Pouce d'Or Parte 4

12) Contra todas as probabilidades
Chegamos numa estação de serviço a oeste de Paris e nada surpreendentemente fizemos isso entrando por uma contramão. Estacionamos na loja de conveniência e descemos. Um carro acabava de chegar. Eu preciso contar o resto? O título dessa seção não lhe sugere algo? Você não acredita? Pois é, eu até agora não acredito também. O Tobias e a Anaëlle desceram do carro. Espanto, surpresa, um abraço apertado e todos expressaram a intenção de transformar nosso grupo no único quarteto do Pouce d'Or. Nos despedimos dos dois malucos de Paris após eles nos mostraram orgulhosos o motor V6 responsável pela nossa aventura nas periferias da cidade.

No posto não paravam de chegar carros do oeste. Eu e o Loïc conseguimos sem muita dificuldade uma carona num motor-home que iria para Nantes em meia-hora, mas não havia espaço pros outros dois. Voltamos e explicamos a situação. Decidimos ajudá-los a procurar uma carona. Terminamos por encontrar um motorista que poderia levá-los. Mas algo estava errado, tínhamos nos encontrado pela terceira vez ao acaso e essa então tinha sido a mais surpreendente: a última vez que nos víramos foi ainda na Alemanha. Explicamos a situação para o homem. Ele pareceu se divertir muito com toda a história e aceitou nos levar todos para Nantes. Partimos às 21:45

Ele era o diretor financeiro de uma divisão de um grande grupo industrial francês. A sua história era de um legítimo self-made man. Chegou ao seu emprego atual sem diploma universitário, apenas galgando as posições dentro da empresa, que ele definiu como uma empresa que procura competência e não está nem aí para diploma. Perguntamos, como de praxe, se não o incomodávamos. Ele afirmou alegremente que ele gostava que estivéssemos com ele, pois, do contrário, ele sentiria sono, pararia para dormir e chegaria ainda mais tarde. Nossas histórias o mantinham acordado e o fato de chegar mais cedo em casa o agradava.

Terminamos por chegar em casa muito mais cedo do que esperávamos, às 00:20. Tempo suficiente para colocar um pouco do sono em dia. Tiramos a derradeira foto da nossa viagem, já com a residência ao fundo e à esquerda.




13) A Escola desperta ao fim da aventura
Acordei mais cedo pela manhã, para chegar no Bureau de Estudantes antes das oito e comprovar nossa presença. O assuntos das conversas pela manhã era a competição. A histórias, os destinos, todos os assuntos relacionados ferfilhavam nas conversas nos corredores. Acontecimentos inusitados e situações inacreditáveis eram contadas e passavam de boca a boca durante todo dia. Àqueles que conseguiram uma boa distância, aos que ultrapassaram os 1000 km, tapinhas nas costas e felicitações. Havia também as histórias de fracasso, que nem por isso eram menos interessantes que as histórias de sucesso. Alguns eram vistos como heróis, outros como malucos, outros como fracassados, outros como desocupados. Ao longo do dia recebíamos informações das equipes que ainda não tinham voltado. Os loucos da Polônia estavam ainda na Alemanha ao meio-dia e um deles perdera sua carteira.

O resultado saiu pela tarde. Os campeões da sétima edição eram uma dupla de alunos do segundo ano que conseguiram chegar a Lisboa. Em segundo lugar, um empate entre duas duplas: 1211 km até Munique. Nós, o quarteto oficioso que percorreu mais de 1000 Km juntos. Sensação maravilhosa de conseguir um resultado bom, ainda que não tenhamos sidos os vencedores. Conseguimos uma honrosa sexta colocação no Top 25 da história da competição.

Atualizações do front: a história de Lisboa era uma mentira. O presunto (4,62 kg na verdade) é nosso e já tá na geladeira!

Eis o link (em francês) com os resultados.


14) Anedotas de outras equipes
Como você pode ver, meu caro e exausto leitor, eu passei por uma aventura e tanto. Provavelmente a maior da minha vida. Não é ousado demais afirmar que outras equipes passaram por muitas situações tão engraçadas quanto e eu me furto a citar algumas delas.


