Primeiras compras

Eu optei por vir para a França com pouca bagagem e dois motivos foram fundamentais para essa escolha. O primeiro foi a experiência que eu tive na Escola Naval, eu sabia os desconfortos que o excesso de bagagem provocam e simplesmente não gostaria de me submeter a eles novamente. O segundo era a a minha viagem de ida, que eu já sabia que seria bem complicada e uma bagagem enxuta iria me ajudar, e de fato ajudou, muito.

No fim das contas eu vim para cá com uma mala de 18kg e uma mochila de 5kg. O limite para viagens internacionais é duas malas de até 32kg e um volume de bagagem de mão de até 5kg. Já pude reparar que a média é duas mala de 20 kg em média mais a bagagem de mão. Para conseguir tão pouco peso eu me privei de trazer alguns coisas e decidi comprá-las aqui. Algumas dessas coisas são: toalha (só trouxe uma), roupa de cama (só trouxe um jogo), roupas de frio, mochila de uso diário ou mochila para notebook e camisetas (trouxe relativamente poucas).

Muitas pessoas brincaram comigo em tom de incredulidade até. A minha decisão é pouco usual e eu cheguei mesmo a acreditar que tinha sido um mau negócio. De fato não é bom ter gastos em euro, mas acreditava que isso seria suplantado pela bagagem enxuta. E agora vejo que foi uma boa idéia. Hoje estive no que acho que seja o único shopping center de Nantes e tive oportunidade de pesquisar alguns preços, que eram bem compatíveis com o que se encontra no Brasil. A minha ida ao lugar foi motivada pela necessidade de uma toalha e algumas roupas de frio, nada muito pesado, procurava algo para compor camadas para poder me virar em um frio intermediário.

Para roupas vale destacar a Kiabi e a Decathlon, ambas na região do shopping. A Kiabi é uma loja de roupas que lembra muito a C&A, que existe por aqui também, aliás. Alguns preços chave a destacar: um moleton com zíper de cima a baixo custava 14,90€ e podia-se comprar três camisetas de manga de cores variadas por 9€. Havia mesmo uma promoção para alguns artigos e que possibilitava comprar uma segunda peça de roupa por 1€. A Decathlon é uma loja de artigos esportivos semelhante à Centauro, mas havia uma boa variedade de roupas por lá. Lá eu comprei um polar (espécie de moleton) por 9€ e duas camisetas de manga por 2€ cada. As camisetas eram disponíveis apenas nas cores branco e preta. Havia uma outra linha que tinha outras cores, mas cada uma custava 3,50€.

Depois disso fui ao shopping e entrei numa loja de artigos domésticos chamada Ikea, que é a loja aonde os veteranos levam os novatos no início do semestre para mobiliar a residência. Na Ikea é possível comprar desde móveis até artigos de cama, mesa e banho. Procurava uma toalha, mas achei apenas modelos infantis. O que me chamou atenção, no entanto, foi a lanchonete da loja: era possível comprar um hot dog por 0,50€ e um copinho de sorvete por 050€. Havia outras coisas muito em conta também. Foi a junk food mais barata que eu vi até agora.

No shopping há também um supermercado, o E.Leclerc. Existe outra loja da mesma rede, que é conhecida como uma das mais baratas, próximo da école. Comprei uma toalha por 3,50€ (120cm X 90cm), mas havia uma toalha de 1,70€ também (70cm x 50cm). A comida congelada é muito prática e é bastante barata por aqui, compensa para muitas ocasiões. Uma baguete de pão (um pedaço de pão de mais de 80 cm de comprimento) custa apenas 0,66€.

Rendez-vous de l'Erdre. Que pena que acabou!

E acabou o festival de Jazz e Blues que mais me pareceu um artifício desta cidade para me seduzir. Foram-se as barraquinhas de comida, mas ainda deu tempo de tomar suco de bissap! Foram-se as pessoas da rua, o barulho, a efervescência de uma cidade em festa. Foram-se embora os músicos, todos tarimbadíssimos. Ficam as primeiras impressões e alegria de ter vivenciado tudo isso. E o melhor: ano que vem tem mais, o festival é tradicional!



Aqui vão as bandas as quais tive oportunidade de conhecer e minha impressões sobre cada uma.

