto conversávamos bebíamos e bebemos muito. No dia seguinte, acordamos todos com uma bela ressaca.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">E viva a copa do mundo!</span><br /><br />Sol a pino no sábado, o CB no avião e a gente com gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Um amigo nosso que estudava em Marselha e estava de Paris de passagem, o Rodrigo, nos propôs irmos a um bar que ele conhecia para assistirmos um jogo da Copa do Mundo, que estava rolando na época. A velha história de curar ressaca com mais álcool.<br /><br />O bar era bacana, ficava no térreo de um albergue enorme e era frequentado majoritariamente pelos hóspedes do albergue: estudantes estrangeiros. Isso dava ao lugar um clima descontraído e agradável. Chegamos cedo para conseguir um lugar estratégico perto do bar e da TV e começamos a terapia de cura de ressaca através de cerveja branca de trigo. O jogo começou (Argentina X Inglaterra) e o bar lotou.<br /><br />Lá pela terceira cerveja (que tinha 500 ml) eu notei uma menina encostada no bar junto com um grupo de umas cinco pessoas. Cruzamos olhares. Isso aconteceu mais algumas vezes durante o jogo. Eu simplesmente estava adorando aquele joguinho de gato e rato e a situação estava ficando interessante. A garota me chamava a atenção: vestida de preto, com um decote generoso e uma pata de urso tatuada em casa seio.<br /><br />Eu, na minha timidez e desconcerto habituais com mulheres, não sabia o que fazer e à medida que o jogo se aproximava do fim ia ficando mais nervoso. Aos 35 do segundo tempo, sem metáforas futebolísticas, eu resolvi agir. Pisquei um olho pra ela. Caro leitor, eu sei que isso é <span style="font-style: italic;">cliché</span>. Cara leitora, eu sei que você nunca cairia no papo de um sujeito que pisca um olho para você. Mas funcionou. Ponto. Ela sorriu, eu me levantei, passei do lado dela e com um gesto de cabeça pedi pra ela me acompanhar pra um canto mais reservado. Ela me pediu pra esperar alguns minutos com um gesto de mão.<br /><br />Nos encontramos pouco depois e começamos a conversar. Conversávamos em francês, mas ela tinha um sotaque bizarríssimo que ficou claro assim que ela disse que era canadense. Eu disse que estava com alguns amigos e que depois do jogo iríamos ao centro da cidade para aproveitar as liquidações de verão e perguntei se ela não queria vir conosco. Quer conquistar uma mulher? Chame-e para fazer compras com você. Ela topou, mas disse que precisava da autorização da mãe, que estava no grupo de pessoas que a acompanhavam. Eu disse que me encarregaria disso e juntei o máximo de cara-de-pau e coragem para falar no tom mais galeanteador possível:<br /><br /><blockquote style="font-style: italic;">- Bom dia, eu sou o Angelo. Acabei de conhecer a sua filha na fila do banheiro e gostaria de saber se você pode cedê-la uma tarde para fazermos um passeio em Paris.<br />- Oi, Angelo. Pra mim tudo bem, mas com uma condição: ela tem que dormir em casa hoje, ok?<br />- Sim, senhora.<br />- Veja bem: ela TEM QUE DORMIR HOJE LÁ EM CASA. Entendido?<br />- Perfeitamente. =D<br /></blockquote><br /><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;">Tabarnak</span>! Uma imersão na cultura canadense (ou algo assim)</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Nota: Os trechos terminados com </span>"<span style="color: rgb(255, 0, 0);">***</span>"<span style="font-style: italic;"> foram censurados por terem conteúdo explícito de sexo, drogas e escargots e para preservar a faixa etária do blog (próprio para menores de 81 anos). Algumas passagens foram adaptadas graças a metáforas bem colocadas, enquanto outras foram sumariamente suprimidas. Se você deseja conhecer a história completa terá que esperar a versão completa sem cortes que eu lancerei quando for famoso e podre de rico ou quando todas as pessoas envolvidas nesta história forem incapazes de me processar por uso indevido de imagem.</span><br /><br />Para preservar a identidade da menina e evitar que curiosos fuxiquem no meu facebook, chamarei-a pelo apelido dela: Do (pronuncia-se Dô). A mãe dela é instrutora de massagem terapêutica e autora de alguns livros sobre o assunto. Ela estava na França junto com o marido, padrasto da Do, dando um curso e divulgando o último livro dela. A Do participa dos <span style="font-style: italic;">workshops</span>, pois ela domina as técnicas, embora não seja instrutora, e assim ela ajuda a mãe. Eles estavam hospedados na casa de uns amigos franceses não muito longe do albergue. Os donos do apartamento estavam viajando e deixaram as chaves com eles.<br /><br />Partimos então eu, ela e meus amigos para o centro da cidade comprar roupas. Leia-se: meus amigos foram comprar as roupas deles e me deixaram lá acompanhando-a enquanto ela rodava as lojas atrás de algo para comprar. Nos reencontramos em seguida e eles disseram que gostariam de voltar para a casa e tomar um banho, mas que voltariam para o bar para assistir a partida da noite, que eu não lembro mais como era. Acompanhei a Do pra casa dela, de onde deveríamos partir para o bar.<br /><br />Fomos para o bar, assistimos o jogo inteiro e nada dos meus amigos chegarem. Eles ligaram dizendo que chegariam mais tarde, por volta das 22h00. Deu 23h00 e nada. Brasileiros... Fiquei lá com ela, fazer o quê? Deu meia noite e um pensamento súbito me passou pela cabeça: a que horas passavam o último metrô e o último trem para eu voltar pra casa? Fiz uma conta rápida e percebi que eu até consegueria pegar o último metrô para o centro da cidade, mas que eu jamais conseguiria pegar o RER (trem da região metropolitana de Paris) que me levaria para a Cité Universitaire. Planejava então ir ao centro e voltar a pé, uma caminhada de 7 km ou mais. Juro como tudo isso não foi premeditado. Eu <u>realmente</u> perdi a hora dos trens. Lembrem-se que eu era um novato em Paris e aquele era meu primeiro dia na cidade.<br /><br />A Do então falou que eu não fizesse isso, pois era perigoso. Ela disse que a mãe e o padrastro dela não se importariam se eu dormisse lá no apartamento onde eles estavam, pois tinha acontecido um imprevisto. Eu hesitei, mas aceitei. Ela então falou "mas não vai acontecer <u>nada</u> hoje de noite, ok?". Por mim tudo bem, admito que a minha maior preocupação naquela noite era ter onde dormir e não se ia rolar gol nessa copa do mundo.<br /><br />Chegamos lá e explicamos a situação pros pais dela. Conheci o padrasto, cujo humor irônico e disfarçado lembrou o do meu pai. Aquele humor que não revela se o autor está nos insultando ou brincando conosco. Eles disseram que estava tudo bem, abriram uma garra de vinho e um pacote de pistaches e ficaram conversando comigo na cozinha enquanto a Do ia tomar um banho. Sabatina básica: o que eu fazia da vida, o que estava fazendo na França, o que eu estava fazendo em Paris. Respondi tudo e ainda saquei algumas das minhas histórias engraçadas e sinto que conquistei a simpatia dos coroas.<br /><br />A primeira promessa eu tinha cumprido, trouxe a garota em segurança para casa. A mãe dela não tinha do que reclamar. A segunda promessa eu cumpri (quase) integralmente.<span style="color: rgb(255, 0, 0);">***</span><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Amigo da família</span><br /><br />Nada mal para o meu primeiro dia em Paris. Rendeu boas gargalhadas com meus amigos. O domingo veio sem maiores novidades e segunda feira eu parti para o meu primeiro dia de estágio em Paris, embora já tivesse trabalhado dois dias em Nantes. Depois do trabalho fui ver a Do. Ela disse que os pais dela não estariam lá na segunda-feira e então eu não teria que me comprometer a ficar quieto e não fazer algo.<br /><br />Cheguei lá no apartamento e decidimos sair para comprar uma garrafa de vinho e passear pelo bairro. Saindo do prédio cruzamos com um sujeito que era amigo dos pais dela, um grego que segundo ela já tinha vivido na região amazônica e já tinha experimentado quase todas as drogas do lugar. Sujeito exótico, falava uns vinte idomas. Mal, mas falava. Ele tentava se comunicar comigo num português macarrônico e pelo pouco que eu pude compreender ele estava hospedado com uns "amigos meus do circo", mas naquele dia dormiria lá no apartamento porque "lá no circo o pessoal faz muito barulho". Ele subiu e nós fomos comprar o vinho. A Do ficou chateada, pois o cara frustrou nossos planos.<br /><br />Ficamos então vagabundeando, nós e o vinho, às margens do canal Saint Martin. Trocamos figurinhas, falamos da vida, nos conhecemos. Mais tarde voltamos ao apartamento. Encontramos os três por lá, os pais e o grego. Fizemos uma sala e fomos pro quarto, mas quando estávamos começando nossa conversa <span style="color: rgb(255, 0, 0);">*** </span>o grego bateu na porta nos chamando para participar de um ritual de purificação da casa que ele faria na sala.<br /><br />Lá fomos nós comportadíssimos para o ritual de purificação. O grego, de cueca, camiseta e um cordão indígina espalhava fragâncias aromáticas pela sala. Em seguida, ele nos fez esfregar um óleo com uma fragância forte como o gengibre na testa e nas mãos. A isso se seguiu a aspiração de uma fumaça oriunda de uma casca de árvore que ele dizia ser o Santo Daime. <span style="color: rgb(255, 0, 0);">*** </span>Finalmente ele sentou-se e começou a entoar cânticos em um embolado de português e idioma indígena ininteligível.<br /><br />Findo o ritual, voltamos pro quarto. Finalmente teríamos um pouco de paz. Não sei se foi por causa do álcool ou por causa dos produtos naturais do grego, mas pela primeira vez na minha vida e na tenra idade de 23 anos me faltou assunto pra conversa. <span style="color: rgb(255, 0, 0);">***</span> Confesso que dormi frustrado.<br /><br />A semana foi se desenrolando assim. Acordava e ia pro trabalho e de lá saía para ver a Do e dormir por lá. Os dias que se seguiram foram menos traumáticos que os acontecimentos da segunda-feira e a conversa fluiu melhor. <span style="color: rgb(255, 0, 0);">*** </span>A verdade é que dos meus nove primeiros dias em Paris, apenas três eu dormi na casa do Rômulo. Conveniente para ambos, diga-se de passagem, pois ele não precisou dividir o cubículo dele com ninguém e eu dormia em cama de casal. Eu fui ficando amigo dos pais da Do e às vezes acontecia de eu ficar lá bebendo e cozinhando com eles enquanto ela fazia alguma coisa no quarto dela.<br /><br />Um dia, talvez na quinta se eu me lembro bem, ela me aborda de supetão e me diz que a mãe dela me convidou para um jantar com eles e os alunos do curso de massagem. Fiquei bastante surpreso e quando encontrei a mãe dela mais tarde eu agradeci, disse que era muito gentil da parte deles e que eu não esperava aquilo. Ela me disse: "nós gostamos muito de você e você já é amigo da família".