Email que enviei aos amigos e parentes quando da minha chegada em nantes

Galera, aviso logo que vai ser um email muuuuuuuuuuuuuuuito longo. Não precisa ler tudo, estou mandando para dar notícias minhas para vocês. A parte mais importante do email é essa: cheguei e estou bem, não tive grandes problemas na viagem. Mas os detalhes vêm à seguir e podem ser interessantes. =P

Os detalhes incluem:
- Brigas, intrigas e bate-boca;
- Cachorros em aeroportos;
- Desodorantes de 10€ (por isso que esse povo fede!!!);
- Uma estação de trem mal-assombrada;
- Um pouco de drama, vai...;
- Skinheads (agora vocês estão se interessando);
- Sono, cansaço, mais sono e pitadas de estafa.



FORTALEZA-LISBOA:
Depois do bota-fora eu e a Thiane (École Centrale de Lyon) entramos no saguão de embarque. O embarque atrasou uns 20 minutos. Já no saguão a gente se sentiu numa torre de Babel. Italiano, português, francês, alemão e idiomas do leste europeu. O avião era padrão, cada poltrona era equipada com um monitor individual, fones de ouvido e cada passageiro tinha à sua disposição 16 canais de vídeo e 12 de áudio. Dos canais de vídeo valem destacar três: o primeiro era um informativo de características do vôo, altitude, velocidade, temperatura externa, posição, tempo estimado de chegada e horários variados, o segundo era uma câmera posicionada no bico do avião, voltada pra frente para que os passageiros acompanhassem os movimentos do avião segundo a ótica do piloto, a terceira era a imagem de uma câmera posicionada na fuselagem, virada pra baixo. Foi legal para ver Lisboa do alto.

Eu esperava dormir nesse vôo e tomei dois comprimidos de dramin para garantir que conseguiria, mas havia um mal-educado alemão ou de algum país do leste europeu ocupando os dois assentos de trás e ele me impedia de reclinar o meu assento empurrando com o pé. Pedi educadamente, ele acedeu, mas logo depois continuou empurrando e às vezes chutando. Para desopilar assisti a um filme (17again) e ouvi música (Radio Africa... só baticum!).

Depois do incidente com o sujeito do banco de trás, eu comecei a refletir. Será que nós somos tão mal-educados quanto dizem que somos (ou quanto achamos que somos)? Houve três incidentes no avião, bate-bocas, que só foram resolvidos, e ainda assim um deles parcialmente, com a intervenção dos comissários. Das confusões, duas foram entre italianos, e foram as mais calorosas, e a outra foi provocada pelo meu amistosíssimo vizinho de trás com o seu igualmente amistosíssimo vizinho do lado (acho que ele tava dormindo com o pezão pra fora e bateu no cara). Ao pousarmos em Lisboa, os italianos que protagonizaram a segunda discussão começaram a brigar de novo. Eles tinham sido orientados a não brigarem até chegar em Lisboa, e de fato foi só o avião parar para recomeçar a confusão.

A primeira visão que tive do aeroporto foram colinas com turbinas eólicas.



LISBOA:
Treze horas de espera em Lisboa. Era necessário preencher o tempo de alguma forma. Após passar pelos procedimentos de imigração, que foram muito mais rápidos do que eu esperava, fomos ao banheiro pois estávamos a cara da derrota, com sono e amarrotados. Ainda tentei procurar uma farmácia ou coisa do tipo para comprar um desodorante roll-on, mas só achei por no mínimo 10€ e pagar 30 reais num desodorante é osso. Fora do banheiro aconteceu um episódio inusitado, para dizer o mínimo: uma mulher levando uma cadela gigantesca dentro do aeroporto! Nós a paramos para tirar foto e ela disse que era uma cadela de competição da raça cauda serra de estrela, ou algo do tipo. Vimos mais pessoas andando com cachorros no aeroporto em outras ocasiões.. Em seguida, pegamos um autocarro para o Oceanário de Lisboa (http://www.oceanario.pt/). Antes passamos pelo shopping Vasco da Gama para almoçar(junkfood no Burger King, tava barato). O oceanário é fantástico e valeu cada um dos 11 euros que eu investi no ingresso, olhem fotos na internet e entenderão por quê.

Embarcamos para Lyon no pôr-do-sol (às oito e meia da noite!!!). O avião era um verdadeiro pau-de-arara se comparado com o primeiro. Estava lotado de franceses, até alguns que vieram de fortaleza conosco.



LYON:
O vôo foi curto e não deu para dormir muito, chegamos pouco depois da meia noite. Me despedi da Thiane e fiquei perambulando pelo aeroporto. Eu havia trocado a camisa por uma camisa do Brasil, mas quando vi como o aeroporto estava deserto temi que pudesse chamar atenção demais e voltei atrás. Nada no aeroporto funcionava, todas as lojas estavam fechadas. Tentei comprar comida em máquinas automáticas e não consegui. Cheguei a beber água da torneira por causa da sede grande.

Eu devia esperar até as 6h47 para pegar um trem. No entanto, minhas passagens já estavam compradas e precisavam ser impressas em um terminal de auto-atendimento. Esses terminais não existiam no aeroporto, apenas na estação de trem. Mas até descobri isso eu enchi o saco das poucas pessoas que encontrei acordadas e trabalhando por lá. Uma senhora do serviço de informações da empresa de estacionamento me ajudou demais com informações e sou extremamente grato a ela, eu cheguei a dizer a ela depois que foi Deus quem colocou ela ali, pois eu cheguei a um estado grande de desespero mais pro fim da noite (vocês vão entender daqui a pouco) e a procurei outras vezes. Os dois prédios são integrados por uma passarela de cerca de 500 m de comprimento.