Meivelyan Jacquot: Um grupo de jazz tradicional. A apresentação deles foi uma homenagem ao saxofonista Wayne Shorter. As melodias eram bem assobiáveis, tradicionais, agradáveis de ouvir.

Jeff Treguer: Com um repertório mais próximo do swamp blues, o blues mais caipira, o grupo do francês de Finistère(em francês: Fim do mundo, uma região próxima aqui de Nantes) animou a galera. O blues cantado em inglês com sotaque francês é até interessante...

Jean Louis: Segundo o guia do festival "isso é poderoso e explosivo". Não poderia haver definição melhor. O trio é formado por um trumpetista (Jean-Louis), um contrabaixista(contrabaixo acústico) e um baterista. O mais interessante é que tanto o contrabaixista quanto o trumpetista utilizavam processadores de efeitos em seus instrumentos, às vezes chegava a ser psicodélico. E às vezes chegava a ser barulhento também... Não foram raras as vezes em que eu tinha a impressão de que o contrabaixista e o baterista tocavam enquanto Jean-Louis se masturbava musicalmente.

Mac Arnold & Plate full o'blues: O que um veião de 67 anos, um pedaço de pau, três cordas e uma lata de querosene fazem? Um puta dum blues! A apresentação foi simplesmente fantástica. Os americanos da Carolina do Sul (exceto o baterista, que era da Carolina do Norte) interagiram com o público. Para que falar o mesmo idioma se a música já diz tudo?

Houve outras bandas que eu pude ver e muitas delas eu não sei sequer o nome, pois se apresentaram em palcos alternativos e seus nomes não constavam guia. Outras eu vi por pouco tempo e não seria justo emitir juízo de valor.

A única certeza que eu tenho é de que ano que vem estou aqui de novo pra ver.

Jazz, blues, boudin!

A primeira caminhada para conhecer a cidade ocorreu após uma bela noite de sono, umas doze horas pra ser mais exato. Embora Nantes tenha um sistema de transporte público eficientíssimo, cuja espinha dorsal são quatro linhas de bonde, decidi ir a pé. O primeiro motivo é que a pé é possível depreender melhor os vários aspectos da cidade. O segundo é que a cada vez que eu multiplico os preços por três me dá uma dor no coração...

O percurso incluiu um passeio pelo centro da cidade e uma visita rápida ao Chatêau des Ducs de de Bretagne. Além disso, dei uma passada no museu naval Maillée Brézé, que é uma antiga antiga fragata da marinha francesa recomissionada para esse fim.

Durante esse primeiro contato percebi que alguns palcos estavam sendo montados às margens do rio Erdre, afluente do Loire. Havia placos até sobre alguns barcos e mesmo um palco flutuante no centro do rio. Descobri que todo o rebuliço seria para realizar um festival de Jazz e Blues durante a sexta, o sábado e o domingo. E o melhor: de graça. Infelizmente ontem (sexta-feira) cheguei quase no fim, pois tive de resolver algumas coisas. Hoje eu pude assistir a algumas apresentações e foi ótimo.

Ao longo do Erdre estão montadas diversas barraquinhas onde são vendidos todos os tipos de quitutes da região. Ontem, por exemplo, comi chichi, que nada mais e do que os nosso churros com uma porção de nutella (creme de avelãs) para acompanhar. Aliás, quase tudo aqui leva Nutella, o povo gosta bastante disso.

Hoje resolvi fugir um pouco do normal e investir em novas experiências gastronômicas. Um filosofia meio "um dia eu me lasco fazendo isso, mas não tô nem aí". Desde ontem estava de olho em uma banquinha de comida senegalesa e hoje não resisti. Eu e o Márcio, outro cearense aqui em Nantes e que vai iniciar um ano de estudos pelo Braftec, resolvemos encarar a parada. Aqui vai as experiências do dia:

Suco de gengibre (2€): O nome é meio que auto-explicativo, embora não seja comum no Brasil. Conhece aquela sensação de beber Coca-Cola gelada com um Halls preto na boca? Bem, o suco é mais ou menos isso. Imagino que se misturar com Red Bull e catuaba fique um negócio muito doido!