<br /><br />No sábado então fomos para o jantar num restaurante próximo do mítico bairro de Montmartre. Os convivas eram na maioria franceses na faixa dos 45 anos. Havia também uma carioca e uma portuguesa. O cardápio era bom e pela primeira vez na vida e depois de quase 10 meses na França eu comi <span style="font-style: italic;">e</span><span style="font-style: italic;">scargot</span>. Como toda boa refeição realizada nas terras de Victor Hugo, o jantar foi regado a (muito) vinho.<br /><br />Findo o jantar, eu tentei em vão pagar a parte que me cabia. A mãe da Do não permitiu e pagou por mim. Alguns dos convivas decidiram ir para um bar nas proximidades e nos convidaram a lhes acompanhar. A maior parte recusou e fomos apenas eu, a Do e mais quatro outros para um pub irlandês.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Quer emprego? Vá pro bar!</span><br /><br />Começamos então uma curta <span style="font-style: italic;">soirée </span>regada a cerveja Guiness. O papo se desenrolava preguiçoso e descontraído: os fatos ocorridos no curso de massagem, os jogos da copa do mundo, as exclamações de como a Do tinha crescido e agora era uma mulher.<br /><br />Em um determinado momento um dos caras virou-se pra mim e perguntou sobre minha trajetória, como eu tinha parado ali e o que fazia. Falei do meu intercâmbio, do meu estágio, da escola onde estudava. Ele parecia interessado. Quando eu disse que estudava mecânica no Brasil ele me perguntou se eu tinha interesse em trabalhar na PSA, <span style="font-style: italic;">holding </span>que controla as montadoras Peugeot e Citroën. Meus olhos devem ter brilhado quando eu disse que sim. Ele disse que tinha um amigo que trabalhava na PSA e que meu perfil talvez pudesse interessá-lo e pediu que eu lhe enviasse meu currículo por email para transmitir ao amigo. Anotei o email animado, mas incrédulo. Não sei se enviei o currículo no dia seguinte ou na semana seguinte, não importa. O importante é que eu mandei.<br /><br />Estávamos então em meados de julho e o fim daquela semana idílica com a Do, que foi a primeira das minhas aventuras em Paris que fizeram daqueles dois meses os melhores do meu intercâmbio, chegava ao fim. Não tardou para que ela retornasse ao Québec. Mais de dois meses depois, em setembro, e ironicamente enquanto eu estava numa cama me recuperando de uma bebedeira do dia anterior eu recebo uma ligação. Uma voz feminina se identifica como funcionária do departamento de recursos humanos da PSA e me pergunta se eu ainda estou procurando estágio. Atordoado eu respondo que sim enquanto pesquiso na memória a ocasião em que eu havia me candidatado para a PSA. Eu não havia me candidatado e me lembrava bem disso, foi então que eu me lembrei subitamente da <span style="font-style: italic;">soirée</span> no bar e do email.<br /><br />Poucos minutos depois recebo uma ligação, mas dessa vez da parte de um responsável do departamento técnico de uma das fábricas da PSA. Ele disse que trabalhava na concepção de métodos de montagem de motores e caixas de marcha. Ele disse também que tinha interesse em me contratar, mas que ainda não conhecia os temas de estágio disponíveis para o ano seguinte e que eu teria que esperar até a validação dos estágios para que pudéssemos agendar uma entrevista.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">O currículo voador</span><br /><br />Muita coisa aconteceu. Os temas de estágio não forma validados na unidade onde o cara trabalhava e a entrevista, que deveria ter acontecido em outubro, ainda não tinha acontecido em dezembro. Ele acabou me enviando para uma colega de outra unidade, com quem eu comecei a tratar sobre o estágio. Finalmente conseguimos marcar uma entrevista no dia 31 de janeiro e me apresentei como manda o figurino, de paletó e gravata.<br /><br />A entrevista logo se revelou pouco ortodoxa, não seguia o padrão que se espera de uma entrevista normal. A responsável me levou a uma sala de reunião e começou explicando detalhadamente onde o setor dela se encaixava na unidade e onde a unidade se encaixava na empresa. Ela fazia isso desenhando diagramas numa folha de papel, que ela virava para que eu, que estava sentado de frente a ela, pudesser ver o que ela estava escrevendo. Ela me disse que isso era pouco prático e que o melhor seria que eu sentasse ao lado dela para poder ver o que ela estava desenhando.<br /><br />Ela me questionou sobre minhas experiências profissionais anteriores e pareceu particularmente interessada no meu período no Laboratório de Aerodinâmica e Mecânica dos Fluidos na UFC. Ela me pediu para explicar detalhadamente o meu trabalho lá. Cada minúncia parecia interessá-la, o que eu fazia, para que eu fazia, quem utilizava os resultados do meu trabalho e como eram utilizados. Quando eu terminei ela se limitou a dizer "eu queria ver se você era capaz de explicar algo complicado em francês" e escreveu algo num papel.<br /><br />Quando a entrevista parecia chegar no fim ela olhou pro meu terno, deu um sorriso enviesado e disse:<br /><blockquote><br /><span style="font-style: italic;">- Imagino que você sabia que isso não é uma entrevista. Você não precisava ter vindo assim.</span><br /><span style="font-style: italic;">- Como assim?</span><br /><span style="font-style: italic;">- Você já foi selecionado antes de chegar aqui. Esse nosso encontro é mais para explicar como vai ser o seu trabalho. Você não sabia?</span><br /><span style="font-style: italic;">- Não, não sabia - eu respondi num tom de surpresa genuína.</span><br /><span style="font-style: italic;">- Você pode me explicar como o seu currículo chegou até mim?</span><br /></blockquote><br />Perguntinha capciosa. Eu contei uma história meio torta, mas que não era falsa. Tive que omitir os detalhes de como eu consegui o contato. Pareceu-me pouco profissional dizer que eu tinha conseguido o estágio bebendo num bar com um sujeito que eu mal conhecia e simplesmente disse que o cara foi "alguém que eu conheci durante meu estágio". Contei o percurso que eu conhecia do meu currículo, ou seja, que tinha ido parar nas mãos do chefe dela e que ele o repassou. Ela não parecia esperar por isso e disse:<br /><br /><blockquote style="font-style: italic;">-O seu currículo foi recomendado para mim pelo meu chefe. Por sua vez, ele recebeu a sua candidatura de outra pessoa, que também recomendou você. Até onde sabemos a primeira pessoa a recomendar-lo foi o diretor de operações da PSA com o Mercosul e ele se interessou pelo seu perfil. Ele nos pediu para que lhe contratássemos como estagiário para lhe treinar e eventualmente, caso você se mostre capaz, lhe contratar para trabalhar para a PSA no Brasil utilizando o que você vai aprender durante o seu estágio. Nós não tínhamos estágios disponíveis aqui para estudantes no seu nível (segundo ano de escola de engenharia) e tivemos que abrir uma vaga excepcional.</blockquote><br /><span style="font-weight: bold;">Pedido aos leitores</span><br /><br />Sei que tudo isso parece fantástico (e é), improvável (e é) e mentira (não é!). Mas tudo o que aconteceu foi verdade (acredite se quiser!). Peço encarecidamente aos leitores que não abandonem o meu blog após essa história por acreditarem que eu larguei o estilo auto-biográfico/crônica/auto-ajuda e abracei a ficção ou a fantasia.<br /><br />Essa história foi diretamente para o Top 3 de histórias mais insanas da minha vida, junto com o Pouce d'Or e a ocasião em que eu conheci uma prima minha durante um assalto a ônibus no Rio de Janeiro. Não preciso nem explicar a tag "sem-noção", pois ela é mais do que merecida.<br /><br />Duas semanas depois da entrevista eu recebi um email da PSA dizendo que eu tinha sido recusado em um estágio. Foi um susto, mas eu olhei atentamente e reparei que era um estágio para o qual eu tinha me candidatado pela internet quase dois meses antes. O currículo que eu enviei era mais recente, completo e atraente que o currículo voador que rodou o mundo pelos corredores da PSA e o estágio proposto era menos desafiador. Aparantemente, competência não é tudo neste mundo... Sorte conta um bocado!<br /><br />Abra as portas da sua vida para o acaso. Quem sabe acontece uma loucura dessas com você também.<br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-5219953484069779962011-03-26T20:12:00.004+01:002011-03-26T21:59:02.223+01:00Família adotivaIsso aconteceu em algum dia em meados de novembro, mas minha memória falha e eu não posso dizer ao certo. A escola enviou um email a todos os seus alunos estrangeiros retransmitindo o convite da prefeitura para uma <span style="font-style: italic;">soirée </span>de recepção dos estudantes estrangeiros de Nantes. Nenhum detalhe sobre o programa, a não ser uma indicação de que o prefeito de Nantes estaria presente. Por uma feliz coincidência, o evento aconteceria a 200 metros da minha casa, o que me privou da desculpa da preguiça e da distância e resolvi ir.<br /><div style="text-align: justify;"><br />Na entrada recebíamos um adesivo com a nossa nacionalidade. O ambiente era organizado como em uma feira, com vários stands representando várias instituições. Algumas delas eram de associações de estudantes, outras eram de escolas de idiomas. Acabei encontrando um stand de uma associação chamada AFA, <span style="font-style: italic;">Association des Familles d'Accueil</span> (algo como Associação de Famílias Adotivas). A proposta deles era interessante: o estudante devia preencher uma ficha com a idade e a nacionalidade, vem como tirar uma foto. Em seguida a ficha seria transmitida para as famílias interessadas. Algumas têm interesse em uma naconalidade específica, outros em estudantes de algum curso específico. A adoção é simbólica, não se traduz em alojamento nem nada do tipo, é a oportunidade de fazer amizade e compartilhar experiências.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Os Carfantan</span><br /><br />Em torno de um mês depois eu recebi uma ligação, pois a associação tinha achado uma família interessada em me adotar. Pouco tempo depois eu recebi um email deles. Um casal, Christine e Christian. O email era assinado por ela e falava brevemente da composição família: quatro filhos e seis netos, dos quais um em gestação. Eles moram na zona rural de Carquefou, cidade na região metropolitana de Nantes. Eles me chamaram para um almoço na casa deles e eu topei. Primeiro problema: só é possível chegar em Carquefou de ônibus e para chegar na casa deles não há transporte público. Decidimos entãos que eu iria de ônibus até o centro de Carquefou e a Christine me buscaria de carro.