Fim de ano dia 02: Saint Michel e Saint Malo

Dia 2: Carro, estrada, ação! Destino do dia: manhã no Monte Saint-Michel e tarde em Saint Malo. Esta última eu já conhecia e uma das minhas publicações já tem algo a respeito. Então aqui vou me concentrar no Monte Saint-Michel, mas não sem fazer um breve comentário sobre Saint Malo.


O segundo destino mais visitado da França


Sim, senhores, embora vocês pensem em Torre Eiffel, Louvre, gastronomia refinada, vanguarda da moda e homens de masculinidade questionável quando escutam a palavra "França", saibam que existe algo mais. Depois de Paris, Saint-Michel é o destino mais visitado do país. Por lá passam mais de 3 milhões de turistas por ano. Pudera, localizado no norte da França, o monte é um cartão postal dos mais pitorescos. Vejamos por quê.

Panorâmica do monte e da baía

O nosso grupo de viajantes: Flávio, Juliane, Bruna, Vera, Roger e eu

Monte ou ilha?
Ambos. O Mont Saint-Michel está situado na foz do Rio Couesnon, numa região onde a maré alcança inacreditáveis treze metros de amplitude. Originalmente era ligado ao continente por um pequeno istmo, que era alagado todos os dias por causa do fenômeno. A deposição natural de sedimentos aliada a obras de construção de diques e drenagens realizadas nas redondezas mudaram a paisagem local e "aproximaram" o monte à terra.

O monte era isolado da terra todos os dias e a sua dualidade ilha-montanha era bem marcada. Hoje existe um dique que o liga permanentemente à terra e sobre o qual foi construída uma estrada. Contudo, o monte é rodeado completamente por água 53 dias por ano, durante as marés de sizígia (alinhamento do Sol e da Lua), um espetáculo bastante popular.


Bretanha ou Normandia?
Questão interessante. O rio Couesnon, originalmente a leste do monte, marcava a fronteira entre Bretanha e Normandia. Com as várias obras realizadas no local o curso do rio foi desviado para o oeste. Os bretões afirmam que o monte continua bretão, apesar da mudança. E os normandos afirmam que a fronteira já os favorecia antes, pois, segundo eles, o rio nunca marcou exatamente a fronteira correta.

Hoje o monte é possessão normanda, mas é muito fácil encontrar inúmeros cartões postais com sua foto pelas ruas de Saint Malo ou outras cidades bretãs.



A viagem

Hora de acabar com a enrolação e comentar a viagem de fato. Acordamos cedo e pegamos a a estrada. Nosso GPS tinha um alerta sonoro para quando ultrapassássemos o limite de velocidade e escutamo-lo umas poucas vezes no dia anterior. Estávamos seguindo viagem, tranquilamente metade dos passageiros dormindo, Flávio ao volante e eu no banco do lado quando, surpresa, uma vaca muge dentro do carro e acorda todo mundo. O Roger tomara a liberdade de mudar o alerta de velocidade e gravou um mugido que ele mesmo fez. E toda vez que ultrapassávamos o limite a maldita da vaca (ou do Roger) mugia.

Avançamos em auto-estradas por bastante tempo até que começamos a pegar estradas cada vez mais estreitas e sinuosas cortando paisagens campestres. O tempo estava muito bom: com sol e céu limpo. Estávamos então numa dessas paragens bucólicas da campanha francesa quando eu vi o monte rapidamente e ao longe na fresta formada por duas casas. Ainda que tenha sido uma visão rápida, foi bastante marcante, pois o monte afigura-se no horizonte soberbamente e não se parece com nada facilmente descritível. O resto do pessoal achou que eu estivesse mentindo, pois ninguém mais o vira. Entretanto, nós chegamos uma região onde as casas eram mais esparsas e tivemos uma vista direta.

Imaginem um miragem, uma ilusão de ótica ou algo do gênero. Foi mais ou menos essa a sensação que eu tive. Um campo, algumas colinas e lá adiante uma depressão arenosa na qual se eleva um bloco gigante de granito. Talvez só isso já fosse uma visão suficiente para causar impressão, mas ver o tal bloco apinhado de construções, dentre as quais uma abadia cujo pináculo se eleva a uma altura equivalente a do próprio bloco é algo perturbador. Talvez como uma paisagem saída "O Senhor dos Anéis".

Atravessamos o dique que liga o morro ao continente e estacionamos nas encostas. Na entrada da cidadela uma placa alertava àqueles que quisessem se aventurar a fazer um passeio pelas redondezas que a maré subiria às 13:00 e que todos deveriam retornar antes disso.


Subindo, subindo e subindo, descendo e subindo mais um pouco

Entramos na cidadela ao lado de um grupo de três dúzias de japoneses com suas inseparáveis câmeras. Às vezes eu me pergunto se ele enxergam os lugares que visitam com seus próprios olhos ou se sempre através de uma tela de cristal líquido de uma máquna digital ou do visor de uma reflex.

Logo de cara, um grande e íngrime subida por uma viela apinhada de lojinhas de lembrancinhas, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais de apelo marcadamente turístico e que muito pouca relação têm com o passado religioso do local. Em muitas delas, cartões postais brincando com o clima da Normandia, popularmente reputado como chuvoso e desagradável. Há vários museus no local, mas não nos detivemos visto que ainda iríamos para Saint-Malo pela tarde e também porque a prioridade era visitar a abadia.