Suco de Bouyie (2€): Agora complicou não é? Resolvemos tomar na cara e na coragem. Sem saber exatamento o que era. Perguntamos para a vendedora do que se tratava esse suco e outro (de bissap). Ela falou algo sobre uma árvore que cresce de cabeça pra baixo e um coco. Como isso não adicionou muita coisa de útil, resolvemos tomar assim mesmo. O suco tem um aspecto leitoso, caramelizado, com um aroma perfumado e um gosto que lembra um pouco o leite de soja. Excelente! Valeu a pena a tentativa. A propósito, esse é o bouye.

Accras (três por 1€): Outra coisa que compramos sem conhecer. Passamos numa banquinha, havia muita gente na fila e entramos também. Descobrimos que a fila era devido ao bom preço dos accras, que pareciam muito populares. Trata-se de um bolinho frito de peixe, uma espécie chamada morue, e é realmente muito gostoso.

Boudin antillais (1€): Esse foi a vedete do dia. Era algo preto, parecido com uma linguiça. Tinha um aspecto meio nojento, parecido com aquilo que largamos no vaso no dia-a-dia, mas resolvemos tentar. Perguntamos como era e falaram que era apimentado. No entanto, não tivemos coragem de perguntar com era feito. De fato o boudin antillais parece uma linguiça na sua forma de confecção, mas o interior é mole, parece uma geléia. Provavelmente é feito de sangue. É realmente apimentado, mas há um gosto doce no fundo, algo como cravo, eu acho. Era gostoso, mas nojento, e a pimenta incomodou um bocado depois.

É isso aí! Enquanto eu não tiver um desarranjo intestinal eu continuo minhas experiências gastronômicas.

Au revoir!

Email que enviei aos amigos e parentes quando da minha chegada em nantes

Galera, aviso logo que vai ser um email muuuuuuuuuuuuuuuito longo. Não precisa ler tudo, estou mandando para dar notícias minhas para vocês. A parte mais importante do email é essa: cheguei e estou bem, não tive grandes problemas na viagem. Mas os detalhes vêm à seguir e podem ser interessantes. =P

Os detalhes incluem:
- Brigas, intrigas e bate-boca;
- Cachorros em aeroportos;
- Desodorantes de 10€ (por isso que esse povo fede!!!);
- Uma estação de trem mal-assombrada;
- Um pouco de drama, vai...;
- Skinheads (agora vocês estão se interessando);
- Sono, cansaço, mais sono e pitadas de estafa.



FORTALEZA-LISBOA:
Depois do bota-fora eu e a Thiane (École Centrale de Lyon) entramos no saguão de embarque. O embarque atrasou uns 20 minutos. Já no saguão a gente se sentiu numa torre de Babel. Italiano, português, francês, alemão e idiomas do leste europeu. O avião era padrão, cada poltrona era equipada com um monitor individual, fones de ouvido e cada passageiro tinha à sua disposição 16 canais de vídeo e 12 de áudio. Dos canais de vídeo valem destacar três: o primeiro era um informativo de características do vôo, altitude, velocidade, temperatura externa, posição, tempo estimado de chegada e horários variados, o segundo era uma câmera posicionada no bico do avião, voltada pra frente para que os passageiros acompanhassem os movimentos do avião segundo a ótica do piloto, a terceira era a imagem de uma câmera posicionada na fuselagem, virada pra baixo. Foi legal para ver Lisboa do alto.

Eu esperava dormir nesse vôo e tomei dois comprimidos de dramin para garantir que conseguiria, mas havia um mal-educado alemão ou de algum país do leste europeu ocupando os dois assentos de trás e ele me impedia de reclinar o meu assento empurrando com o pé. Pedi educadamente, ele acedeu, mas logo depois continuou empurrando e às vezes chutando. Para desopilar assisti a um filme (17again) e ouvi música (Radio Africa... só baticum!).

Depois do incidente com o sujeito do banco de trás, eu comecei a refletir. Será que nós somos tão mal-educados quanto dizem que somos (ou quanto achamos que somos)? Houve três incidentes no avião, bate-bocas, que só foram resolvidos, e ainda assim um deles parcialmente, com a intervenção dos comissários. Das confusões, duas foram entre italianos, e foram as mais calorosas, e a outra foi provocada pelo meu amistosíssimo vizinho de trás com o seu igualmente amistosíssimo vizinho do lado (acho que ele tava dormindo com o pezão pra fora e bateu no cara). Ao pousarmos em Lisboa, os italianos que protagonizaram a segunda discussão começaram a brigar de novo. Eles tinham sido orientados a não brigarem até chegar em Lisboa, e de fato foi só o avião parar para recomeçar a confusão.