<br /><br />Ela me encontrou em uma parada de ônibus e seguimos para o serviço do Christian, que é dono de uma pequena empresa de aluguel de boxes para mudanças ou reformas. Ele nos encontraria na casa quando começasse a pausa para o almoço. Seguimos para a casa deles, atravessando um bocado de campos e pastos. Algo captou minha atenção logo que eu entrei: a casa era decorada em estilo náutico com várias fotos de faróis e de paisagens bretãs. Destaque para a foto do farol de<a href="http://www.jean-guichard.com/index.php?main_page=popup_image&pID=11"><span style="font-style: italic;"> La Jument</span></a> feita por Jean Guichard e que desde pequeno me assombra e me impressiona. Não contive a curiosidade e perguntei se eles eram bretões. São sim. Eu não falei nada da minha paixão pela Bretanha na ficha de inscrição, então isso foi um imenso golpe de sorte.<br /><br />Nesse dia eu conheci o filho caçula deles, o Yann (João em bretão). Ele tem 18 anos está fazendo <span style="font-style: italic;">classes preparatoires</span>, ou prepa, os estudos que antecedem a escola de engenharia. Para completar a família aidna faltam as três irmãs mais velhas: Annabelle, Solène e Gwénaëlle. A Annabelle, de 20 anos, estava então nos Estados Unidos fazendo um intercâmbio, mas normalmente ela estuda em Angers e volta nos fins de semana. As duas mais velhas já são casadas e têm filhos. Detalhe importante: a Solène é casada com um português e fala um pouquinho do idioma. Eu soube pela Christine que eu era o primeiro estrangeiro que eles adotavam e os dois principais motivos para me adotar foram a minha nacionalidade e a minha formação. Eles acreditavam que, caso eu falasse mal o francês, a Solène e o marido dela poderiam me ajudar com o português. Além disso, sendo estudante de uma escola de engenharia, eu poderia dar dicas e explicações pro Yann.<br /><br />A visita foi muito simpática, mas durou apenas uma tarde. Almocei e fui embora depois de algum tempo. Eles me convidaram para aparecer por lá outra vez e mesmo dormir uma noite se quisesse.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">A segunda visita</span><br /><br />A primeira visita deve ter acontecido no início de dezembro. No dia 15 eu voltei para o Brasil, para passar o Natal com a minha família verdadeira. Aproveitei a ocasião para comprar um presente para a minha família adotiva.<br /><br />Fui visitá-los uma ou duas semanas depois de voltar, no começo de janeiro. Desta vez fui preparado para passar uma noite lá. Fizemos o mesmo acordo da visita anterior: fui de ônibus até Carquefou e esperei que eles fossem me buscar. Numa grande coincidência eu encontrei o Yann na parada, onde ele chegou poucos minutos depois de mim. Não tardou para que a Christine e a Annabelle, recém-chegada dos Estados Unidos, aparecessem de carro para nos buscar.<br /><br />Ligação surpresa: a Solène diz que vem almoçar também e traz com ela duas filhas e uma sobrinha. Uma das filhas dela, de 8 anos de idade, falava português e era muito engraçadinho conversar com ela. Foi um almoço bem bacana, num clima legal, regado a bom vinho e comendo frutos do mar.<br /><br />Depois do almoço a Annabelle me convidou para ir a Carquefou, onde estava acontecendo um encontro de cartunistas. Fomos de bicicleta através de um caminho feito onde um dia passara uma estrada de ferro. A entrada era gratuita e havia cartunistas do mundo inteiro. O bacana é que era possível pegar uma folha de papel e pedir para um dos cartunistas fazer um desenho para você. Alguns deles topavam fazer caricaturas, outros não, mas todos desenhavam para o público. Pedi uma caricatura para um cartunista australiano e discutindo com o sujeito descobri que havia um cartunista brasileiro no evento.<br /><br />Num canto do salão achei o cartunista. Ninguém menos do que Paulo Caruso. Me apresentei em português e pedi uma caricatura. Passei um bom tempo falando com ele. Sujeito tranquilo, cheio de histórias para contar, ele sacou um caderno de viagens que ele havia escrito/desenhado quando veio pela primeira vez na França e onde ele tinha registrado as memórias de viagem dele. Ele fez uma caricatura bem legal e pôs uma dedicatória bem interessante: "Para Angelo, perdido em Carquefou, encontrado por um cartunista".<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioxSryQJ0keQd4vwXj26DDdyKzL0v-EDszegOB-0V5mDSoJ5B-LVyUenuqE2hl4UkpiFoTVaG9oF5tVtrjhasn3RFDacMMAWZG6MrCdCj3oZAPivIWZWL_tHs2oSy9v1E3mk8lGxCiO6PZ/s1600/photo+ridep+2011+051.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 213px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioxSryQJ0keQd4vwXj26DDdyKzL0v-EDszegOB-0V5mDSoJ5B-LVyUenuqE2hl4UkpiFoTVaG9oF5tVtrjhasn3RFDacMMAWZG6MrCdCj3oZAPivIWZWL_tHs2oSy9v1E3mk8lGxCiO6PZ/s320/photo+ridep+2011+051.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5588490074242576722" border="0" /></a><br />Voltamos para a casa dos Carfantan e jantamos. De noite cada um se recolheu para o seu quarto. No corredor do primeiro andar havia uma estante cheia de livros, sendo uma parte considerável deles relatos de viagem de velejadores célebres franceses. Não resisti e pedi um emprestado. <span style="font-style: italic;">Victoire en Solitaire</span> de Éric Tabarly, oficial da Marinha de Guerra Francesa. O livro contava a vitória dele em uma regata de travessia do Atlântico em solitário. Eu, fã incondicional de Amyr Klynk, não resisti a um livro assim. Comecei a ler pela noite e entrei pela madrugada lendo. Minha família adotiva fez a gentileza de me emprestar o livro para que eu terminasse em casa.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">A terceira visita</span><br /><br />Há uma semana eu recebi um email da Christine perguntando o que tinha acontecido comigo, pois fazia muito tempo que não dava notícias. Apesar de me sentir super à vontade com eles e de eles terem dito que eu posso aparecer quando quiser, eu nunca tive coragem de mandar um email dizendo "tô chegando aí tal dia". Mas, aparentemente, é o que eles esperam. Colocamos a conversa em dia e marcamos uma nova visita para o próximo fim de semana. Daqui a cinco dias, no fim do mês, será o aniversário da Annabelle e é bem possível que eles façam alguma comemoração no fim de semana em que eu estarei por lá.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Por que uma </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">famille d'accueil</span><span style="font-weight: bold;">?</span><br /><br />Para mim as razões de se inscrever num esquema de adoção desses são bem evidentes, mas às vezes pode ser difícil vencer a barreira da timidez e aceitar ser adotado. Entretanto, a adoção não é apenas uma oportunidade de comer bem e de graça, obviamente. É uma chance única de sair do ambiente da escola, conhecer pessoas diferentes daquelas com quem convivemos todos os dias. É a chance de imergir na cultura francesa de um modo diferente. É, igualmente, a chance de fazer uma amizade legítima e que, quem sabe, pode durar muito além do período de intercâmbio. Por que não?<br /><br />O termo "família" é algo bem forte também. A dezenas de milhares de quilômetros de casa é reconfortante dizer que temos uma família, ainda que nessas circunstâncias. Não é a frequência das visitas que nos faz sentir em família, mas o calor da acolhida. Eu tenho muito a agradecer aos Carfantan, por terem me recebido tão bem e terem demonstrado um carinho tão genuíno.<br /><br /><br /><br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-90030464176263604952011-03-24T12:39:00.004+01:002011-03-24T18:03:47.938+01:00Parrainage: o outro lado da moeda<div style="text-align: justify;">Na integração do ano passado eu falei sobre a <span style="font-style: italic;">parranaige</span> em <a href="http://modolonantes.blogspot.com/2009/09/parrainage.html">um dos meus posts</a>. Neste ano eu participei de novo dessa tradição, mas conheci o outro lado, o lado de ser padrinho (<span style="font-style: italic;">parrain</span>). Vou fazer um pouco de suspense barato e falar dos afilhados(<span style="font-style: italic;">fillots</span>) dos meus <span style="font-style: italic;">colocs </span>antes de falar do meu (ou minha) afilhado(a).<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Charles, o <span style="font-style: italic;">fillot </span>do Vladimir</span><br /><br />O Vladimir é uma figura, um cara cheio de particularidades. Uma delas é o fato de ele ser meio homofóbico. Não pense no cara que sai de noite num carro jogando pedras em travestis, não é nada disso. Ele simplesmente não consegue aceitar que isso pode ser uma escolha racional de alguém e vê mais como uma doença ou algo do tipo. Numa ironia do destino, o Vladimir virou <span style="font-style: italic;">parrain </span>do Charles, um cara que segundo os indícios mais superficiais e visíveis nos leva a crer que não é hétero.<br /><br />Isso chateou o Vladimir no início. Não sei que tipo de gente ele esperava como <span style="font-style: italic;">fillot</span>, quais informações ele colocou na ficha de <span style="font-style: italic;">parrainage </span>dele, mas certamente não era alguém como ele. Eu e o Thiago andamos conversando com ele, tentando convencê-lo de que não era justo que ele se chateasse por causa disso. Em nenhum momento ele tratou-o mal, mas era visível que ele mantinha uma certa distância.<br /><br />Falemos do Charles. Ele é uma exceção em relação à média dos <span style="font-style: italic;">centraliens</span>, pois ele vem de Nantes e ainda mora na casa da família dele. A maior parte dos alunos vem de outras partes da França e mora na residência do lado da Escola ou em algum apartamento na cidade. Ele é um sujeito tranquilo, de fala mansa e sorridente, apesar de tímido. No primeiro jantar que fizemos com nossos <span style="font-style: italic;">fillots </span>aqui em casa descobrimos que ele tocava piano desde os 6 anos. Ele infelizmente não pôde mostrar o talento dele, pois não temos sequer um teclado aqui.<br /><br />A segunda refeição, desta vez organizada por eles, foi feita na casa dele, um sobrado simpático no Noroeste de Nantes. Fatos dignos de nota: uma quantidade imensa de LPs e CDs cobria a parede da sala. Eu e o Thiago garimpamos até alguns discos de intérpretes e compositores brasileiros como Chico Buarque e quarteto em Cy. Debaixo da escada um piano. Depois de muita insistência ele aceitou tocar pra gente, apesar dizer que estava enferrujado e coisas do tipo.<br /><br />Eu não posso dizer que ele tocou bem, não é suficiente. Ele tocava com uma naturalidade e uma leveza embasbacantes. Quando aplaudíamos e elogiávamos ele dizia que era uma música simples, que não era nada demais, mas esse gesto não era de forma alguma revestido de falsa modéstia. Quando ele tocava o semblante do Vladimir se iluminava. Quando voltamos pra casa um dos assuntos mais falados foi o concerto particular que o Charles nos deu e os comentários do Vladimir eram de orgulho genuíno de ter um <span style="font-style: italic;">fillot </span>tão talentoso.