A burocracia de partida

Logo no começo uma das maiores dificuldades é se adaptar ao modo francês de resolver as coisas. Principalmente quando se trata de burocracia. O sistema aqui pode ser muito confuso para um estrangeiro e não é raro errarmos ou fazermos mau negócio por causa do desconhecimento e/ou dificuldade com a língua. Algumas coisas devem ser resolvidas e eu vou tentar explicar detalhadamente.



Conta bancária
Você não é ninguém até que você possa dar dinheiro aos outros. Quase todo contrato que se faz aqui exige um RIB (Relevé d'Identité Bancaire). Além disso, existem muitos pagamentos que não são feitos senão por cheque, sobretudo cauções. Para abrir a conta é necessário:
- Cópia do passaporte
- Cópia do visto
- Comprovante de matrícula
- Comprovante de residência

Os comprovantes de matrícula e de residência só são recebidos pelos estrangeiros quando chegam na escola e recebem o apartamento.



Seguros
É sem dúvida a parte mais chata. Aqui existe seguro para tudo e muitos deles são obrigatórios.

1) Seguro saúde (Assurance maladie ou Serurité Sociale): É obrigatório e deve ser pago ao governo francês. O custo é de 198€ por ano e é pago à École para que a Diretoria de Relações Internacionais trate com o governo. O seguro ajuda em alguns custos de saúde, mas não todos. Em alguns casos é necessário pagar uma parte do tratamento. Os bolsistas da Egide são isentos.

2) Seguro saúde complementar (Assurance mutuelle complementaire): Não é obrigatório, mas é altamente recomendável. Esse seguro paga algumas das despesas não cobertas pela Assurance maladie. Para fazê-lo é necessário recorrer a seguradoras particulares, sendo a mais popular aqui a SMEBA. O custo varia dependendo da cobertura. O plano mais simples é 78€ por ano e o mais completo é 456€ por ano. Existe a opção de pagar mensalmente ou de uma batelada só.

3) Responsabilidade civil (Responsabilité Civile): Não basta um seguro para quando você se ferrar, é preciso ter um seguro pra quando você ferrar os outros. Isso é o seguro de responsabilidade civil. Para os estudantes é obrigatório que o seguro cubra os sinistros que possam ocorrer durante os estágios e é extremamente importante verificar isso antes de fechar o contrato, do contrário será necessário fazer outro seguro ou arcar uma recisão contratual. Muitos bancos oferecem esse seguro como cortesia para a abertura da conta. O banco onde eu abri a conta oferecia, mas acho que por alguma confusão na hora de marcar o formulário eu escolhi outra opção. Resolvi fazer na SMEBA, paguei mais caro por isso, mas me poupei da dor de cabeça de rever o contrato do banco. Além disso, era apenas 12€.

4) Seguro residência (Assurance habitation): É necessário para regularizar a situação com os proprietários da residência universitária. Os valores mudam bastante, pois depende do tipo de residência e da quantidade de colocatários. Alguns bancos oferem como cortesia, era o caso do meu. Mas como eu disse acima, eu fiz alguma besteira e perdi essa oportunidade. Procurei a SMEBA para fazer o seguro, o valor era de 39€ sem cobertura de furto e 51€ com cobertura de furto. Optei pelo plano mais completo, embora acredite que não terei problemas com isso.



Residência
Outra grande complicação. Para estar em situação regular é necessário preencher duas fichas, apresentar um RIB, apresentar uma cópia do visto, ter um seguro habitação e deixar um cheque-caução de 380€. Neste momento ainda estou irregular, pois nem o meu talão de cheques nem o meu cartão chegaram e para isso eles aceitam apenas cheque.



Ajuda de aluguel (CAF)
Existem na França ainda alguns indícios do governo socialista de François Mitterand. Um deles é a Caisses d'Allocations Familiales (CAF). Trata-se de um órgão que concede ajuda financeira para o pagamento de aluguel. Para estrangeiros um dos documentos necessários é o Titre de séjour, uma espécie de visto estudantil de longa duração. Para fezer o Titre de séjour é necessário preencher um formulário entregue ainda no Brasil, quando recebe-se o visto na embaixada francesa, e enviar por correio para um escritório do serviço de imigração. Após alguns dias o escritório envia uma convocação para uma visita médica, que custa 55€.

Durante os primeiros dias nos disseram que a Direção de Relações Internacionais cuidaria disso por nós. No entanto, decidi enviar logo hoje por conta própria por ter achado os responsáveis da École demasiadamente morosos.

O meu aluguel aqui é de 220€, mas isso depende do apartamento em que você é alocado. Tive sorte de pegar um barato e, por outro lado, azar por ser pequeno. Com a ajuda da CAF esse valor pode chegar a 100€ ou menos.




Há muitos gastos no primeiro mês, sejam de taxas ou de materiais para a casa. Eu estimo que encerrarei setembro com uma despesa total de cerca de 1800€, contando gastos com alimentação e lazer. É interessante prever esses problemas e ter economias para servir de lastro.

One response to “A burocracia de partida”

Bruno Bez disse...

mah esse post ta muito técnico, mas deu pra entender alguma coisa! na proxima posta fotos de alguma aventura! abraço

Postar um comentário