E após vielas sinuosas e íngremes, escadas, mais escadas e ainda mais escadas chegamos à bilheteria da abadia. Aprendi a lição do dia anterior e entrei de graça com meu passaporte. Explico-me: na maior parte das atrações culturais os estudantes europeus entram de graça mediante apresentação de documento de identidade. O Flávio tem cidadania espanhola e entrou de graças nas torres de La Rochelle, mas ele disse que talvez o nosso passaporte brasileiro com o timbre do título de permanência nos desse os mesmos direitos. Indagamos os funcionários de uma das torres sobre isso e eles confirmaram a história. Então no segundo dia eu não cometi o mesmo erro: levei meu passaporte e gozei dos meus privilégios de estudante residente na Europa. Quando saímos da bilheteria nos deparamos com... escadas!

Subimos já um pouco exaustos e chegamos num pequeno terraço contíguo à nave da abadia, virado para a "frente" do morro, ou seja, o local de onde chegamos, o dique, algo em torno de sul-sudeste. Olhar para baixo por cima da amurada era simplesmente vertiginoso. Pausa para fotos. Entramos na abadia por um acesso lateral e saímos logo em seguida por uma saída pelo fundo da nave, no lugar onde comumente ficam as portas das igrejas. Chegamos em um segundo terraço. Este, porém era muito maior que o outro, virado para o poente, para o leito do rio Couesnon. Vista muito bonita e um vento fustigante que chegou até mesmo a "aprisionar" algumas aves em um vôo estático sobre as nossas cabeças. Pausa para fotos de novo.

Retornamos à abadia, onde tiramos algumas fotos e apreciamos a beleza do lugar. O interior é austero, feito sobretudo em pedras, sem muitos ornamentos ou vitrais chamativos. O sol de inverno, sempre ao sul, entrava pelas janelas do lado direito formando tênues colunas de luz que terminavam na parede do lado oposto.

O interior da abadia

Seguimos o passeio, saindo por uma porta lateral, defronte à porta pela qual entramos. A partir de então passamos por um labirinto de escadas, corredores, escadas descendentes e ascendentes, átrios repletos de colunatas, calabouços e uma miríade de outros aposentos típicos de uma construção medieval. Me detenho especialmente para descrever um deles: o claustro. Localizado imediatamente ao lado norte da abadia, foi o primeiro local que vimos após sair do templo. Trata-se de um grande átrio retangular com um gramado no centro, rodeado por uma marquise abobadada sustentada por inúmeras finas colunas, formando arcos ogivais. A parte mais perturbadora é um conjunto de três arcos virados para o oeste que se abrem para o vazio, uma grande queda. Os arcos foram abertos para servir de passagem para um novo aposento que seria construído em uma expansão da abadia. O tal aposento nunca foi feito, mas a "porta" continua lá, tampada por uma grossa placa de vidro.

O claustro


O vazio através dos arcos

Terminando a visita

Após o claustro percorremos o labirinto encravado no morro. Mesmo eu, que sou um cara razoavelmente bem orientado, perdi completamente o referencial com tantas subidas e descidas que fizemos dentro das construções.

Menino bonitinho que eu vi quando descia da abadia (foto bônus)

Descemos a pequena ruela e paramos num restaurante para comemorar o aniversário da Bruna e degustar a especialidade gastronômica do local: os omelettes "de Mère Poulard". Paguei 18 euros morrendo de pena, mas vá lá... É uma especialidade do local. Por que não? E qual não foi a minha decepção ao meter o garfo no omelete e ver ele colapsando em uma espuma amarela... Sim, só o exterior dele era sólido e foi a parte que eu, de fato, comi. O resto eu tomei feito uma sopa. Foi extrememante frustrante.

Da janela nós víamos a água avançando perto das encostas do monte, o que suscitou algumas preocupações sobre a segurança do carro. Saímos do restaurante e descemos a viela comprando nossas lembrancinhas. Eu continuei a tradição e comprei um distintivo de Saint-Michel.

Embarcamos e rumamos para Saint Malo. Um pequeno problema se fez notar assim que saímos: o GPS não funcionava mais, por mais que insistíssemos ou nos movêssemos. Navegamos com a ajuda dos iPhones do Roger e do Flávio.

Em Saint Malo praticamente repetimos a visita que fizeramos antes: a volta sobre as muralhas e um passeio pelo pitoresco intra-muros. Uma diferença, no entanto: a maré estava alta e foi bem interessante comparar as diferenças na paisagem em relação à outra vez em que estive lá. Não me detenho muito na segunda parte da viagem, pois fizemos basicamente (e até um pouco menos) o que está descrito no post sobre Saint Malo. Algo que vale a pena ser mencionado foi a ida a uma sorveteria bastante reputada que existe na cidade. O Roger recebeu uma recomendação de um dos colocs dele, mas não consiguimos ir na primeira vez. Nesta vez, porém, nos detivemos e valeu a pena. Tomei um sorvete de cassis excelente.


Terceiro dia: Angers




P.S.: Lendo um pouco sobre o Monte Saint-Michel para poder fazer um relato mais rico da viagem eu acabei descobrindo que ele foi usado como inspiração para a cidade de Minas Tirith na versão cinematográfica de "O Senhor dos Anéis".

One response to “Fim de ano dia 02: Saint Michel e Saint Malo”

Lays Tatagiba disse...

posta maaais, poxa!

o orkut você abandonou declaradamente.
no msn não aparece.

se não prestar contas ao blog vou achar que abandonou a école e foi tocar sax pela Europa.
concluirei que não vale a pena e desistirei de ir. ;p

;*

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