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Shengnan e Jing, os fillots da Katinka</span><br /><br />A Katinka, como membro do BDE (grêmio de estudantes), se encarregou de uma parte da organização e criação das duplas de parrain-fillot. Ela terminou adotando ela mesma dois chineses que estavam órfãos até dez minutos antes da<span style="font-style: italic;"> soirée de parrainage</span>, contrariando a recomendação de que estrangeiros não devem apadrinhar estrangeiros. Era isso ou deixar os dois órfãos, então eu acho que não há problema.<br /><br />A Shengnan é uma chinesinha bochechuda e sorridente, com uma franjinha caindo sobre a testa e quase chegando nos olhos. Não lembro de ter cruzado com ela em algum momento em que ela não estivesse sorrindo. Diferente da maioria dos chineses, ela tinha um bom nível de francês já na integração, o suficiente para conversar durante bastante tempo sem nenhum bloqueio.<br /><br />Pelo que eu ouço, ela é super integrada e se dá muito bem com os brasileiros. Ela é autora de alguns comentários célebres feitos durante a reunião dos novatos estrangeiros e administração da escola. A reunião, marcada para 12:30, coincidiu com o horário de almoço. No fim da reunião, uma das professoras perguntou se alguém havia alguma dúvida ou sugestão. Aparentemente, num acesso de ironia, a Shengnan sugeriu que eles "trouxessem biscoitos e suco na próxima reunião feita em tal horário". Haduken!<br /><br />O Jing é o chinês pop da turma dele. Conheci-o quando eu estava em Paris fazendo meu estágio e ele estava fazendo curso de francês. Ele morava a duas portas do apartamento de uma amiga minha. Naquela época eu me comunicava com extrema dificuldade com ele, visto que o nível de francês dele não era bom. Isso melhorou bastante após algumas semanas de integração. O Jing usa uns óculos de armação redonda bem grandes e eu sempre tive a impressão de que o cabelo dele tem uma cor ligeiramente acaju, mas se é pintado ou natural eu não sei. Ele também está sempre sorrindo, o que faz os olhos dele desaparecerem.<br /><br />Ele me parece ser o sucessor do Bin, o chinês da minha turma que dança brake. O Jing participou das campanhas para o BDS (grêmio de esportes) e no vídeo da chapa dele havia uma cena em que ele dançava hip hop no hall da Escola e muito bem, por sinal. A chapa dele foi eleita e ele e um brasileiro, o Lucas namorado da Katinka, farão parte do BDS no ano que vem.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Diane, a </span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">fillote </span><span style="font-weight: bold;">do Thiago</span><br /><br />Desconfio do que o Thiago possa ter colocado na ficha de <span style="font-style: italic;">parrainage </span>dele. Ele é apaixonado por música e sem dúvida ele deixou isso claro. E a <span style="font-style: italic;">fillote </span>que acharam pra ele foi a Diane. Comecemos por uma descrição física. A Diane é atraente e isso ficou claro na integração: nas festas havia um sem fim de caras que chegavam nela e no WEI foi a mesma coisa. Eu a via andando quase sempre sozinha nas primeiras semanas, até algum cara vir falar com ela. E sempre acontecia a mesma coisa: eles conversavam, ela sorria, o cara sorria e acabava por aí. Ela nunca me pareceu interessada nas investidas dos centraliens.<br /><br />O Thiago descobriu conversando com ela na <span style="font-style: italic;">soirée de parrainage</span> que ela toca violino e os vínculos que ligaram os dois no apadrinhamento foram ficando claros, embora ele seja metaleiro e ela seja violinista clássica. Houve uma empatia muito bacana entre os dois logo de cara, foi muito legal. Ela tocou violino aqui em casa no primeiro jantar que fizemos, e tirou de ouvido a música do mamute ("Um mamute pequenino queria voar...") enquanto cantávamos. Deixo imaginar a cara de surpresa dela quando chegamos no refrão ("Merda! O mamute virou merda!"). Ela toca extremamente bem e isso estimulouo Thiago a retomar os estudos de violino dele e trazer o instrumento que ele tinha no Brasil para cá. Durante a Central'Ac, espécie de concurso de calouros da escola, ela tocou violino enquanto um colega dela tocava violão e cantava. Eles não ganharam, mas estavam no páreo, pode apostar.<br /><br />Para terminar, a Diane participou das campanhas integrando uma chapa pro BDA (grêmio de artes). A chapa dela foi eleita e ela estará no BDA ano que vem.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Ariane, a minha fillote</span><br /><br />O meu <span style="font-style: italic;">parrain </span>Jean-Baptiste (JB, pronuncia-se "Ji Bê") foi extremamente simpático comigo. Ele me ajudou com a mudança, transportando minha cama e a cama da Katinka no carro dele. Ele sempre procurou saber se eu estava gostando da escola, se eu estava integrado. Eu não tenho nenhuma crítica a fazer dele e, pelo contrário, sou todo elogios. Confesso que ele foi um modelo pra mim e que eu quis ser tão elgla quanto ele pro meu <span style="font-style: italic;">fillot</span>, não importasse quem fosse.<br /><br />Lembro rapidamente que a <span style="font-style: italic;">soirée de parrainage </span>consiste em deixar o <span style="font-style: italic;">fillot </span>descobrir quem é o seu <span style="font-style: italic;">parrain </span>através de um objeto que este último deixou para ele, perguntando aos veteranos quem poderia ser o dono objeto. O JB deixou um rato de pelúcia, referência ao mascote da chapa dele do BDA e que foi eleita. Diferente da maioria dos outros veteranos, ele me deu o objeto. Eu decidi que faria o mesmo, que compraria um objeto e daria de presete para o meu <span style="font-style: italic;">fillot</span>. Eu comprei com a ajuda dos meus pais no Brasil uma <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDVZrQKAlfNPXsDQhVt0kL_lFGIi3bDpSf2NIl2UtN2i_dtodI1kca5XGmHF8NINi1grypI8bsuLizCTyJixyshcZO2yV-AntQICxAf4eP_oaUoGnffp61Ide3Vyzp5-ZjitiyEwH7HxpG/s1600/Garrafa_de_Areia_4a830b216430d.jpg">garrafinha de areia</a>, uma peça de artesanato típica do Ceará. Para permitir que meu fillot me encontrasse eu passei a <span style="font-style: italic;">soirée</span> usando um chapéu de couro. Minha idéia era que ele acharia alguém que identificasse aquilo como sendo brasileiro e o primeiro brasileiro que ele achasse diria que era cearense. Sendo eu o único cearense da turma meu fillot não tardaria a me encontrar.<br /><br />Mas tardou. Eu comecei a zanzar pelo hall até que eu vi uma menina com a bendita garrafa. Magrinha, olhos escuros, rabo de cavalo em um cabelo preto, liso e longo. Ela estava vestida de um jeito bem simples, quase sem graça. A primeira impressão que ela passava era justamente essa: sem graça. Ela olhava perdida pra multidão tentando achar o <span style="font-style: italic;">parrain </span>dela. Soube mais tarde que alguém tinha me identificado como <span style="font-style: italic;">parrain </span>dela e havia me descrito como um brasileiro de óculos. O diabo é que eu tava usando lente naquele dia. No fim das contas ela me achou e creio que o chapéu não ajudou em nada.<br /><br />Ela se apresentou como Ariane e eu fiz um dos comentários mais nerds da minha vida: "Ariane que nem o <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Ariane_%28rocket_family%29">foguete</a>?". Isso pareceu surpreender ela de tão inusitado que foi o comentário. Mas sim, Ariane que nem o foguete. Tentei descobrir os vínculos que me legavam a ela. Eu coloquei na minha ficha que eu gostava de música, admitindo que o barulho que eu faço com meu saxofone e os acordes que eu arranho no violão sejam música. Mas coloquei também que era malabarista e procurava alguém interessado nisso. Perguntei se ela fazia malabarismo e ela disse que não. Depois ela me disse que estudava violão clássico e o vínculo ficou claro. Em pouco tempo estávamos junto com meus <span style="font-style: italic;">colocs </span>e os <span style="font-style: italic;">fillots</span> deles marcando uma data para o primeiro jantar.<br /><br />Lembram a impressão de ser sem graça? Esqueçam isso. A Ariane é tudo, menos sem graça, e eu não demorei para descobri isso. Embora ela tenha uma aparência ordinária em uma primeira olhada, ela tem uma postura, uma leveza no andar, uma maneira de se portar que faz ela parece maior do que realmente é. Dona de um humor refinado, irônico, ela é autora de vários comentários e trocadilhos que me deixaram desconcertados de tão perspicazes. Ela tocou violão aqui em casa e me botou no chinelo. No repertório, várias canções populares francesas que eu ignorava até então.<br /><br />Tantos atributos não passaram incógnitos e agradaram muita gente por aí. Cito sobretudo um russo que eu conheço, que dorme no quarto do outro lado do corredor e que ficou doidinho por ela. Apesar da minha torcida, os dois não deram certo. Ele inventou de fazer o Pouce d'Or com ela, a despeito de eu e o Thiago aconselharmos a não fazer isso. O Pouce d'Or é fantástico, mas é também fonte de tensão e não raramente provoca atritos entre a dupla. Logo, não é a ocasião ideal para um encontro romântico.<br /><br />Me dou super bem com a minha <span style="font-style: italic;">fillote </span>e sou muito satisfeito de ser o <span style="font-style: italic;">parrain </span>dela. Já fizemos no mínimo uns quatro jantares <span style="font-style: italic;">parrain-fillot </span>juntos e todos eles sempre foram muito bacanas. Para terminar, ela foi a selecionada para representar a Escola no programa <span style="font-style: italic;">Questions pour un champion</span>, uma espécie de versão local do Show do Milhão para universitários. Neste momento ela está em Paris respondendo às mais variadas perguntas de cultura geral e eu estou aqui torcendo por ela. Minha <span style="font-style: italic;">fillote </span>me mata de orgulho!<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Fapinho, meu afilhado brasileiro<br /><br /><span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"></span></span></span>Como já é tradição, os brasileiros fazem sua própria cerimônia de apadrinhamento. Diferente dos franceses, os pares de afilhado e padrinho não são feitos através de um objeto, mas através de descrições. Nós lemos as descrições dos veteranos sem identificar os nomes e os novatos elegem o bixo que mais corresponde àquela descrição.<br /><br />Eu tenho a fama de ser o cara mais sem noção dos brasileiros da minha turma. Os motivos são variados, embora eu seja um cara tranquilo:<br /><ul><li>Minha participação na Fanfrale</li><li>Minha aventura no Pouce d'Or</li><li>O fato de eu fazer malabarismo com fogo</li><li>O mergulho que eu dei no rio no outono a 15ºC quando fizemos nosso churrasco com os bixos</li><li>Minhas histórias de bebedeira</li><li>Os mergulhos que eu dei dos precipícios da Côte d'Azur</li></ul>Tudo isso contribuiu para criar a imagem de um cara sem noção, inconsequente. Não digo que é verdade, mas também não digo que não é.