A primeira visão que tive do aeroporto foram colinas com turbinas eólicas.



LISBOA:
Treze horas de espera em Lisboa. Era necessário preencher o tempo de alguma forma. Após passar pelos procedimentos de imigração, que foram muito mais rápidos do que eu esperava, fomos ao banheiro pois estávamos a cara da derrota, com sono e amarrotados. Ainda tentei procurar uma farmácia ou coisa do tipo para comprar um desodorante roll-on, mas só achei por no mínimo 10€ e pagar 30 reais num desodorante é osso. Fora do banheiro aconteceu um episódio inusitado, para dizer o mínimo: uma mulher levando uma cadela gigantesca dentro do aeroporto! Nós a paramos para tirar foto e ela disse que era uma cadela de competição da raça cauda serra de estrela, ou algo do tipo. Vimos mais pessoas andando com cachorros no aeroporto em outras ocasiões.. Em seguida, pegamos um autocarro para o Oceanário de Lisboa (http://www.oceanario.pt/). Antes passamos pelo shopping Vasco da Gama para almoçar(junkfood no Burger King, tava barato). O oceanário é fantástico e valeu cada um dos 11 euros que eu investi no ingresso, olhem fotos na internet e entenderão por quê.

Embarcamos para Lyon no pôr-do-sol (às oito e meia da noite!!!). O avião era um verdadeiro pau-de-arara se comparado com o primeiro. Estava lotado de franceses, até alguns que vieram de fortaleza conosco.



LYON:
O vôo foi curto e não deu para dormir muito, chegamos pouco depois da meia noite. Me despedi da Thiane e fiquei perambulando pelo aeroporto. Eu havia trocado a camisa por uma camisa do Brasil, mas quando vi como o aeroporto estava deserto temi que pudesse chamar atenção demais e voltei atrás. Nada no aeroporto funcionava, todas as lojas estavam fechadas. Tentei comprar comida em máquinas automáticas e não consegui. Cheguei a beber água da torneira por causa da sede grande.

Eu devia esperar até as 6h47 para pegar um trem. No entanto, minhas passagens já estavam compradas e precisavam ser impressas em um terminal de auto-atendimento. Esses terminais não existiam no aeroporto, apenas na estação de trem. Mas até descobri isso eu enchi o saco das poucas pessoas que encontrei acordadas e trabalhando por lá. Uma senhora do serviço de informações da empresa de estacionamento me ajudou demais com informações e sou extremamente grato a ela, eu cheguei a dizer a ela depois que foi Deus quem colocou ela ali, pois eu cheguei a um estado grande de desespero mais pro fim da noite (vocês vão entender daqui a pouco) e a procurei outras vezes. Os dois prédios são integrados por uma passarela de cerca de 500 m de comprimento.

Eu achei o aeroporto deserto e assustador porque não havia uma única loja aberta e as poucas pessoas que lá havia estavam dormindo nos bancos. Quando fui à estação eu achei o aeroporto um paraíso. A estação é um prédio extremamente comprido, com uma arquitetura que não deixa nada a dever a uma construção de Gotham City, e estava completamente escura. Não havia uma única alma lá, à exceção de um mendigo que vi uma vez dormindo no banco. Raramente passavam pessoas lá e quando passavam confesso que eu mais me aterrorizava do que me acalmava. As portas da estação ficavam abertas para a rua e qualquer um poderia entrar. Tentei mexer nas máquinas, mas elas travavam. Não consegui retirar os tíquetes, apesar das várias tentativas. Fui tomado de pânico, comecei a suar e decidir trocar de roupa no banheiro, tomar um "banho" e me acalmar. Coloquei de novo a camisa do Brasil, desta vez na esparança de ser notado por algum brasileiro que eventualmente passasse por ali e ser ajudado. Depois de algumas horas tentando me acalmar resolvendo palavras cruzadas eu fiz outra tentativa de consegui.