O método Tanguy
Tanguy (pronuncia-se Tanguí) é o cara que foi eleito Mister Bus no meu ônibus. Ele bolou um método muito interessante para tentar conseguir caronas. Como eu disse antes, muitas pessoas têm medo de dar carona, pois temem que os caroneiros sejam mal intencionados. Foi por isso que o Tanguy fez o seguinte artifício:
Uma carinha sorridente e um cartaz que diz "nós somos gentis". Apesar disso, nós sabemos que existem muitos motoristas que não dão caronas porque são uns tremendos de uns babacas. O método Tanguy também prevê esses casos:
Ele me confessou que em um determinado momento um carro buzinou ao longe e reduziu a velocidade ao se aproximar. Ele jurava que ia receber uma carona. No entanto, o motorista continou em marcha lenta e passou por eles com o dedo médio em riste (o jeito bonito de dizer que o cara tava dando cotoco). Acredito que a plaquinha tenha sido muito bem usada.


Caronas com romenos
Foram motoristas romenos que possibilitaram o recorde do ano passado, e que continua invicto depois desta edição. Não é de surpreender que muitas pessoas quisessem pegar carona com romenos, embora isso seja o tipo de coisa que o acaso escolhe, não nós.

E de fato algumas equipes conseguiram, mas a coisa não funcionou tão bem como no ano passado. Uma equipe entrou num carro onde havia uma pistola no banco de trás. É o tipo de carro onde alguém prudente não entraria.

Outra equipe conseguiu carona com um comboio de romenos, com cinco carros de luxo que iam de Cadillac a Mercedez-Benz. O motorista deles, um rapaz de apenas dezenove anos, disse que elas haviam acabado de comprar os carros. Durante toda a viagem ele se comunicou com os outros motoristas com o celular e com sinais de luz. Um pouco suspeito, não acha?


O troféu échec
Échec significa fracasso. Esse prêmio é quase tão valioso quanto o prêmio ao vencedor. Uma bela história de fracasso é difícil de conseguir. Aquele fracasso retumbante, pungente, que não deixa dúvidas de quem foram os maiores perdedores. E se os caras tiverem espírito esportivo, eles vão saber se divertir com o fato.

Uma equipe em particular estava bastante cotada para o troféu. Eles conseguiram a primeira carona às 13:30 e eu gostaria de lembrar que a partida foi dada às 09:00. Descrentes da sua viagem, eles decidiram apenas dar a volta em Nantes, passando por todos os entroncamentos do anel viário da cidade. Voltaram no fim do dia. Échec total.

No entanto, uma outra equipe entrou no páreo com sérias chances de ganhar. Lembra-se dos caras da Polônia? Pois é. Após pegar carona com um gay que os assediou, andarem a 220 km/h (em média) em outra ocasião, andar num caminhão de vacas e chegar com 24 horas de atraso eles se tornaram os mais fortes concorrentes ao troféu.

Infelizmente, um dos integrantes não tem muito espírito esportivo e mandou esta imagem para todos os que cogitam votar neles para o prêmio. O fato suscitou alguns celeumas na lista de emails do grupo e os ânimos se exaltaram um pouco. Mas o fato é que eles foram imprudentes, não previram que a volta era mais difícil e sofreram com as conseguências disso. Que culpa os outros têm? O melhor é relaxar e gozar, aproveitar as boas histórias que eles devem ter para contar também e se divertir junto com os outros. Esse é o espírito do Pouce d'Or, e do qual eu compartilho integralmente: o lugar para onde se vai não importa, o importante é o que se traz de lá.

3 Responses to “Pouce d'Or Parte 4”

flashfs disse...

Pistola no banco de trás? Hehehe.
Um pouco suspeito, é? Huhuhuhu.. poRRa

Lays Tatagiba disse...

cara, isso é o máximo!
se em Marseille não tiver algo do tipo me leva na mala ano que vem?! =)

Antonio disse...

Cara, bolei na aventura!

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