<br /><br />Nessa história escolheram o Fábio, conhecido como Fapinho (o diminutivo é uma ironia), para ser meu <span style="font-style: italic;">fillot </span>brasileiro. Da mesma maneira que o meu <span style="font-style: italic;">parrain </span>brasileiro, o Gabriel, o Fapinho é carioca. Ele faz controle e automação na UFRJ e foi escolhido para ser o meu <span style="font-style: italic;">fillot</span> adivinhem por quê? Porque ele é considerado o cara mais se noção dos brasileiros deste ano. Dono de um humor ácido, de comentários curtos e hilários na lista de email, o Fapinho é querido por todo mundo. Rei de Amsterdam e chegado numa bebidinha, a companhia do cara é impagável. Sempre disposto a receber a galera na casa dele pra tomar uma cervejinha antes das festas da École.<br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-91437116687031602212011-03-23T20:51:00.007+01:002011-03-24T03:19:21.270+01:00Ressureição do blog<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">Alerta aos desavisados: este post possivelmente será longo, mas muito longo mesmo. E não espere encontrar historinhas engraçadas (vá para os posts seguintes quando eles forem publicados). Embora chato, este post se faz necessário para aqueles que queiram entender meu sumiço. Se você quiser lê-lo e, eventualmente, comentá-lo sinta-se à vontade.</span><br /><br />Faz mais de sete meses desde a última vez em que eu escrevi algo neste blog. Durante mais de um quarto da minha estada na França este blog esteve abandonado. E durante todo esse período eu deixei de publicar muita coisa que valia a pena ser publicada.<br /><br />Os eventos da integração:<br /><ul><li>O fim de semana da integração</li><li>Minha afilhada</li><li>Os afilhados dos meus colocs</li><li>As festas</li><li>Os bixos</li></ul><br />A Fanfrale:<br /><ul><li>Meus avanços no saxofone</li><li>O meu saxofone negro</li><li>As soirées tortuosas regadas a álcool</li><li>Os novatos</li><li>Os problemas</li></ul><br />As coisas da vida:<br /><ul><li>O clima</li><li>As viagens... Londres, Toulouse, Salamanca, Côte d'Azur...</li><li>A relação com meus colocs</li><li>A sensação de ser veterano</li><li>Minhas dicas para os bixos</li><li>Minha família adotiva, que além de legal é bretã.<br /></li><li>Minha tatuagem (você leu certo)</li><li>O estágio da minha vida, acompanhado de um emprego no brasil, que eu encontrei indo para um bar.<br /></li></ul>Esta lista não é exaustiva e não tenho dúvidas de que estou esquecendo algo. E mesmo as coisas das quais eu lembro não terão o memso frescor e vividez que teriam se eu houvesse escrito logo em seguida, como era meu hábito.<br /><br />Eu posso alegar um sem fim de motivos para ter abandonado o blog... A falta de tempo é a desculpa padrão, e quase sempre a mais falsa. A falta de saco é uma desculpa menos esdrúxula, mas não era o caso, pois vontade de escrever nunca me faltou. Serei franco então. É mais fácil.<br /><br />Eu passei um bom tempo longe de estar equilibrado emocionalmente. Esse estado se agravou com o desânimo outonal e a depressão invernal, já conhecidas de mim no ano anterior. Não que a falta de luz e as baixas temperaturas sejam suficientes para me derrubar. A questão é que a isso somaram-se outras coisas. A segunda biopsia em um ano à qual o meu pai, que tem mais de 80 anos, se submeteu por suspeita de câncer e os problemas que lhe privaram da voz. A minha vida amorosa, que depois de tanto tropeçar finalmente naufragou. O meu desligamento temporário da UFC e as minhas frustrações com as decisões arbitrárias e irracionais dos professores responsáveis pelo programa.<br /><br />O que aconteceu ao blog foi o reflexo de um comportamento que eu tenho naturalmente no cotidiano: quando eu não estou bem eu me calo. Simples assim. Eu prefiro o silêncio a reclamar da vida, me lamentar. Eu preferi não escrever a publicar textos com raias de melancolia mais ou menos visíveis. Também julguei que o blog ao narrar o primeiro ano do meu intercâmbio tinha atingido o seu objetivo principal: auxiliar os aspirantes e novatos dos programas Duplo Diploma e Braftec.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">E por que ressucitá-lo?</span><br /><br />Pois bem, excelente questão. Espero que você tenha paciência para mais um pouco de blá blá...<br /><br />A minha vocação é contar histórias. Sempre foi, mas só agora vejo isso. Por muito tempo fui frustrado com minha inaptidão absoluta para esportes, sobretudo se houver uma bola. Ou infeliz por não tocar guitarra como um deus do blues ou não desenhar como um Paulo Caruso. Todos que eu conheço têm algum talento especial e me chateava o fato de eu não ter nenhum, ou achar que não tinha. Meu talento é contar histórias. Parece inusitado falar assim, mas é a melhor maneira de dizer.<br /><br />Quando olho pro meu lado vejo meus colegas que viajaram muito mais que eu. Que foram a mais festas que eu. Que, em um termo talvez mal colocado, viveram mais do que eu as experiências que este intercâmbio oferece. O mais engraçado é que nenhum deles tem tanta história para contar do que eu. Parece um paradoxo, mas eu cheguei à conclusão de que isso é fruto da maneira que eu tenho de encarar as coisas.<br /><br />Este blog talvez passe a impressão de que coisas inacreditáveis e super legais acontecem comigo o tempo todo. Não é bem assim. A questão é que no momento em que eu saio de casa eu estou de espírito aberto para que coisas inacreditáveis e super legais aconteçam comigo. É sutil, talvez seja necessário reler a frase. Você pode pensar nisso como aquela filosofia barata de livro de auto-ajuda "não há caminho para a felicidade, pois a felicidade é o caminho". Para mim o mais importante não é a quantidade de pontos que eu marco em um mapa, o número de vezes que eu fui a uma festa ou a quantidade de bocas que eu beijei.<br /><br />Estou certo de que se eu tivesse viajado mais, festejado mais ou namorado mais eu terminaria esse intercâmbio com a impressão de que não aproveitei o suficiente. Como todo mundo... Nada surpreendente. Mas quando eu penso na quantidade de histórias que eu tenho para contar sobre esses últimos meses, me convenço de que eu aproveitei o intercâmbio como poucos. Essa é a diferença que eu tenho na forma de encarar as coisas: eu extraio muito do pouco que eu vivo, eu não sou espectador da minha vida.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Três coisas a lembrar</span><br /><br />Um efeito colateral de quando estou triste é pensar. Penso sobretudo nas razões que me deixam triste, mas frequentemente meu pensamento divaga e eu me encontro filosofando sobre coisas e mais coisas. Podemos admitir então que eu tive um bom tempo para filosofar e neste tempo eu desenvolvi um modelo. Um modelo de vida? Talvez. Um manual de instruções? Nem tanto. É um tripé. Três conceitos que me ajudam a refletir, agir e avaliar minhas ações.<br /><br /><br />1) Alegria e felicidade não são a mesma coisa<br /><br />Não é discussão boba de semântica. Alegria é um estado, é passageiro. Você está alegre quando está fazendo um dia bonito, quando você recebeu um presente ou quando você se sente apaixonado pela sua namoradinha nova. É consequência direta de um fato que você encara como positivo. Ponto. Da mesma forma como a chateação é fruto de um fato negativo.<br /><br />A felicidade é mais do que isso. É possível ser feliz com uma lágrima escorrendo pelo rosto ou sentindo dor. Felicidade é saber encarar os fatos da vida, bons ou maus, e ter a certeza de que estamos vivendo da melhor maneira possível. Isto é, de acordo com a nossa essência. Felicidade é harmonia entre o que somos e o que fazemos, é tranquilidade e confiança a despeito do que possa nos acontecer.<br /><br />O nosso grande erro é confundir isso. É tentar nos manter em estado permanente de alegria. Quando nos sentimos mal procuramos imediatamente nos alegrar, tal como tomamos uma aspirina para aliviar uma dor de cabeça. Aliviar a dor é importante, mas é preciso saber de onde ela vem e agir sobre a causa. Também é importante refletir sobre o que nos deixa alegres e entender porque nos sentimos assim. Devemos buscar a auto-compreensão.<br /><br /><br />2) A vida é feita de encontros<br /><br />Tente se lembrar de algum momento que foi marcante para você. Marcante: bom ou ruim. Eu posso te perguntar como foi esse momento perguntando "quando foi" ou "onde foi". Mas vou mudar e vou perguntar "com quem foi". É um desafio achar algo que não aceite resposta para essa pergunta. Existem bilhões de pessoas neste planeta e você cruza com um sem número delas todos os dias. De algumas você consegue apenas um olhar enviesado no ônibus. Dos seus colegas você tem um sorriso e um aperto de mão. De alguns você recebeu, ou atirou, um insulto por causa de alguma barberagem no trânsito.<br /><br />Assim como existe uma infinidade de pessoas, existe também uma infinidade de maneiras de interagir com elas e uma infinidade de graus de interação. A nossa vida é uma sucessão de interações diversas, das mais superficiais às mais profundas, e com pessoas diferentes. Negar ou ignorar esse fato é não viver. É preciso estar de espírito aberto para fazer encontros e tentar extrair o máximo de cada um deles. Todos têm algo a oferecer: boa companhia, uma conversa interessante, contato físico. E da mesma forma todos precisam de algo. Você faz parte disso, você é um elemento desta rede de interações. O que você tem a oferecer e o que você está disposto a receber?<br /><br /><br />3) Uma vida bem vivida é uma vida plena de histórias<br /><br />Desdobramento natural dessa conversa toda. Na vida uma palavra vale mais do que mil fotos. É preciso que vivamos de maneira que a imagem impressa na nossa alma, na nossa memória seja muito mais colorida que luz que impressionou o filme fotográfico, que atravessou o vidro sem vida da câmera. A câmera registra, mas não vivencia.<br /><br />Essa sensação de plenitude é poder chegar no fim da vida e poder contar mil histórias para os nossos filhos ou nossos netos enquanto vemos o sol se pôr e as estrelas aparecerem no céu. E são as histórias que temos para contar as testemunhas da nossa vida, são elas que estarão sempre lá para dizer "eu não fui um mero expectador, eu não fui vivo, fui eu que vivi".<br /><br />Histórias de riso, histórias de dor, histórias de superação, histórias de amor. São os únicos fragmentos de nós que restarão quando a carne se decompor e os ossos secarem. É através delas que as pessoas se lembrarão de nós.<br /><br />Pelo que as pessoas lembrarão de você?<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Muito bonito, mas dá para explicar a ressureição do blog?</span><br /><br />Este blog contém uma parte muito significativa da minha existência. Um amontoado de histórias testemunhando eventos que definirão o que eu serei no futuro. Ele transcendeu a missão utilistarista que tinha no início e virou algo complexo. Um meio de comunicação. Uma válvula de escape. Um auto-retrato. Uma confissão. Não consigo mais classificá-lo.