LYON-PARIS/PARIS-NANTES
Pela manhã eu notei que minha mala havia quebrado, provavelmente nas andanças pela estação escura, e a envolvi em um plástico para evitar que a coisa piorasse. Comi batatas fritas que comprei em uma máquina de auto-atendimento e segui para a plataforma. Poucos minutos depois de ter-me sentado três sujeitos de cabeça raspada chegaram. Eu notei que eles olhavam pra mim (por causa da camisa do Brasil) e faziam piadas. Meu senso de perigo me alertou para a possibilidade de serem Skinheads. Passei a ignorá-los, mantendo o olhar fixo no trem, enquanto que um deles me encarava constantemente. Quano o trem chegou tivemos dois minutos para embarcar. Não havia mais lugar para pôr a minha mala nas prateleiras sobre o meu assento e coloquei um pouco mais longe. Minhas tentativas de levantá-la provocaram risos nos presentes. No meu assento havia já uma moça sentada e ela fez menção de sair para que eu me sentasse, mas eu disse que não tinha problema. Ela puxou conversa (por causa da camisa do Brasil), disse que tinha amigos brasileiros, descobri que ela era marroquina e fomos conversando até Paris.

Em Paris eu tomei um taxi para trocar de estação, foi mais barato do que eu esperava. Comi dois croissants e um copo de café espresso (delícia). Em seguida embarquei no trem. Minha mala além de rachada também, percebi eu naquele instante, ficou com a alça telescópica emperrada na posição superior e eu não conseguia baixá-la. Eu a acomodei desse jeito mesmo no compartimento de bagagens, fui para o meu assento, peguei a máquina para tirar muitas e muitas fotos da paisagem e.... Dormi!
Frustrante? Eu sei. Mas a essa altura do campeonato a estafa me atingiu com tudo. Guardei a câmera quando acordei e passei o resto da viagem acordado olhando a paisagem. Eu era como uma câmera sem filme: fotografava, mas não registrava. Não tinha nem forças para procurar algo interessante para fotografar.



NANTES:
Ao chegar em Nantes a mala quebrou de vez. A alça telescópica neste momento repousa no fundo de uma lixeira na plataforma da estação. Saí, fui à parada de bonde e comprei um bilhete. Como não tinha trocado, a máquina não me deu troco (ela pergunta se você quer pagar o excesso), estava tão cansado que nem liguei em ter dado 50 cêntimos a mais. Nantes é uma cidade muito simpática, nem pequena, nem grande, com um sistema de transporte público assustadoramente eficiente e bem-cuidado. Tomei o bonde. A caminhada até a casa dos brasileiros foi longa por causa do peso que eu levava, os franceses olhavam pra mim com curiosidade porque o ruído da mala sendo arrastada na calçada era muito alto.

Cheguei na casa do pessoal muito cansado. Estava resolvido a tocar a campanhia e dizer "Bom-dia" em português alto e claro. Assim o fiz e fui saudado com um bom-dia. Fui muito bem acolhido, tomei um banho de verdade, comi, conversei, sentei numa cama enquanto conversava e... Dormi. É, de novo... Sem mais nem menos, apaguei. Quando acordei, arrumei minhas coisas mais ou menos na mala e na mochila e vim para o apartamento de alguns veteranos, que é onde eu vou ficar hospedado durante os primeiros dias. Aqui estou, com sono mais feliz. Neste momento exato momento fazem 59 horas desde a última vez em que dormi de forma decente. Somando todo o tempo que eu dormi durante a viagem de forma parcelada obtive um pouco mais do que quatro horas de descanso, mais as duas horas e meia que eu dormi quando cheguei.Trinta e cinco horas e vinte minutos de viagem depois que parti cheguei ao meu destino, numa cidade que sinto que amei de imediato e que espero que me retribua esse amor à primeira vista. Trago comigo muita saudade de todos.

Abraços e beijos.

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Angelo Modolo


Obs: Demorei 2,5 horas pra escrever este email, é sinal de cansaço.
Obs 2: Tem muitas pessoas que eu gostaria que recebessem este email, mas não tinha seus endereços na minha conta do gmail. Se vocês souberem de mais alguém que queria notícias minhas, por favor reenviem o email.