Fim de ano dia 01: La Rochelle

Primeira semana de férias melancólica. Minha comida apodrecendo no apartamento de um amigo, que o trancou distraidamente antes de voltar ao Brasil. Uma residência praticamente vazia. Os colegas brasileiros seja no Brasil, seja viajando pela Europa, seja sendo visitados pela mãe ou namorada (ou ambas) aqui em Nantes. Difícil abrir um sorriso. Ainda assim, uma ceia de Natal muito boa e entre pessoas muito boas também.

Depois desse pequeno resumo sobre como começaram minhas férias, segue a descrição dos eventos que marcaram as férias da forma como eu quero que elas terminem. Passado o Natal, iniciamos uma sequência de pequenos passeios de um dia. Os participantes: eu, Roger, Bruna (namorada do Roger), Vera (mãe do Roger), Flávio e Juliane (namorada do Flávio). Alugamos um carro (Opel Zafira) para conhecer algumas cidades da região. O itinerário foi escolhido em função da distância e da previsão metereológica. Primeira parada: La Rochelle.


La Rochelle: um pouco de história

Informação número um: La Rochelle é uma cidade portuária. Dito isso e visto que tal informação não surpreende mais ninguém no tocante às minhas preferências turísticas, sigamos com o histórico da cidade.

Fundada no século X, a cidade desenvolveu uma vocação portuária bastante cedo e a partir do século XII já era um porto importante. O apogeu comercial veio no século XIII, por causa das transações de vinho e sal (um produto importante e caro na Idade Média, vale ressaltar), o que levou a cidade a alcançar o status de porto mais importante da costa atlântica francesa no século XV. Durante o período colonial, a atividade portuária se desenvolveu em função do comércio triangular.

Como entreposto comercial importante, La Rochelle era uma cidade cobiçada e sua possessão oscilou várias vezes entre a França e a Inglaterra. Tavez por conta dessa influência cultural inglesa, os rochelenses aderiram à Reforma Protestante. Infelizmente, isso ia de encontro à política de unificação do rei Louis XIII e do cardeal Richelieu. As tropas reais sitiaram a cidade em 1627. O cerco só terminaria treze meses depois, após a morte por inanição de um quinto da população.

Uma última curiosidade: La Rochelle foi a última cidade francesa a ser desocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. E, contrariando o histórico trágico, sem grandes danos.


O passeio

Comecei acordando cedo, o que quebrou o meu ciclo agradável, mas pouco saudável, de dormir de madrugada e acordar às duas da tarde. Fomos buscar o carro na locadora e todo o processo de averiguar o carro e retirar o gelo do parabrisa nos tomou um tempo razoável. Saímos finalmente por volta de 9:00 da manhã.

A primeira parada na cidade foi no Escritório de Turismo, que por razões obscuras eu insisto em chamar de "Office d'Imigration". Banheiro, informações e um mapa, era do que precisávamos (nessa ordem). O escritório é bem próximo do centro turístico da cidade e não foi preciso andar muito para conhecer as principais atrações.

O lugar é uma pequena enseada, ladeada por um cais em toda a sua extensão. No fundo da enseada, um esbelto farol de aterragem. Ainda no fundo, mas uns setecentos metros mais distante fica La Grosse Horloge (O Grande Relógio), uma porta encimada pelo relógio que lhe batiza e que separa o porto do centro da cidade. Aproximadamente entre os dois, a catedral.

Na entrada da baía vê-se as construções que são a marca registrada da cidade: as torres. Elas são três: Tour Saint Nicolas, Tour de la Chaîne e Tour de la Lanterne. As duas primeiras guarnecem a estreita entrada da baía e tinham função majoritariamente de defesa e vigilância. A terceira, afastada do canal de uns quinhentos metros, era usada anteriormente como um farol, fato responsável pelo seu nome.

Panorâmica do porto


Nosso passeio começou pela Tour Saint Nicolas. Nela vivia o capitão do porto e sua família, de onde era possível ter uma vista privilegiada e estratégica da região. Nela era fixa uma grossa corrente que protegia a entrada do porto durante a noite, evitando a invasão de navios de calados mais consideráveis. Escadarias longas, íngremes e perigosamente desgastadas pelo tempo foram nossa companhia constante. Já no topo, aproveitei para tirar N fotos panorâmicas com a minha máquina, recurso que passei a usar recentemente e pelo qual estou viciado. Tivemos que sair da torre em virtude da pausa para o almoço.

Tour Saint Nicolas


Uma baguete acompanhada de uma boa garrafa de vinho bom e barato, mas não vagabundo do tipo "sangue de boi" e partimos para a segunda torre. Eu e o Flávio partimos um bocadinho altos para a segunda visita: Tour de la Chaîne.

Chaîne em francês significa corrente. Isso se deve ao fato de que todas as noites a ponta livre da corrente que guarnercia o porto era presa nesta torre. Desde 2008 uma exposição permanente sobre a colonização francesa na América do Norte é mantida na torre. Mais escadarias intermináveis com degraus gastos e chegamos ao topo, onde eu e o Flávio corremos circulando o núcleo da torre e cantando "un tour, chocho". Muitas fotos e muitos degraus depois fomos visitar a terceira torre.
Tour de la Chaîne


Tour de la Lanterne, a mais alta das três. Nada de realmente memorável no seu interior, apenas os rabiscos que os prisioneiros fizeram na época em que ela era usada como cárcere. As escadarias não pareciam ter fim, mas a subida compensou. Chegamos no topo, numa pequena plataforma que circunda o telhado pontiagudo da torre e que é capaz de deixar qualquer um acrofóbico por causa de sua largura diminuta.

Tour de la Lanterne



A volta (é, já...)

Essa maratona em degraus nos custou bastante tempo e ao fim da visita da terceira torre, nós praticamente só fizemos parar para comprar postais, comer e voltar para o carro. Dei continuidade a uma hábito que já virou tradição: comprar um distintivo de cada cidade por onde passo para costurar na minha mochila, que já estou começando a chamar de "minha testemunha".

Na caminhada até o estacionamento, uma pausa para um pôr-do-sol estonteante. Nem sei se era tão estonteante assim. Então analisemos friamente a situação. Primeiramente, a paisagem era muito bonita e o sol se punha entre as duas torres formando um alinhamento para lá de interessante. Por fim, e mais importante, faz meses que eu não vejo o sol direito, então o simples fato de ele dar as caras e eu sair do clima deterministicamente nublado da Bretanha já é bastante coisa. Conclusão: estonteante sim e fim de papo.

Voltei dirigindo, pena que as luzes dos faróis vindo na direção oposta me deixaram com dor de cabeça depois de um tempo.

Dia seguinte: Mont Saint-Michel e Saint-Malo.


P.S.: Um dia desses, depois de publicar este texto eu descobri que a competição Red Bull Cliff Diving (salto ornamental de grandes alturas) de 2009 teve como etapa inicial La Rochelle. Os atletas saltaram da Tour Saint Nicolas, de uma altura de 26 m. Vale a pena ver o vídeo.



2 Responses to “Fim de ano dia 01: La Rochelle”

Fred Becco disse...

Primo, vc está sendo uma espécie de um diário de bordo de um "Fred keria ter coragem e grana para sair visitando a europa"... hehehhee. Tou gostando muito! Obrigado, de certa forma, por compartilhar suas experiencias conosco. abração

Lays Tatagiba disse...

te deixei um scrap. logo, visite o orkut. ;)

;*

e QUERO SABER DE PARIIIIS! =DDD

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