<br /><br />Ultimamente muitas das pessoas que eu conheci se identificaram como antigos leitores do meu blog. Habituais, embora anônimos. Não deixavam registro de sua passagem por aqui e por isso não sabia que existiam. Fui descobrindo que este blog representou algo legal para eles. Para uns, a resposta para alguma dúvida prática sobre a vida de intercambista. Para outros, um momento de prazer, uma risada, um causo engraçado para ler enquanto vagabundeia pela internet. Para uns poucos, uma trajetória digna de nota e um modelo a ser seguido. Eu me senti tocado (isso tá meio aviadado) de saber que eu estive presente na vida de tanta gente de alguma maneira. Mais ainda de saber que para alguns eu fui considerado um exemplo. Isso traz ao mesmo tempo um quê de orgulho, de felicidade, mas também uma sensação de responsabilidade. E este blog foi o veículo de tudo isso. Ressuscitei-o hoje com a esperança de preencher um vazio interno. Agradeço a todos que mesmo sem saber me influenciaram a tomar esta decisão.<br /><br />O blog talvez sofra uma repaginada. Ele provavelmente não vai ser a mesma coisa que era antes. A ordem cronológica, por exemplo, virou mingau. Posts filosóficos aparecerão aqui e acolá e espero que eles não sejam lá muito tediosos. Fico feliz em voltar a compartilhar com todos vocês este "pequeno trecho da minha jornada sobre este mundo". Mais histórias virão, paciência.</div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-48879562487048889002010-08-13T11:30:00.005+02:002010-08-13T11:46:05.127+02:00Paris<div style="text-align: justify;">Eu andei olhando uns posts antigos e me deparei com o primeiro que eu publiquei aqui no blog. Nele eu dizia que ao chegar em Paris para fazer correspondência de trem achei tudo muito bonito, mas nao senti que aquela seria minha casa.<br /><br />Praticamente um ano depois, vejo que Nantes nunca foi minha casa, como eu disse num dos posts sobre o novo apartamento. E so agora sinto ter um lar em Nantes. Depois de quase 11 meses por la eu decidi fazer meu estagio em alguma outra cidade, pois sabia que se eu ficasse eu sufocaria e nao aguentaria começar um segundo ano na mesma cidade sem mudar de ares. E ca estou eu em Paris. A capital evidentemente é muito maior e tem muito mais coisa para fazer, mas o principal motivo para eu ter vindo foi rever meus amigos e isso eu ja havia dito antes.<br /><br />E amanha eu deixo a cidade luz para voltar pra Nantes. As ultimas seis semanas foram especiais, embora eu tenha escrito muito pouco aqui no blog e nao tenha tirado uma unica fotografia sequer, a despeito de trer trazido a câmera.<br /><br />Durante um mês e meio eu me submeti a um enduro fisico. Descobri que meu corpo é capaz de carburar alcool e <span style="font-style: italic;">fast-food</span> em proporçoes pantagruelicas. Dividi um quarto de 9m2, onde eu dormia numa cama de armar, com metade do corpo enfiado debaixo de uma mesa, pois nao havia outro lugar para colocar a cama. Raras foram as vezes que eu dormi num colchao. Passei por noites deliberadamente insones. Senti na pele os prazeres e dores de uma vida boêmia e desregrada.<br /><br />Durante um mês e meio eu senti os espinhos de ser um iniciante face às dificuldades do meu estagio. Foi bastante duro trabalhar com programaçao de iPhones, algo completamente novo para mim, ainda que eu gozasse de bastante flexibilidade de horarios e prazos. Algumas vezes cheguei até a ter pesadelos onde um iPhone e um monitor cheio de linhas de codigo incompreensivel apareciam. Saboreei o sucesso de fazer um aplicativo que funcionasse apos um mês de trabalho, para logo em seguida embarcar no desafio do aplicativo seguinte.<br /><br />Durante um mês e meio dei um mergulho no Brasil. Comi churrasco e feijoada, com direito até a farofa. Conheci muita gente. Cantei pagode. Tomei caipirinha (com cachaça 51). Digo mais, isso foi uma imersao ans minhas raizes nordestinas. Integrei um grupo de menos de meia duzia de nordestinos que sozinhos eram responsaveis por mais da metade de todas as palhaçadas e brincadeiras da roda. Saudade desse nosso jeito moleque de cearense sintetizavel numa unica interjeiçao (<span style="font-style: italic;">"yeiiiiiiiiiiiii</span>"). Saudade também de poder falar as girias da minha terra com o meu sotaque e no meu ritmo sem passar pela estranheza de ser o unico a fazer isso.<br /><br />Durante um mês e meio procurei viver minhas aventuras. Em uma aposta numa mesa de bar, fiz um camarada correr nu ao redor do gramado da Cité Universitaire apos ter virado (quase!) um litro de cerveja branca. Ele aceitou pagar a aposta ainda que eu nao tenha virado toda a caneca e eu resolvi acompanha-lo no pagamento por solidariedade. Duas criaturas branquelas numa corrida louca e esbaforida, cuecas nas maos e sebo nas canelas, arrancando aplausos de conhecidos e estranhos entre uma passagem e outra dos seguranças.<br /><br />Durante um mês e meio as aventuras me procuraram, mesmo quando eu nao as procurei. Andei de carro de policia pela primeira vez e também fui pela primeira vez a um tribunal. Isso depois de ter sido agredido por dois desses tipos marginais oriundos do processo desastroso de descolonizaçao e da politica de imigraçao mal conduzida da França. No final eu sai ganhando: tenho historia pra contar e talvez tenha 1000 euros no bolso no fim do mês que vem como indenizaçao por danos morais e fisicos. Antes que alguém pergunte, eu estou bem e nao aconteceu nada.... =)<br /><br />Durante um mês e meio acompanhei o drama dos meus amigos, que tiveram seus estagios abruptamente interrompidos por uma decisao autoritaria e pouco clara da UFC, ainda que toda a legislaçao estivesse em favor deles. Momentos nos quais muitos partilharam prantos e reminiscências, enquanto aqueles que ficam sentiam precocemente a ausencia dos que partirao. E Paris parece ficar mais cinza sem um nordestino para alegrar a Maison des Arts et Métiers.<br /><br />Durante um mês e meio historias pequenas e grandes. Um desfile militar sob a chuva. Uma multa injusta da concessionaria de transporte publico. As caminhadas voltando pela madrugada. As cançoes (afinadas ou nao) acompanhadas pelo violao, que passou praticamente esse tempo todo com uma corda faltando. As "cagadas de pau". Os jogos da copa. Os vinhos de 2 euros. Os vinhos de 4 euros acompanhados pelos queijos de 2 euros. Os <span style="font-style: italic;">desolés</span> nas portas dos bares. As caminhadas pelas ruas mais estreitas e desconhecidas que podiamos encontrar.<br /><br />Obrigado a todos que tornaram esse periodo tao especial. Esta lista certamente exclui alguns, pois minha memoria ainda nao é digital, e com alguns eu tive muito mais contato do que com outros. Alguns dos citados sequer falam português e nunca verao o blog (dois deles porque eu acho que nao tem internet na prisao), mas agradeço ainda assim. A lista nao obedece a nenhuma ordem especifica.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Residentes da Maison des Arts et Métiers e agregados:</span><br />Alexis<br />Alice<br />Ana Luisa<br />Arielly<br />Bruno<br />Carlos Breno "CB"<br />Edson<br />Ewerton<br />Fernando<br />Francisco "Cet Homme" Jonas<br />Guillaume<br />Isabella<br />Jean Patrick<br />Johann<br />Ju<br />Luique<br />Luiz "Doro"<br />Marcel<br />Nathan<br />Pedro "Master"<br />Rafael<br />Regina<br />Romulo<br />Sofia<br />Tamires<br />Thaisa<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Pessoal de Nantes e agregados:</span><br />Adrian<br />Flavio<br />Ielena<br />Igor<br />Natalya<br />Ricardo<br />Vladimir<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Maison des Industries Adro-Alimentaires (MIAA) e agregados:</span><br />Ana<br />Barbara<br />Erika<br />Iuri<br />Lais<br />Larissa<br />Pedro<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Outras escolas:</span><br />Carlos<br />Dani<br />Estevao<br />Eugénie<br />Luiz Fernando<br />Monise<br />Odile<br />Raul<br />Rodrigo<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Penitenciaria de Paris:</span><br />Wilfried BRANDENBERGER, pela cabeçada no nariz<br />William GEHRINGER, pela canetada no <span style="font-style: italic;">cou</span><br />E pela indenizaçao que vocês vao pagar<br />=)<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-10886091601828600242010-08-10T23:34:00.001+02:002010-08-10T23:37:55.295+02:00Hospedagem de bixosNao sei quantos dos bixos de Nantes estao na comunidade Orkut do Duplo Diploma 2010, entao repito aqui para quem por ventura nao tenha visto. Se alguém estiver precisando de hospedagem aqui vai uma lista dos veteranos que se dispoe a hospedar e a partir de quando, junto com os os respectivos contatos:<br /><br /><a href="http://www.orkut.com/Main#Profile?uid=4108937252884682150">Angelo</a> (06 01 37 25 92): a partir do dia 29<br /><a href="http://www.orkut.com/Main#Profile?uid=13579033554975605642">Flavio</a> (06 17 37 20 54): desde ja<br /><a href="http://www.orkut.com/Main#Profile?uid=11147771425166762689">Kaique</a> (06 46 49 51 89): a partir do dia 27<br /><a href="http://www.orkut.com/Main#Profile?uid=14978581871121594195">Thiago</a> (06 37 18 97 81): a partir do dia 29<br /><br />Se alguém souber de mais pessoas interessadas e que nao tenham acesso à este blog ou sei la o que, por favor repassem os nossos contatos.<br /><br />AbraçoAngelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-81236269393867695392010-07-28T12:27:00.004+02:002010-07-28T12:33:19.705+02:00Guia de bixo, o post definitivo<div style="text-align: justify;">Um dos meus objetivos com este blog era dar o maximo de informaçoes possiveis a quem quer que venha fazer intercâmbio aqui na França. Por isso existe a coluna "guia de bixo" por aqui.<br /><br />Mas estava eu aqui fuçando na internet e terminei achando um documento Associaçao dos Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França. Trata-se de um guia com 130 paginas de informaçao sobre os mais variados aspectos da vida de um estudante na França que faz meu bloguinho parecer brincadeira de criança.<br /><br />Vou continuar fazendo meus posts de guia de bixo, mas recomendo fortemente para quem tiver tempo (e disposiçao) dar uma lida no documento.<br /><br /><div style="text-align: center; font-weight: bold;"><a href="http://www.apebfr.org/interno/manualapeb/pdf/manual_APEBfr_2a_edicao.pdf"><span style="font-size:180%;">O super-mega-ultra-master-über-alter-supra-guia do estudante brasileiro na França.</span><br /></a></div></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-40946262305065032212010-07-15T14:30:00.000+02:002010-07-15T14:31:14.089+02:0014 de julhoEm 1789 os revolucionarios tomaram a Prisao da Bastilha e o dia da empreitada, o 14 de julho, tornou-se a data da festa nacional francesa.