Eu achei o aeroporto deserto e assustador porque não havia uma única loja aberta e as poucas pessoas que lá havia estavam dormindo nos bancos. Quando fui à estação eu achei o aeroporto um paraíso. A estação é um prédio extremamente comprido, com uma arquitetura que não deixa nada a dever a uma construção de Gotham City, e estava completamente escura. Não havia uma única alma lá, à exceção de um mendigo que vi uma vez dormindo no banco. Raramente passavam pessoas lá e quando passavam confesso que eu mais me aterrorizava do que me acalmava. As portas da estação ficavam abertas para a rua e qualquer um poderia entrar. Tentei mexer nas máquinas, mas elas travavam. Não consegui retirar os tíquetes, apesar das várias tentativas. Fui tomado de pânico, comecei a suar e decidir trocar de roupa no banheiro, tomar um "banho" e me acalmar. Coloquei de novo a camisa do Brasil, desta vez na esparança de ser notado por algum brasileiro que eventualmente passasse por ali e ser ajudado. Depois de algumas horas tentando me acalmar resolvendo palavras cruzadas eu fiz outra tentativa de consegui.




LYON-PARIS/PARIS-NANTES
Pela manhã eu notei que minha mala havia quebrado, provavelmente nas andanças pela estação escura, e a envolvi em um plástico para evitar que a coisa piorasse. Comi batatas fritas que comprei em uma máquina de auto-atendimento e segui para a plataforma. Poucos minutos depois de ter-me sentado três sujeitos de cabeça raspada chegaram. Eu notei que eles olhavam pra mim (por causa da camisa do Brasil) e faziam piadas. Meu senso de perigo me alertou para a possibilidade de serem Skinheads. Passei a ignorá-los, mantendo o olhar fixo no trem, enquanto que um deles me encarava constantemente. Quano o trem chegou tivemos dois minutos para embarcar. Não havia mais lugar para pôr a minha mala nas prateleiras sobre o meu assento e coloquei um pouco mais longe. Minhas tentativas de levantá-la provocaram risos nos presentes. No meu assento havia já uma moça sentada e ela fez menção de sair para que eu me sentasse, mas eu disse que não tinha problema. Ela puxou conversa (por causa da camisa do Brasil), disse que tinha amigos brasileiros, descobri que ela era marroquina e fomos conversando até Paris.

Em Paris eu tomei um taxi para trocar de estação, foi mais barato do que eu esperava. Comi dois croissants e um copo de café espresso (delícia). Em seguida embarquei no trem. Minha mala além de rachada também, percebi eu naquele instante, ficou com a alça telescópica emperrada na posição superior e eu não conseguia baixá-la. Eu a acomodei desse jeito mesmo no compartimento de bagagens, fui para o meu assento, peguei a máquina para tirar muitas e muitas fotos da paisagem e.... Dormi!
Frustrante? Eu sei. Mas a essa altura do campeonato a estafa me atingiu com tudo. Guardei a câmera quando acordei e passei o resto da viagem acordado olhando a paisagem. Eu era como uma câmera sem filme: fotografava, mas não registrava. Não tinha nem forças para procurar algo interessante para fotografar.



NANTES:
Ao chegar em Nantes a mala quebrou de vez. A alça telescópica neste momento repousa no fundo de uma lixeira na plataforma da estação. Saí, fui à parada de bonde e comprei um bilhete. Como não tinha trocado, a máquina não me deu troco (ela pergunta se você quer pagar o excesso), estava tão cansado que nem liguei em ter dado 50 cêntimos a mais. Nantes é uma cidade muito simpática, nem pequena, nem grande, com um sistema de transporte público assustadoramente eficiente e bem-cuidado. Tomei o bonde. A caminhada até a casa dos brasileiros foi longa por causa do peso que eu levava, os franceses olhavam pra mim com curiosidade porque o ruído da mala sendo arrastada na calçada era muito alto.

Cheguei na casa do pessoal muito cansado. Estava resolvido a tocar a campanhia e dizer "Bom-dia" em português alto e claro. Assim o fiz e fui saudado com um bom-dia. Fui muito bem acolhido, tomei um banho de verdade, comi, conversei, sentei numa cama enquanto conversava e... Dormi. É, de novo... Sem mais nem menos, apaguei. Quando acordei, arrumei minhas coisas mais ou menos na mala e na mochila e vim para o apartamento de alguns veteranos, que é onde eu vou ficar hospedado durante os primeiros dias. Aqui estou, com sono mais feliz. Neste momento exato momento fazem 59 horas desde a última vez em que dormi de forma decente. Somando todo o tempo que eu dormi durante a viagem de forma parcelada obtive um pouco mais do que quatro horas de descanso, mais as duas horas e meia que eu dormi quando cheguei.Trinta e cinco horas e vinte minutos de viagem depois que parti cheguei ao meu destino, numa cidade que sinto que amei de imediato e que espero que me retribua esse amor à primeira vista. Trago comigo muita saudade de todos.

Abraços e beijos.

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Angelo Modolo


Obs: Demorei 2,5 horas pra escrever este email, é sinal de cansaço.
Obs 2: Tem muitas pessoas que eu gostaria que recebessem este email, mas não tinha seus endereços na minha conta do gmail. Se vocês souberem de mais alguém que queria notícias minhas, por favor reenviem o email.

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