<br /><br />E aqui estava eu em Paris , curtindo meu feriado, encontrando os amigos... Resolvi assistir ao desfile militar na Avenida Champs Elysées. Nada de especial em assistir a um defile militar, na verdade. Mas essa experiência toda tem sido uma fonte inesgotavel de frases do tipo "aqui foi a primeira vez que eu fiz..." e eu resolvi adicionar à lista:<br /><br /><blockquote>"Foi na França a primeira vez que eu participei de um desfile militar como expectador"</blockquote><br /><br />Apos oito anos desfilando e mais metade desse periodo abominando quase qualquer coisa de origem militar, eu resolvi quebrar o jejum. Fui para avenida com meus amigos da Escola, alguns deles de passagem e outros estagiando como eu. Vi tudo o que eu ja conhecia, mas dessa vez pelo outro lado da cerca.<br /><br />Alguns fatos merecem ser observados:<br /><ul><li>O calor é o mesmo do lado de fora e, embora nao estivesse trajando um uniforme de gala, a proximidade da multidao potencializava o efeito...</li><li>Falando em multidoes: estar no meio de uma multidao na França durante o verao pode ser uma experiencia traumatica para o seu sistema olfativo.</li><li>Para conseguir um bom lugar no publico é necessario sofre quase o mesmo tanto que o pessoal que desfila, mas sem o glamour de ser aplaudido.</li></ul>Conclusao: tirando as semanas de preparaçao para o desfile e todo o sofrimento da vida militar, é muito mais confortavel desfilar que assistir ao desfile.<br /><br />Intrigante mesmo foi o quanto o desfile me agradou. Apos uma longa espera sob o sol, o desfile começou ao mesmo tempo em que o céu começou a desabar em toneladas de chuva. Melhor pra mim, pois enquanto as pessoas se abrigavam eu ia conseguindo um local cada vez melhor para assistir (e roupas que rapidamente foram de molhadas a encharcadas).<br /><br />Primeiramente aconteceu o desfile da Aeronautica, mas sob nossas cabeças. Pelo menos 50 aeronaves passaram sob a avenida, sendo o primeiro grupo formado por nove caças que pintaram as cores da França com fumaça sobre os Champs Elysées. Foi realmente deslumbrante, ao menos para um apaixonado por aviaçao como eu, ver a silhueta de um Rafale passar sobre mim e escutar o ronco das suas turbinas.<br /><br />Em seguida, um regimento de cavalaria com ao menos 100 cavaleiros e uma banda montada inclusa abriram o desfile de terra. Eles foram seguidos de grupamentos de exércitos de naçoes africanas convidadas para o desfile. Todas elas ex-colonias francesas comemorando 50 anos de independencia.<br /><br />Os grupamentos se seguiram, um a um, sem obedecer a uma ordem precisa de Marinha-Exército-Aeronautica-Policia-Bombeiros como no Brasil. Escolas de cadetes, grupamentos de montanha, alunos de escola de engenharia... O que se percebia logo de cara é que dentre todas as forças os bombeiros sao os mais admirados por aqui e foram os unicos que foram consistentemente aplaudidos.<br /><br />O desfile a pé se encerrou com a Legiao Estrangeira, a tropa que eu mais queria ver. A Legiao marcha na cadencia de uma cançao deles, bem lenta, bastante particular... Eles marcham numa velocidade muito inferior à de todos os demais grupamentos e, por essa razao, eles fazem um percurso menor para nao atrapalhar o desfile. Eu dei o azar de me posicionar antes do local de entrada da Legiao e a unica coisa que eu vi deles foi as nucas.<br /><br />O regimento de cavalaria passou mais uma vez, desta vez anunciando o desfile motorizado. Foi muito interessante ver os carros, os blindados e os tanques, mas confesso que nao me empolgou tanto quanto o desfile a pé.<br /><br />Findo o desfile em terra, novo desfile no céu. Diversos esquadroes de helicopteros passaram sobre a avenida e sob uma chuva assustadoramente grossa. Apos a passagem do ultimo grupo de helicopteros, o sol deu as caras (obrigado, Murphy) e um derradeiro helicoptero passou la no alto projetando para-quedistas. cada um deles trazia uma bandeira de um dos paises africanos convidados.<br /><br />Na entrada do metro, no meio da multidao que tentava deixar o lugar eu vi que meu celular tinha entrado em coma... Fui com o pessoal do até um McDonald's e pegamos (muita chuva) saindo do metro. Ressucitei o meu aparelho com a ajuda do secador elétrico do banheiro. para completar o programa de indio, voltamos de onibus porque o metro inundou com tanta agua.<br /><br />Retornei à Maison des Arts et Métiers, onde estou hospedado, e descansei praticamente a tarde inteira e o começo da noite. Meus colegas planejaram de ir à Torre Eiffel para ver a tradicional queima de fogos, marcada para as 23:00. Horario previso de chegada: 20:30. Eu ja estava farto de muvuca por aquele dia e decidi ir com o pessoal da ENSAM para um local mais afastado, mais calmo e onde poderiamos chegar mais tarde. Confesso que eu fiquei com inveja da galera da Centrale que foi para perto, pois foi espetacular. De onde estavamos vimos que foi fantastico, mas tenho certeza que para aqueles que estavam aos pés da torre a experiência deve ter sido no minimo arrebatadora...<br /><br />penso que agora entendo porque eu desaconselho o Reveillon em Paris. Acho que porque eu esperava ver na virada do ano um espetaculo comparavel ao que eu vi ontem...Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-17593712523769996622010-07-15T14:04:00.003+02:002010-07-15T14:29:58.651+02:00Mudanças de endereço!!!! 2<div style="text-align: justify;">No segundo dia de estagio eu estava tao ou mais ferrado quanto no anterior. O ponteiros do relogio pareciam estar parados. Sensaçao terrivel...<br /><br />Pelo menos o trabalho me poupou de ver a maior parte do papelao que o Brasil fez nas quartas de final da copa do mundo. Jantei o resto da sopa do dia anterior (boa como sempre) e terminei a arrumaçao da mala. A "bagunça residual" do quarto foi devidamente encaixotada e enfiada debaixo da cama.<br /><br />Eu deixava Nantes. Nao é que eu nao goste dela, mas eu tinha uma sensaçao de que eu precisava tirar férias. Férias dela. Eu ja passaria dois meses estagiando, entao queria ao menos passar esse tempo todo em uma cidade que pudesse me oferecer mais. Dai a razao de eu ter pedido ao meu chefe para estagiar em Paris.<br /><br />Aqui eu estou sendo hospedado por um amigo meu da Federal do Ceara e companheiro de PET (Programa de Ensino Tutorial), o Romulo. Ele e o Nathan, igualmente ex-petiano e colega da equipe de aerodesign Aeromec, sao os dois alunos da engenharia mecanica da UFC que vieram na mesma epoca que eu para a França para fazer o programa Brafitec. Eles estudam na ENSAM (Ecole Nationale Superieure des Arts et Métiers) e moram na Laison des Arts et Métiers, dentro dum complexo residencial estudantil ao sul de Paris chamado de Cité Universitaire.<br /><br />Meu estagio aqui consiste em desenvolver um aplicativo iPhone para relatar perturbaçoes numa linha de onibus de Nantes. Ele tem a grande vantagem de ser um trabalho intelectual e nao "braçal", como é o esperado para esse primeiro estagio. O grande problema é que eu nao sou familiarizado com a linguagem e as ferramentas necessarias para fazer o problema. E, pasmem, ninguem na minha empresa é. Eu fui contratado para aprender a fazer o serviço e ensinar antes de ir embora. Segundo meu chefe isso é infinitamente mais barato do que contratar alguem para fazer o serviço, coisa que ele também faz, mas com a vantagem adicional (para mim) de ser um estagio. Ele diz que nao é dramatico se eu nao conseguir terminar e que isso é até esperado.<br /><br />Eu gozo de uma série de privilégios no trabalho. Explico-me. A funçao do escritorio em Paris é servir como local de reunioes com parceiros de nivel nacional e, via de regra, ninguém trabalha aqui. Isso significa que eu fico sozinho no escritorio. Isso também me da o direito de nao vir ao escritorio se eu quiser, salvo esporadicamente para ver se tudo esta em ordem, e trabalhar em casa. A unica condiçao é que eu faça o meu trabalho.<br /><br />Eu tento me forçar a vir, para criar uma rotina de trabalho. Infelizmente na minha primeira semana eu tive alguns dissabores com o sistema de transporte publico de Paris. O pagamento do meu passe de transporte mensal nao funcionou e enquanto eu aguardava a fatura do meu cartao pra saber se ela tinha sido descontada ou nao eu usei tiquets de metro normais. Apos duas viagens de ida e volta sem problema algum, fui bloqueado numa catraca no terceiro dia. Uma fiscal da empresa disse que eu estava ilegal, que aqueles tiquetes nao valiam para aquela regiao e que eu deveria pagar 25 euros de multa (a recusa em pagar a multa implicava em pagar uma multa posterior de 47 euros). Bingo! Tirei a sorte grande. Isso, juntamente com a dificuldade do estagio, me abateu profundamente na semana passada.<br /><br />O meu humor melhorou um pouco depois de uns dois dias de boemia, mas sobretudo depois de encontrar o Igor. Ele é um colega meu da Centrale Nantes, um expoente niponico da Engenharia de Computaçao da Politécnica da USP (mais brevemente: POLI). Enquanto eu tentava explicar a minha dificuldade para ele, eu subitamente entendi uma série de conceitos que nao havia entendido antes. Ainda assim, eu nao consigo sair do canto. A linguagem é extremamente complexa e o proprio Igor confirmou isso, mas pelo menos agora eu sou capaz de decifrar varias linhas de codigo que antes nao tinham sentido algum para mim.<br /><br />A vida segue em Paris, numa atmosfera muito mais elétrica que a de Nantes. A cidade é extremamente cosmopolita e rica e eu nao me canso de certas coisas daqui. Uma delas é contemplar a Torre Eiffel, coisa que eu fiz duas vezes na semana passada... A minha vida desregrada dos primeiros dias vai entrando nos trilhos e tudo vai se ajeitando.<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-53844539097106219522010-07-15T13:36:00.002+02:002010-07-15T14:04:08.591+02:00Mudanças de endereço!!!!<div style="text-align: justify;">Fim do semestre, periodo louco, mil provas, dez mil trabalhos, todo mundo arrancando os cabelos... Além de todos esse problemas academicos impostos pela escola uma série de outros problemas de ordem pratica nos tiram do sério.<br /><br />Era uma quarta feira, as ultimas provas aconteceram pela manha. E chegada a hora de se mudar. Depois de infinitas viagens carregando moveis na cabeça e dentro do bonde, chega um momento em que ano da mais e um carro se faz necessario. Optamos por alugar uma caminhonete para fazer a fase final da mudança: levar a geladeira, e a maquina de lavar e esvaziar os apartamentos de cada um na residencia.<br /><br />Uma tarde e uma noite para comprar a geladeira e mais outros moveis que faltavam e a madrugada miou ao mesmo tempo em que esvaziavamos nossos quartos. Foram inumeras as viagens feitas, pois a caminhonete so tinha espaço para duas pessoas. Eu e o Vladimir nos revezavamos no banco do carona enquanto o Thiago dirigia para la e para ca. Quando chegavamos no apartamento novo, nos limitavamos a jogar o conteudo da caminhonete na garagem e deixar a organizaçao para depois. A Katinka ajudou no começo, mas depois se colocou à margem. Agravante: o meu estagio e o do Vladimir começariam na quinta, no dia seguinte, e ja estava claro que nao dormiriamos.<br /><br />O meu estagio seria em Paris, mas eu deveria fazer os deois primeiros dias em la Chapelle sur Erdre. So na sexta à noite eu iria a Paris. E isso era outro problema a ser resolvido: além da mudança de endereço em Nantes, eu deveria fazer minhas malas para passar dois meses em Paris. Para isso eu precisava organizar o meu quarto o minimo possivel, encontrar tudo o que me seria necessario em Paris e, ai sim, organizar minha mala. Foi por isso que na ultima descarga da caminhonete (às 6:30) o Thiago e o Vladimir voltaram e eu fiquei no apartamento. Durante meia-hora eu tentei loucamente por alguma ordem no cenario de guerra que era o meu quarto outrora vazio. Esforço vao. Fui para o estagio com uma noite de sono cortada da minha vida e uma bagunça imensa por organizar.<br /><br />Evidentemente, trabalhar nessas condiçoes nao foi nada agradavel. O dia se arrastou e eu nao produzi absolutamente nada. Fico feliz que ninguem tenha me visto (ou me repreendido) enquanto eu dava micro-cochilos. Voltei para casa no fim do dia e recomecei a oraganizaçao. A Katinka chegou logo em seguida e começou no quarto dela. O Vladimir ligou dizendo que estava chegando e me pediu para comprar cerveja para comemorarmos a mudança. Eu falei que ele estava louco, que eu precisava trabalhar no dia seguinte, que eu precisava fazer minhas malas. Apos alguns poucos minutos de discussao, evidentemente, eu parei o que estava fazendo e fui comprar a bendita cerveja...<br /><br />A Katinka foi embora por nao lembro qual motivo e ficamos eu e o Vlado por la... Cadeiras na varanda, pés sobre o parapeito, cervejas na mao. A bagunça e uma mala semi-feita ainda me esperavam no quarto, mas a nuvem de sono que pairava em cima dos meus olhos estava se dissipando. Era impossivel nao se deleitar com aquele momento: aquele apartamento era finalmente nosso. Passamos algumas horas ali, jogando conversa fora e esvaziando garrafas. Falavamos da vida, dos nossos planos pro segundo ano, de como estavamos preparando nossa casa para receber visitas dos novatos, de como o nosso primeiro ano tinha se passado. Bebiamos cerveja e tomavamos sopa russa, preparada na cozinha improvisada às nossas costas.<br /><br />O Thiago chegou mais tarde, depois de muita enrolaçao e atraso (como sempre), mas a tempo de tomar as ultimas garrafas da noite. Ja passava de 3:00 da manha e o peso da vigilia da noite anterior se fazia sentir novamente. Arrumei mais algumas coisas e dei boa noite aos caras. Me deitei na <span style="font-weight: bold;">minha</span> cama, no <span style="font-weight: bold;">meu</span> colchao e dormi minha primeira noite na <span style="font-weight: bold;">nossa</span> casa. Ao me levantar de manha, o Thiago dormia o sono dos justos na cama dele e o Vladimir saia pro estagio. Finalmente tomavamos posse do apartamento.<br /><br /><br />P.S.: Eu nao desaprendi a escrever. Eu estou usando um teclado padrao frances (AZERTY), que é bem diferente do padrao americano ao qual estamos habituados (QWERTY) e por isso o texto esta assim; carecendo de acentos.<br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-548194684181485272.post-21702034658663957862010-06-25T23:12:00.004+02:002010-07-15T14:33:07.670+02:00Residência no segundo ano: post prático<div style="text-align: justify;">Estou feliz. Massa, mas isso não te ajuda muito, não é, caro novato? Então discutamos um pouco essa aventura que é achar residência pro segundo ano.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Locação ou colocação?</span><br /><br />Uma das primeiras perguntas a ser respondida é se você quer morar sozinho ou com colegas (colocação). Há três anos todos os alunos brasileiros de Duplo Diploma moravam em apartamentos individuais. Há dois anos todos moravam sozinhos, exceto três que moravam em colocação. No ano passado apenas dois moravam em apartamentos individuais. Na minha turma todos vão morar em colocação.<br /><br />Para habitar em colocação é necessário achar um imóvel cujos proprietários estejam dispostos a assumir esse tipo de locação. As opções mais populares geralmente são os apartamentos no centro, pois permitem vivenciar o clima da cidade. O trajeto diário até a escola pode ser um ponto contra, mas nada que seja realmente incoveniente. A colocação é bem interessante, pois você tem que aprender a compartilhar e a conviver com pessoas que você não conhece há mais do que um ano. Isso, evidentemente, tem prós e contras e depende da sua afinidade com as demais pessoas e a sua predisposição para morar com "desconhecidos".<br /><br />A colocação parece ser uma tendência, mesmo entre os franceses, mas não é uma unanimidade. Aqueles que prezam a individualidade podem ser seduzidos pela idéia de morar sozinho. As possibilidades são inúmeras: alugar um estúdio em praticamente qualquer lugar da cidade, morar em um foyer (banheiro e cozinha compartilhados) ou em uma residência universitária cheia de gente na mesma situação. Morar sozinho não significa necessariamente morar isolado e pode sim ser uma boa oportunidade de fazer amigos, sobretudo nas residências universitárias. Para procurar um estúdio o procedimento é basicamente o mesmo que procurar um apartamento para colocação. Já as residências universitárias são normalmente reservadas através de órgãos de apoio aos estudantes, como o CROUS.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Onde achar o apartamento?</span><br /><br />A opção mais popular para conseguir um apartamento é tentar substituir uma colocação de veteranos. Isso é feito através de um acordo com o proprietário e assim que os veteranos deixarem o imóvel o contrato dos novos locatários começa. A grande vantagem disso é pegar um apartamento conhecido e com referências dos veteranos. No entanto, é preciso prestar atenção ao tal do acordo, que muitas vezes é simplesmente verbal. Meu grupo pegaria uma casa para cinco pessoas num bairro extremamente bem localizado, a meio caminho entre a escola e o centro. Tínhamos um acrodo com os proprietários, mas eles decidiram colocar outro grupo no nosso lugar sem ao menos ter a decência de nos avisar. O motivo nós descobrimos pouco depois: xenofobia.<br /><br />Se pegar uma colocação de veteranos não for possível é necessário procurar um apartamento. O ideal é procurar anúncios de particulares, pois é mais barato e menos burocrático. Recorrer a agências imobiliárias dá acesso a um leque maior de opções mas é mais caro, pois além da caução ao proprietário é necessário pagar uma taxa extra (e bem salgada) para a imobiliária.<br /><br />Nós utilizamos outra opção, que desconhecíamos até então. Existe aqui uma agência imobiliária chamada Logéka. Ela tem muitos anúncios, pois diferentemente das demais agências ela não cobra taxa para os proprietários anunciarem sus imóveis. Isso evidentemente tem um porém: os locatários têm que pagar 160 euros para ter acesso a lista de imóveis disponíveis com o contato direto dos proprietários, mas sem ter sequer certeza de que vão achar algo que lhes interesse. É perigoso, mas oferece a vantagem de tratar diretamente com os proprietários sem ter que pagar taxas pra uma agência imobiliária. Demos sorte e encontramos um apartamento muito bom e que nos agradou muito.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Como mobiliar?</span><br /><br />Se você conseguir um apartamento mobilhado, ótimo. Se não, é um pouquinho mais trabalhoso, mas não é impossível. De qualquer forma, mobilhado ou não, todo mundo termina comprando móveis. O que se faz habitualmente é comprar móveis dos veteranos. Costuma ser num preço justo e eles têm necessidade de vender antes de ir embora, então é conveniente para todo mundo.<br /><br />As outras opções são comprar móveis novos em lojas especializadas (IKEA, Conforama, etc...). O chato de comprar móveis novos é que eles são caros, mas o investimento pode ser em parte recuperado na revenda no fim do segundo ano.<br /><br />Optamos por procurar primeiro móveis usados. A primeira alternativa que pensamos foram as feiras "vide grenier" (esvazia sótão, algo como as feiras de garagem que vemos tipicamente nos filmes americanos). Para comprar móveis os "vide grenier" revelaram-se um fiasco, mas mostraram-se muito úteis para comprar outras coisas para a casa como louças, cortinas, luminárias, roupa de cama, etc...<br /><br />A melhor opção para nós, no entanto, foi o site <a href="http://www.leboncoin.fr/">leboncoin.fr</a>. Lá você pode encontrar mil tipos de coisas de segunda mão, inclusive móveis. Como nesta época tem muita gente se mudando a oferta de móveis é bem grande e não é raro encontrar móveis de qualidade vendidos a preços baixos por que os donos precisam vender logo. Até agora não copramos um único móvel novo e basicamente todos foram conseguidos através desse site. O incoveniente é que geralmente o transporte dos móveis é por conta dos c transportados à moda "lombo de jumento" pelas ruas desta pacata cidade e diante dos olhares supresos e por vezes incrédulos dos habitantes. Os últimos três dias foram bem movimentados e rodamos uma boa quilometragem com móveis nas nossas cabeças ou fazendo malabarismo para enfiar tudo dentro do bonde.<br /><br />E quando as minhas forças e as do Thiago estavam se exaurindo, o Vladimir, um monstro incansável e de força descomunal, continuava carregando o peso nas costas. Inacreditável.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Como conseguir um fiador?</span><br /><br />A maior parte dos proprietários exigem um fiador para a assinatura do contrato. Esse papel normalmente cabe aos pais, algo que não pode ser feito no nosso caso. A opção que resta aos estrangeiros então é procurar um fiador em uma instituição de apoio aos estudantes. Na associação de alunos da nossa escola conseguimos o contato para encontrar um fiador com o governo da região. O inconveniente é que a burocracia é muito grande e por isso algumas imobiliárias não aceitam esse procedimento.<br /><br />Se você der uma choradinha, disser que o fiador do governo é muito difícil de conseguir e que a agência está enchendo o seu saco é provável que você consiga um fiador com a própria associação de alunos. Nós resolvemos insistir com o fiador do governo, mas alguns colegas cosneguiram o fiador na escola.<br /><br /><br />Basicamente essas são as principais questões a serem consideradas. Se lembrar de algo mais eu colocarei por aqui.<br /><br />Espero que isso seja útil para vocês durante a mudança!<br /><br /></div>Angelo Bezerra Modolohttp://www.blogger.com/profile/16370927258187017976noreply@blogger.com2